quarta-feira, 22 de outubro de 2008

É engraçado quando você lê umas coisas por aí e totalmente se identifica com aquilo. Sempre que eu leio essas coisas que eu chamo de verdades ficcionais eu me sinto reconfortada. Eu também adoro uma metáfora. Verdades ficcionais que produzem sentidos metafóricos. Acho que taí uma coisa que você pode dizer sobre mim. Eu gosto e me identifico com esse textos por aí cheios de verdades ficcionais produzindo sentidos metafóricos.

Depois que eu terminar de fumar eu verificarei as coisas novamente. Mas tenho a leve impressão de que elas permanecerão em seus lugares. A menina que eventualmente achava que era possível voar não tem mais asinhas nos pés. O que eu acho bastante bom, já que asinhas nos pés são coisas pra deus grego. E lugar de deus grego é no olimpo. E o lugar da menina que um dia teve, mas não tem mais por razões ainda desconhecidas, asinhas nos pés não é no olimpo.

Tá vendo? Acabei de inventar essa espécie de metáfora.

Péssima metáfora por sinal.

É. É péssima. Mas é minha.

A tua tentativa de aposto também beira ao ridículo.

Aonde é que existiu uma tentativa de aposto?

Bom, se você não sabe isso. Então você não é ridícula. É burra mesmo.

É. Sou. E daí?

E daí que eu não posso me relacionar com alguém que não consegue nem identificar uma tentativa de aposto.

Então vai embora. Porque qualquer tipo de virtuosismo realmente não me interessa. Só me interessa a didática do afeto. Então, nem tenta me explicar o que é um aposto, porque eu não vou ouvir. Eu já cansei desse tipo de reprovação no teu olhar. E quer saber? Se você se julga um ser tão superior assim, me diz por que diabos as pessoas me amam, mas não amam você?

Talvez porq...

E não vem com esse papo de gênio incompreendido não. Comigo não cola. Sacou?

Posso falar?

Fala.

Eu me escondo atrás da crítica exacerbada porque é a única coisa que eu sei fazer. Agora você não. Você tem essas malditas asinhas no pés. Você pode sair voando a qualquer minuto.

Acho bastante risível essa tua metáfora aí.

Eu sei. Talvez você tenha perdido as asinhas nesse processo longo que a gente tem tido e ousa chamar de relacionamento.

A gente não tem um relacionamento. A gente tem uma sucessão de atos falhos conjuntos. E asinhas nos pés, além de brega, é coisa de deus grego.

E lugar de deus grego é no olimpo e não aqui. Não comigo.

Exatamente.

Lugar de deus, grego ou não, é no imaginário.

Isso é um aposto?

Com o perdão do trocadilho devo dizer que não, isso não é um aposto. Isso é uma aposta. De Descartes. Aposta de Descartes.

Ah, vai empilhar coquinho na descida. Cansei de ser o referencial da tua retórica.

Tecnicamente a minha ret...

Não. Chega! Sem tecnicamentes. Não quero mais. Pega o teu aposto e enfia bem no meio do...

Olha a boca menina!

(se a avó entrasse na sala o diálogo terminaria assim.)
(como não entra avó nenhuma na sala o diálogo termina de outra maneira.)
(mais ou menos assim:)

Não. Chega! Sem tecnicamentes. Não quero mais. Pega o teu aposto e enfia bem no meio do teu cu!

Ok. Mas antes me dá um beijo. Pra viagem.

Tudo bem. Mas só porque talvez você morra atropelada.

(final mais ou menos feliz. feliz porque acaba em beijo. mais ou menos porque, de fato, a protagonista número 2 morre atropelada. e não volta.)