quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

PARA UMA RETROSPECTIVA PROLIXAMENTE PROLIXA SOBRE O AMOR EM 2009

Queria fazer uma retrospectiva 2009, mas não sabia bem por onde começar. Então resolvi fazer uma coisa bem pessoal. Cronologicamente aqui estão as coisas que foram importantes para mim nesse ano que termina. Coisas que não necessariamente foram lançadas em 2009, mas que foram vistas ou re-vistas por mim neste ano que acaba daqui a pouco.

Comecei o ano namorando, não com a mesma garota que termino o ano namorando. Mas vamos por partes. Comecei o ano ouvindo muitíssimo o primeiro cd do Little Joy, apaixonada pelas letras pungentes do Amarante (do Los Hermanos) com o Fabrizio Moretti (dos Strokes) e pelas melodias quase felizes da maioria das canções. Little Joy, afinal, soava para mim como música pra ser feliz, pra ir pra praia, essas coisas. E dividi o Little Joy mais do que completamente com a garota com quem eu namorava e por quem eu era loucamente apaixonada. Portanto o acontecimento pop mais importante do começo do ano - o show do Little Joy em Curitiba - foi extremamente dilacerante, já que a garota em questão acabara de me dar o pé na bunda e já estava namorando um carinha aí que tocava na banda que ia se apresentar depois do LJ. De repente a banda não tinha apenas canções felizes pra ouvir à beira-mar; ao contrário, as canções eram agora deprimentes, tristes ao extremo, como Evaporar, Don´t Watch me Dancing e, especialmente, No One´s Better Sake. o show foi genial, a presneça de Amarante foi inebriante e a Binki Shapiro foi incrivelmente linda. Chorei e entrei no período a que vou me referir daqui para frente como fossa. Das mais terríveis.

Nessa fase qualquer canção do Los Hermanos me fazia chorar e tive que deixar o Little Joy de lado. Bem de lado. Voltei a ouvir as canções mais sombrias possíveis. Ao mesmo tempo consegui achar algum conforto no pop radiofônico da Katy Perry e me identifiquei profundamente com a letra de Hot´n´Cold. Mais que isso, identifiquei minha ex nessa canção. E cantei aos berros o verso "you don´t really wanna stay GO" durante os meses que sucederam o término. A raiva que esta canção maravilhosamente pop me ajudava a liberar foi fundamental para superação da fossa. Com algumas recaídas fui me equilibrando no salto. Equilibrando literalmente porque este período foi marcado por doses homéricas de cerveja e outros bens etílicos. E fui alternando camções pop, como Backfire at the Disco do Wombats com canções tristes e antigas de Billie Holiday e Chet Baker.

No cinema tive muita coisa com que me distrair, afinal o início do ano também é a época do Oscar, então sempre tem uma porção de filmes minimamente decentes em cartaz. E pra tentar dar um mínimo de sossego à minha alma amargurada me enfiei em diversar salas escuras. Às vezes sozinha, às vezes acompanhada. E assim acabei vendo aquele que eu considero o filme mais amargo já feito, Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes e com o mesmo casal protagonista de Titanic: Kate Winslet e Leonardo DiCaprio. O filme é bastante bom, é verdade que um pouco deprimente, mas condizia perfeitamente com a época. O trabalho dos atores é sólido, inclusive do DiCaprio, mas o destaque da coisa toda é a Kate. Ela é simplesmente incrível, transforma o simples ato de fumar um cigarro numa ação carregada de mil significados, todos transmtidos com o corpo inteiro imóvel, a não ser pela mão que leva o cigarro a boca.

Na mesma época, acredito inclusive que foi no mesmo dia, assisti a um dos filmes mais doces do ano. Benjamin Buttons é um filme bacana porque revela um Brad Pitt muito mais maduro, interpretando quase que com perfeição o personagem título nessa retomada da parceria entre ele e o diretor David Fincher (de Seven e Clube da Luta). A estória é uma adaptação de um conto de F. Scott Fitzgerald sobre um homem com uma estranha doença: ele nasce velho e vai rejuvenescendo ao longo dos anos. A narrativa é muito bem construída e Pitt está cercado de excelentes atores que dão densidade ao drama. Esse eu assisti com o meu amigo Luiz Felipe e quase morremos os dois de tanto chorar.

Com esse mesmo amigo também assisti - quase que obrigada por ele - O Lutador. Esse tipo de filme não faz muito o meu estilo, mas eu estava minimamente curiosa por ser um filme do Darren Aronofski e porque toda a crítica andava comentando - pro bem e pro mal - a atuação do Mickey Rourke. Pois bem, lá fui eu. E até que era bom ver uma drama tão absurdo, um personagem tão extremamente looser nesse período da minha vida. E sim, o Felipe tinha razão, o Mickey Rourke é um monstro. O que ele faz em cena não é bolinho, aquilo ali é auto-exposição impiedosa. Vale dizer que a cena em que toca Sweet Child o´Mine do Guns é tão boa, mas tão boa, que por alguns minutos eu parei de odiar a banda.

Algum tempo depois estreou aquele que eu julguei o melhor de todos os filmes da corrida do Oscar 2009. A obra-prima de Gus Van Sant, Milk - A Voz da Liberdade. Eu já estava quase recuperada quando assisti a esse filme e ele me fez chorar do início ao fim. Chorei no comecinho já, na cena em que toca Queen Bitch do Bowie - esta, aliás, uma das canções mais ouvidas por mim em 2009 - e só parei depois dos créditos. A trilha do filme é sensacional e Sean Penn apresenta um personagem primorosamente construído. Ele é Milk, mostrando os níveis mais profundos a que a técnica de um ator pode levar.

Daí pra frente eu já estava naquela fase de cair na balada até de manhã cedo, conhecer pessoas e viver um porre eterno. Nas pistinhas de tudo quanto é bar eu me acabava dançando Gogol Bordelo, Ting Tings, a já mencionada Katy Perry, Cpoacabana Club (que eu acho bem mais ou menos) e outras coisinhas interessantes, porém não muito marcantes. Tava meio sem saco pra modernidade, me deu vontade de ouvir coisas antigas como os primeiros discos do Belle and Sebastian. Também fiquei com preguiça de ir ao cinema e só voltei pra ver uma sessão única do filme Canções de Amor, do Christophe Honoré. Um filme incrível com atuações brilhantes, especialmente de Louis Garrel. O filme é um musical dramático, uma homengaem a Nouvelle Vague, especialmente aos filmes de Godard.

Nesse momento eu já estava bem melhor, bem melhor mesmo, e jurava que estava apaixonada por outra garota. Eu achava que estava e isso até que foi bom. E isso me levou a rever filmes e gravar cd´s com músics antigas, porque a garota por quem eu achava estar apaixonada não entendia nada de cultura pop. E eu tenho essa inclinação à doutrinação.

Eu disse acima que achava estar apaixonada porque hoje eu sei que essa garota, apesar dela ser muito interessante e bacana, foi só um paliativo. Um modo de eu esquecer completamente aquela supracitada ex-namorada. Isso precisava acontecer para que eu conhecesse a garota que hoje é minha namorada sem esse tipo de ranço, de bagagem.

Eu conheci a Camilla num dia 06 de um mês também 06 num desses bares meio insuportáveis de gente moderninha. Eu estava entediadíssima - às vezes essa músicas pop para pistinhas de dança me deixam entediada - e acabei conhecendo um menino que ela acabara de conhecer. E assim ele nos apresentou, embora não conhecesse propriamente nenhuma das duas. Eu acabei conversando muito mais com amiga dela. É necesssário dizer que ela - a Camilla - nunca me deu muita bola. Eu já a havia visto na PUC e tentei algum tipo de contato visual, um sorrisinho inocente... e nada. Ela nem me notou. Mas nesse dia ela meio que foi obrigada a me notar. E também eu estava com a minha indefectível camisa do Fluminense - que em 2009 me deu o imenso prazer de não ser rabaixado - e isso atrai algum tipo de atenção, ainda que mínima. A gente conversou até às seis da manhã e nos dias que se seguiram eu a encontrei no orkut e adicionei e puxei conversa. Virtualmente pelo menos ela parecia mais interessada.

Eu a convidei para ir ao cinema comigo no feriado de Corpus Christi assistir ao excelente filme francês ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Entre os Muros da Escola. Apesar de ter dito que cinema parecia uma boa e que fazia muito tempo que ela não ia... Camilla não apareceu. Depois me mandou uma mensagem dizendo que havia dormido, por isso não tinha ido me encontrar e perguntava o que eu ia fazer na sexta. Sexta, depois do feriado, dia 12 do mês 06. Junho, saca? Então lá fomos nós nos encontrar pela segunda vez (na verdade terceira vez, mas ela não sabia) no dia dos namorados, véspera do dia de Santo Antônio. Dessa vez eu fui bem mais ardilosinha.

Eu descobri, meio que por acaso fuçando no orkut, que ela era fã do Caio Fernando Abreu. Coincidentemente eu havia começado a ensaiar uma peça baseada nos textos dele. E lendo a obra entendi o que aquele Sem Ana, Blues queria dizer no perfil dela. E usei disso. Confesso. Eu sou extremamente timidinha. Logo, não fui sozinha encontra-la no bar, carreguei meu amigo junto. E não conseguia identificar se ela estava interessada ou não, por isso usei essa. Esperei ela ir ao banheiro, dei alguns minutos e quando vi que ela estava voltando comecei a falar desse conto com o meu amigo - outro fã de Caio. De como a estrutura inicial era genial. Sendo a estrutura incial completamente identificável, ela gritou o nome do conto. E assim a gente conseguiu emplacar uma conversa de horas.

Daí pra frente a gente foi se apaixonando e se contaminando de referências pop. Sim, porque a Camilla é esse tipo de gente moderninha antenada às novidades do meio musical que faz listinha das 10 mais no fim do ano. E assim terminou o primeiro semestre de 2009 e começou uma nova fase da minha vida. Eu não estava procurando um relacionamento, mas ela fez com que o Little Joy pudesse ser o tipo de música pra ser feliz, re-significou aquela canção da Katy Perry que eu citei lá no começo e quando a gente ainda nem namorava foi na minha casa cuidar de mim porque eu não estava me sentindo bem. Nesse dia a gente assistiu Um Dia a Casa Cai, porque ela nunca havia visto esse clássico da Sessão da Tarde estrelado pelo Tom Hanks. Assim eu fui me desarmando, até perceber que precisava dela perto de mim. Bem perto. Pra me mandar videozinhos do Hello Saferide e letras de canções do Johnny Cash.

E ela me mostrou a Tiê e Dois virou a nossa música e com certeza está no meu top 10 de 2009. Junto com a Katy Perry e com a Beyonce. Porque ela ria de mim porque eu gostava bastante de All The Single Ladies, mas cantava comigo sempre. E cantava comigo o refrão de Me Adora da Pitty, porque a gente só sabia cantar o refrão. E me mostrou Zero do Yeah Yeah Yeahs e trocou referências sobre Caio Fernando e ajudou muitíssimo na montagem de Chiclete & Som, a peça com textos dele que eu dirigi. E eu a levei ao cinema pra ver três dos filmes que eu mais gostei de ver em 2009. E sei que ela gostou também. Nós vimos Arraste-me Para o Inferno, um terror do meu herói Sam Raimi, Bastardos Inglórios, do Tarantino e simplesmente o melhor filme do ano, que veio reforçando o talento do Brad Pitt e o simpático 500 Dias com Ela, com uma trilha sonora genial.

E agora, com o ano terminando definitivamente ficamos trocando referenciazinhas por e-mail, já que estamos longe. Eu falo de The xx e Norah Jones e ela devolve com uma listinha super cool das 10 mais, na qual estão presente as canções Dois e Hot´n´Cold, e que tem Phoenix e Yeah Yeah Yeahs e Duffy e uma das minhas preferidas, Relator da Scarlett Johansson.

Eu me apaixonei pela Camilla por ela ser esse tipo de pessoa antenadíssima e ligada em cultura pop e por ela fazer listinhas e sempre saber o que tá rolando de novo no mundo e postar coisas no twitter como a música mais tocada da década (que, by the way, foi Chasing Cars do Snow Patrol), mas também por ela ser doce, gentil, honesta, incrivelmente linda - que ninguém é de ferro, né? - inteligente, adorável e, acima de tudo, porque ela se apaixonou por mim também. E no começo disso tudo ela me deixava completamente nervosa e eu sentia que precisava saber mais coisas e ler mais coisas e ouvir mais coisas e ser uma pessoa melhor para impressioná-la. Mas depois eu saquei que ela gostava de quem eu era. Que ela gostava do meu lado extremamente passional. E a gente viajou pra São Paulo numa decisão de última hora pra assistir uma peça do Bob Wilson, uma espécie de herói do teatro contemporâneo. E eu morri de medo e ansiedade, porque queria muitíssimo que ela gostasse, e estava com medo de eu própria não gostar, e ela ficou ansiosa comigo, mas nós amamos Quartett. Foi a melhor coisa que eu vi na vida e pra Camilla foi a segunda melhor, perdeu só pro show da Madonna.

E tudo isso, essa coisa de querer falar sobre cultura pop é só mais uma desculpa pra falar o quanto eu a amo, o quanto ela me faz feliz e eu tenho certeza de que isso é pra sempre.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A tempestade passou... Não. Isso também é mentira.

Dentro de mim circula esse negócio que eu ainda não sei o que é. Como a fumaça do cigarro que carrega mais de quatro mil substâncias tóxicas que a gente nem sabe direito o que são. Interessa é que esse negócio, essa coisa. Ela circula. Talvez porque eu já tenha estado em vários estados diferentes e saiba mais ou menos quando. Quando.

Dentro de mim existem órgãos, veias, sangue. E essa coisa que eu ainda não sei direito o que é. Mais ou menos como as substâncias tóxicas contidas dentro de cada cigarro. Sim. Porque por agora tenho apenas essa impresão. De que "essa coisa que circula dentro de mim e eu ainda não sei bem o que é" é tóxica. Esse quando.

Não. Eu não fui tão maltratada assim. Não. Eu não fui aprisionada em nenhuma masmorra e forçada a tecer. Eu não passei fome. Eu não estive envolvida em nenhum desastre natural - exceto pela grande enchente de 83, em União da Vitória, mas mesmo assim eu estava dentro da barriga da minha mãe. Eu não fui maltratada o suficiente a ponto de desacreditar. Mas esse quando. Ele permanece. E permanece.

Talvez você tenha razão e essa coisa que percorre as minhas veias junto com o meu sangue. Essa coisa tóxica só exista em decorrência desses maltratozinhos bem pequenos. Tão pequenos que poderiam significar. Ou não. Talvez em decorrência daqueles vários outros quandos. Porque quando o quando aparece uma vez. Ou duas. Ou três. Inevitável achar que o quando vai aparecer outra vez. Com o perdão da rima pobre.

Sobre os quandos só se pode dizer que eles servem tanto para o passado quanto para o futuro. Embora quando faça parte do futuro do subjuntivo. Talvez não deste que eu tento escrever agora. Mas gramaticalmente assim é. E assim é que está.

Sobre os ques. Porque sempre além dos quando existem os "que" e os "se". Se está para o passado assim como quando está para o futuro. Que está para o presente assim como se está para o passado. Gramaticalmente assim está, se assim é.

Porque os quando já vieram. E vieram em bando. E por isso eu os espero sempre. Novamente. Uma vez após a outra. Inevitável que se procure um padrão na vida. Inevitável que se procure um padrão para qualquer coisa. Inclusive para o amor. Inevitável, mesmo que este de agora pareça, assim, tão melhor do que o de ontem. Tão melhor do que o da semana passada. Tão melhor do que todos os outros que já encontraram o seu quando. E que por isso não são mais futuro do subjuntivo. Só passado imperfeito mesmo. Como na frase: "eu te amava, sabe?"

Talvez eu tenha realmente sido maltratada demais. Apesar de nunca ter passado fome, nunca ter sido aprisionada em lugar nenhum, nunca ter sido obrigada a nada, nunca ter estado envolvida em um desastre natural. Talvez eu antecipe o quando. Só pra que eu possa ter o quando dessa vez. Ou da próxima. E por que não o padrão?

Porque dessa vez ninguém vai estragar as coisas na metade do caminho. Porque dessa vez apesar de todos os pesares o amor triunfará. Sim, porque dessa vez ele é tão mais bonito. Porque dessa vez o quando trará apenas continuações. Sem game over. O quando será sempre uma espera ansiosa. Quando eu te encontrar eu vou tal coisa. E o "tal coisa" só será substituído por coisas boas. Como margaridas e girassóis.

Então, não importa se você sente qualquer coisa pulsando, circulando, existindo nas suas veias além de sangue. Não importa, porque é só uma impressãozinha. Dessa vez é só uma impressão. E não se pode permitir que impressões destruam o concreto. Benefício da dúvida. Dúvida razoável. Essas coisas. Você já coloca mais de quatro mil substâncias tóxicas para circular aí todos os dias. Essa não. Por favor. Deixe de lado. Seja um pouco menos você. Fica tudo bem se você deixar você de lado. Só um pouquinho. Do contrário é bagagem demais. E daí podem haver quandos. Esses, não tão bons, quandos. Não importa.

Importa. O céu quase se abre...
Não. Isso também é mentira.

sábado, 19 de setembro de 2009

estou te escrevendo de um país distante.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

eu só posto aqui nesse espaço textos de minha autoria. digressões e narrativas sobre coisas reais e absurdas. mas hoje, que é um hoje bastante significativo, abri esta exceção aqui. abri a exceção porque tem esse menino, meu menino, e ele me faz chorar. ele me faz chorar um choro levinho, de alegria e muita saudade. saudade do diariamente, das crises, das conversas longas, dos passeios, dos sucos e das saladas, dos cafés, dos textos lidos em primeira mão, do teatro em conjunto, das teorias absurdas. hoje eu tenho o coração levinho e um pouco apertado dessa saudade. por isso não consigo escrever coisa nenhuma pensando na forma. por isso não consigo escrever. e por não conseguir, e talvez mesmo que conseguisse, preciso mostrar o porquê da saudade e da leveza. o porquê da singeleza. o porquê do meu amor, inesgotável e intransordável e incondicional, por esse menino, meu menino, Luiz Felipe Leprevost. o texto dele diz exatamente assim:

Outro sapo, outro baiacu
ou
Uma pequenina peça de amor revista
.
“Um- Posso pôr meu coração a seus pés.
Dois- Se não sujar meu chão.
Um- Meu coração é limpo.”
(Heiner Müller)
.
É um figurino leve, confortável. Ela parece, muito, vestida de si mesma. Não usa máscara. Não há nada de insano em sua feição, pelo contrário, seu rosto revela uma alegria que chega a ser angelical.
.
Em algum momento do texto, ou durante o texto todo, fica a cargo da atriz, ela deve cantar. É um canto conhecido, cantado sempre por todos a sua volta. Mais se assemelha a uma fala de amor o canto. O canto é assim: A vida a vida a vida a vida a vida a vida a vida a vida a vida a vida a vida a vida a vida, eu aceito isso.
.
tenho um coração
que é pra você
pois se aqui estou
é porque estou viva
e se estou viva
é porque tenho coração
e se tenho coração
ele é uma coisa que pulsa
não um sapo ou um baiacu
um sapo ou um baiacu são
coisas que pulsam
mas eles dois
.
há um sapo e um baiacu em cena
mas eles não são nojentos
são um sapo e um baiacu simpáticos
bonitinhos
de desenho animado
.
não são o coração a que me refiro
então, esse coração
que é esse
.
aponta o próprio peito
.
é um coração que pulsa
sim, pulsa
mas por aqui
a gente gosta de dizer
não que ele pulsa
mas que ele bate
então se bate
bate por quem?
bate por você que tanto venero?
vou dizer que te amo
que te venero
é claro que eu devia fazer isso!
se te venero
deve ser por você que o meu
coração bate
sim, é por você que o meu
coração bate
ele
ele ele ele ele
bate por você
para você e
para me manter viva em você
ele
ele ele ele ele
bate para que eu possa fazer
declarações de veneração
feito essa
na qual você reparou
feito essa pela qual
você foi conquistada
essa que é só pra você
pra você, pra você
que até o momento parece sentir
exatamente o mesmo que
venho sentindo
que sapos
ou baiacus
podem até ser bons signos para
se colocar em cena e
metaforicamente ser
chamados de “meu coração”
mas isso que está aqui
na verdade são os teus pés nus
lavados humildemente nas
águas limpas do meu coração
de verdade

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

e aí quais são seus planos?

eu procuro, além da poesia, bolhas de sabão. procuro canteiros de margarida. procuro uma veia cava. procuro um lugar novo pra chamar de casa. tem uma máquina de lavar aqui perto. e eu vou enchê-la. porque eu sei que você quer assim. eu vou enchê-la de roupas e bolhas e margaridas e penas.

eu procuro uma coreografia para cigarros. que alterne movimentos rápidos e lentos, pesos e medidas. uma coreografia à quatro ou oito mãos.

quando eu te vi, lá daquela primeira vez, eu não soube instantaneamente. não. eu demorei um pouco. eu te vi e te enxerguei. mas não soube. e eu já vinha não te vendo há tanto tempo. foi só mais uma impossibilidade. você vinha não me vendo há tanto tempo. e nesse dia permaneceu assim. sem enxergar. talvez por fome. talvez por frio. talvez por mau humor. talvez por estar longe de casa numa segunda-feira às nove horas da noite. permaneceu sem me ver. talvez ainda por essa miopia ou coisa que o valha que você insiste em dizer que não existe. o fato é que você não me viu. como vinhamos fazendo há bastante tempo.

quando eu te vi, há pouco, nessa segunda vez que quase não houve, eu te enxerguei. e disse olá. e disse como vai. e disse vamos ao cinema. você pensava em outras coisas. em outra garota pouco importante. talvez ela fosse muito importante. pelo menos naquele instante em que você relutou um pouco em me enxergar.

quando eu insisti você aceitou. e me viu e me encontrou e não percebeu. ou percebeu. mas a garota pouco importante ainda era bastante naquele terceiro ou quarto instante. e de novo você relutou. mas eu falava de amor e de cigarros. sem ana, blues. eu bebia cerveja e achava bonitinho você dizer que o seu copo pequeno era copo pra tomar toddy. e eu te ouvi também falar sobre amor blues avenca cigarros. brasas de cigarro. e um pouco depois, já quase no fim daquele terceiro ou quarto instante você deve ter percebido que a garota não era importante o bastante e parou de me ouvir e me olhou. e parou de falar e me olhou. e parou.

sim. eu te chamei pra vir até aqui. eu falei de caio fernando abreu. eu cheguei cada vez mais perto. eu te beijei quando você olhava pra minha boca. eu decretei que você ia pra casa comigo. eu te dei a mão e te trouxe por esse caminho que a gente percorre sempre. eu trepei com você por várias horas até o dia amanhecer. eu dormi de conchinha. sim. talvez eu tenha iniciado todo esse processo que agora a gente chama de namoro. que a agora a gente chama de amor. eu desencadeei.

mas se eu quis tudo isso assim foi porque naquele instante remoto você talvez não tenha conseguido olhar direito por causa da sua miopia e talvez você não conseguisse ver de longe que eu já esperava por você. eu só não sabia como você era nem que horas você ia chegar. e te procurei em outras pernas outras bocas outros sexos. e sem conseguir achar aquilo que eu sabia que haveria de vir. aquilo que eu sabia ser você. aquilo que precisava ser você pra mim. continuei buscando em todos esses outros lugares errados. e passei por bosques escuros e chuvas torrenciais e reinos ainda mais cinzas e mais distantes do que este no qual se passa o nosso conto de fadas. e demorei tanto, todos esses anos, todos esses encontros furtivos. e demorei um lugar muito perto numa peça de teatro. e demorei uma segunda-feira na PUC. e demorei uma sexta-feira no wonka. e demorei noites em bares de gente incrivelmente moderna e chata.

e demorei e demorei. e você não percebeu que embaixo daquela camiseta do fluminense o meu coração batia apertado, perguntando "cadê?". e talvez você também não tenha percebido que. o teu coraçãozinho batia assim: "aqui. aqui." por isso quando eu cheguei em casa eu te liguei. porque pulsava em mim um cadê sem resposta. e de alguma maneira eu sabia, mesmo sem saber, que em você pulsava o sentido da minha pergunta. o sentido da minha afeição. e eu disse apenas boa noite. e havia naquele boa noite uma porção de sentidos ocultos. que só agora eu entendo.

você entende? os planos, vários.

cadê? cadê? cadê? cadê? cadê?
cadê você, porra?
eu estou sempre aqui. você sabe.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Eu percorro distâncias. Eu vou longe. Eu percorro longas distâncias só pra chegar até você.

Eu. Dentro de um táxi. Eu. Dentro de um ônibus. Eu. Parada. Diante de você. Os meus olhos peregrinam na mais sagrada romaria. Olhos com um único foco e objetivo de devoção. A tua boca. Meu olhos peregrinos focam esperando as mais divinas bênçãos. Nesta romaria meus olhos, peregrinos atentos, não tem pressa. E o resto de mim, o que está além dos olhos, sente todas essas pequenas correntes elétricas. Centenas de milhares de correntes elétricas que percorrem todo o meu corpo. Sem necessidade de toques ou palavras. Só desse foco de devoção atenção. Uma corrente elétrica plasmática que percorre todo o meu corpo muito mais rápido que o meu sangue. Muito mais rápido que essa metástase metafórica. Os meus peregrinos não se desconcentram. Esperam apenas. Olham apenas. Talvez tremam. Amam. Em sagrada devoção.

As centenas de milhares de correntes elétricas unem-se numa única. Porque também é único o meu objeto de atenção. Agora não só dos olhos. Mas de todos os órgãos - maiores e menores. A corrente elétrica plasmática que percorre todo o meu corpo em muito menos de oito segundos se intensifica. Afeta. Em oração eu escuto o som da tua respiração. Ainda que não tenha as mãos juntas. Ainda que não tenha juntos os nossos corpos. Em oração eu escuto, não com o ouvido, o som dos elétrons, prótons e nêutrons em movimento. Escuto cada átomo do teu corpo. Cada átomo que, eu sei eu sinto, também me escuta. A eletricidade está presente em tudo. Estática. Mas no meu corpo se fez corrente e percorre. Caminha pelas minhas veias como caminhasse em direção ao abismo. Queda frenética logo mais a frente. Em oração eu aceito. Não tenho medo.

Eu corro. A eletricidade corre. Percorre. Meu olhos, peregrinos imóveis, clamam por você. Focam, desfocadamente, a tua boca. Meus olhos escutam. Meus olhos de ouvidos bem abertos pra ouvir o som dos teus órgãos e da tua pele. O teu coração, dividido em quatro, pulsa na mesma batida do meu abrir e fechar de pálpebras. E eu me pergunto para quê servem as distâncias. Para quê serve a saudade de algo que está aqui. Diante de mim.

Então num movimento brusco os meus olhos são obrigados ao desvio. Eles se desviam, pois peregrinos humildes acham-se pouco dignos de fitar os teus. Desviam-se porque no movimento nos tocamos. Rapidamente nos tocamos e as correntes elétricas viram explosões de bolhas de sabão. Prismas. Brilhantes. Como se fossem produzidas em larga escala por uma máquina de lavar de amor no meio de uma revolução. Pode ser a revolução cubana. Pode ser esta revolução passageira do meu sangue contra mim. Impedindo o raciocínio prático. Não. Uma máquina. É preciso voltar. Ainda não acabou a procissão.

Como se fosse impossível exigir dos teus lábios uma abertura maior que comportasse mais do que uma palavra faço uma pergunta com possibilidade de resposta monossilábica. Você me olha. Imbuídos do mais puro sentimento de fé e devoção meus olhos se permitem repousar nos teus. A espera do sim ou do não. É quando uma espécie de pavor súbito me acomete. Como se você, ao abrir a boca, pudesse me transformar em pedra. E poderia. Como uma Medusa de sentidos trocados, você poderia. Dessa vez meus olhos não se desviam. Esperam. Ainda que apavorados. Esperam sempre. Esperam para sempre. Que esta tua resposta faça permanecer. Esperam a chuva. Uma chuva metafórica de bênçãos infinitas. Esperam pacientemente a chuva. A chuva hiperbólica que vem de dentro. A chuva de dentro do próprio guarda-chuva. Assim seja.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

quando a lua chegar na sétima casa.

o tempo cabe dentro de um relógio.

(entra Ofélia. seu coração é um relógio. entra Ofélia. a mulher das veias cortadas. a mulher com a cabeça no fogão à gás.)

Ontem deixei de me matar.

(entra a atriz que interpreta Ofélia. a atriz que interpreta Ofélia canta. embora todos sempre digam que a atriz que interpreta Ofélia não deveria mais cantar. a atriz que interpreta Ofélia aceita o pacto. faz braços de ballet e anda pela rua XV.)

Dorme minha pequena não vale a pena despertar.

(entra a outra atriz que interpreta Ofélia.)

Aqui quem fala é Elektra.

(entra a outra atriz que interpreta Ofélia. a outra atriz que interpreta Ofélia propõe um alongamento.)

Eu sou Ofélia, aquela que o rio não conservou. Saio para a rua, vestida em meu sangue.

Num tempo, que agora já é tão passado, tudo isso significou tanto mais. Agora apenas isso. Uma obra incompleta de um autor que em breve completa quinze anos de morte. Num tempo tão passado isso tudo significava amor. Hoje não. Hoje não teceremos as bênçãos mais sagradas. Naqueles dias talvez. E Deus, se é que ele existe, hoje chorou uma única lágrima. Hoje resta apenas a burocracia. E vamos em frente. Porque o amor se tornou algo supérfluo.

Dormir, talvez sonhar. O resto é silêncio.

Houve um tempo em que você me amou. Eu te amei o tempo todo.

(a atriz chora. Ofélia permanece muda. estática. pose de ballet.)

Existe, realmente, muito a ser dito. No entanto, o que já existe é tanto mais forte.

(eu peço desculpas na didascália. desculpa?)

o tempo destrói tudo. sim. o tempo destrói. e na ausência de qualquer coisa. não sobra. restam os escombros de uma nova dinamarca. restam os escombros do relógio. escombros e cadáveres e peixes e pedaços de cadáveres. eu plantei um girassol. restam os escombros do relógio. Ofélia, o seu coração é um relógio. o seu coração é tijolo. mas ele bate por você. o meu coração é puro. o rio de janeiro em maio. a revolução cubana. o porquinho da índia. a procura da poesia. um relógio. preso a uma banana de dinamite. um relógio que marca o tempo que falta para um explosão. novo big bang. um relógio, um tijolo, um girassol. um tempo outro. meu coração é um sapo ou um baicau. uma coisa que pulsa. mas por aqui a gente gosta de dizer que ele bate. bate por quem? só você não percebeu. meu coração/bomba-relógio em cena. meu coração/bomba-relógio nas tuas mãos. meu tijolo/coração aos teus pés. me dá um cigarro? me dá uma chance? me concede essa dança e junto com ela todo o teu passado? não. meu coração é um relógio. ponteiros quebrados. marcando sempre a mesma hora. um sapo ou um baiacu. aos meus pés. tijolos e concreto e coisas que erguem cidades e muros de silêncio. meu coração teu. não. nunca mais. meu coração/tijolo/sapo/baiacu/bomba-relógio/relógio parado.

e assim. acaba.

(Ofélia sai de cena. sem sangue. sem vísceras. sem coração.)

piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

meu amor é mais doce que guarda-chuvinha de chocolate.
meu amor é mais doce que chocolate.
meu amor é mais doce que bolo de chocolate.
meu amor é mais doce que bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro.
meu amor é mais doce que brigadeiro.
meu amor é mais doce que o leite condensado que faz o brigadeiro.
meu amor é o mais doce do mundo.
meu amor é o mais doce da história da humanidade.

meu amor é um guarda-chuva.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

cansei do meu nome, da minha casa e de qualquer outra coisa que signifique estabilidade.
cansei de letras maiúsculas.
cansei de letras de música.
cansei.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sorte de hoje: A estrada para o verdadeiro amor sempre tem obstáculos




* desculpa, mas a minha não tem não.
e em toda sua extensão há um canteiro enorme de margaridas. faz sol. mas não tem problema se chover. eu tenho um guarda-chuva.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Eu tenho uma casa feita de átrios. Uma casa feita de dois átrios. Eu tenho uma casa feita de ventrículos. Uma casa feita de dois ventrículos.

Foi assim.
Num dia 12 ou 13 de um mês frio, mas não tanto assim, eu comecei a construir essa que agora é minha casa de quatro compartimentos móveis. Móveis porque pulsam. A minha casa é uma coisa que pulsa. Eu comecei a construir a minha casa assim, meio sem saber no que ia dar. Deu em casa dividida. Em 4. Dois e dois. E a vida passando a valer a pena.

Se contássemos o dia 12 como o dia inicial da construção significava paixão. Se contássemos o dia 13 significava casamento. Decidi, pouco mais de um mês depois, contar os dois. Porque amor é assim. O tempo perde um pouco da sua significância. O espaço também. Tanto que se tornou possível para este lugar que agora chamo de casa ocupar o espaço de dois dias como marco de sua construção. E ocupar todos os espaços da casa interna que eu chamo de coração.

Na minha casa, além desses quatro compartimentos, existe uma janela. Dessa janela eu enxergo o sol se pôr. Esqueço a estética atual e falo sobre o amor. Dessa janela eu vejo a praia. Uma rede. Um café da manhã com morangos silvestres. Dois filhos. Um gato. Quem sabe um labrador. Dessa janela eu enxergo, não com os olhos, o que existe de mais doce no mundo.

Eu tenho uma casa. A casa mais bonita da história da humanidade. Eu tenho uma casa e nela cabem todos os meus sonhos, todas as minhas luas cheias com coelinho, o céu da minha cidade, uma praça com bancos brancos, um canteiro de margaridas.

Eu tenho uma casa. Com dois átrios e dois ventrículos. Com espaço-tempo completamente alterado. Com todos os meus sonhos. Eu tenho uma casa e ela cabe dentro de um guarda-chuva. Eu tenho uma casa invisível a olho nu. Mas ela é minha. E eu não escolheria outro lugar para morar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Mesmo que não dure pra sempre. Mesmo que não passe de um sonho. Mesmo que você me deixe. Mesmo que a gente se magoe. Mesmo que eu não possa dizer sim o tempo todo. Mesmo que eu odeie a distância. Mesmo que você sussurre no meu ouvido as canções mais bonitas. Mesmo que eu te marque inteira. Mesmo que você incendeie a cabana. Mesmo que a gente acorde novidades. Mesmo que eu morra a cada tchau. Mesmo que a gente faça planos.

Mesmo que dure por toda a eternidade. Mesmo que o sonho seja cada vez mais real. Mesmo que a gente nunca troque ofensas. Mesmo que eu jamais diga não. Mesmo que o perto seja imperativo. Mesmo que eu não saiba cantar. Mesmo que tudo esteja calejado. Mesmo que você seja feita de gelo. Mesmo que a gente viva nostalgias. Mesmo que eu renasça a cada olá. Mesmo que o importante seja o presente.

Ainda assim parece pouco pra essa revolução que agora acontece aqui.
Você vê? Como na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos... aqui.

Industrial. Eu quero ser uma máquina.
Não. Sem dor sem pensamento. Não.
Eu quero ser pra você.

Mesmo que você canse. Mesmo que você me canse. Uma máquina. Pra você.
Eu. Pra você. Eu.
Eu quero ser tua. Agora. Logo. Amanhã. Depois de amanhã. Passado. Presente. Futuro mais que perfeito. Pra você. Com a lua entrando na sétima casa. E todos os planetas na Sétima casa. Com a regência de Vênus. Futuro indicativo. Eu. Pra você.

É que eu quero você por muito tempo.
Eu sei. Assim. Por muito tempo. Porque eu te planejo pra minha vida há 25 anos. Porque eu quero você do meu lado o tempo todo. Porque eu tenho saudade. E leão em Vênus. Por isso. Eu. Pra você. Pra tua flecha me acertar aqui no meio da revolução. Diariamente.

5000 revoluções por dia. Só porque você sorri. Bonito demais pra ser verdade. Bonito demais pra ser de mentira. Vem. Que eu prepraro o café da manhã. Arrumo a cama. Passo suas camisas. Construo uma coisa singela. Cheia de novidades. Cheia de pés no chão. Uma revolução. Uma era. Eu (me) preparo. Pra você. Vem.

Braços para agarrar. Pernas para andar. Sem dor nem pensamento.
Uma máquina. De fazer amor.

sábado, 1 de agosto de 2009

Então vem você e me pede pra ficar. Então vem você e me pede pra ficar e diz aquelas coisas bonitas do outono do ano passado. Eu digo que você é doente. Eu digo que você perdeu o fio da meada. Eu digo não. Simplesmente. O tempo é curto. Permanecer se tornou impossível.

Então vem você. Uma outra você. Que desistiu da rua XV. Que desistiu das expectativas. Que desistiu dos teus talentos. Vem você e diz que sem mim a primavera não chega nunca. Então eu digo não. Você pede com os teus olhos. Eu respondo não com o meu coração. E permaneço.

Eu planejo um casamento. Dois filhos. Uma gata chamada Bruno Aleixo. Eu planejo o fim do mundo. Eu planejo um colchão. Eu planejo sims e todas as outras afirmações. Eu planejo uma carreira. Eu planejo uma dupla jornada. Eu planejo tinta branca azul rosa.

Quando ela me olhou e sorriu eu soube.

Eu tive que escolher, ela disse. Não sabendo que esse tipo de coisa não exige escolhas. Elas acontecem e ponto. E pronto. Eu só quero levar o meu sofá, ela disse. Não sabendo que daquele momento em diante não havia mais escolhas. O sofá sabia se fazer necessário.

Ela pediu uma pausa.

(pausa longa)

Mentira. Ela pediu uma pausa curta. E não pôde ver os homens sobrevoando o centro da cidade. Ela contou estórias sobre um balão. Ela leu Caio Fernando Abreu. E resumiu tudo em um pedido de desculpas. Que não foram aceitas. Pelo menos não naquele momento.

A primeira vez que eu beijei a garota que eu jamais sonhei ser a mulher da minha vida ela não chorou. Ela apenas retribuiu o beijo e colocou os braços em volta de mim. E não lembrou da primeira vez que me viu. E não se ofereceu pra ser nada além do que realmente podia ser.

A primeira vez que eu beijei a garota, que eu achava ser a mulher da minha vida, ela chorou. Mas ela era apenas uma garota. Indelével. Mas apenas uma garotinha assustada com as possibilidades que naquele momento se abriam.

Eu vou pegar na sua mão agora, senão seremos para sempre isso... amigos do karatê.
Eu nunca fiz aulas de karatê.

A primeira vez que eu fiz uma lista sobre ela.
1) o modo como ela sorri quando eu não deixo ela me beijar.
2) as coisas que ela escreve.
3) as canções que ela toca no violão.
4) ela sempre esquece o que estava dizendo.
5) as piadas sem graça que eu amo.
6) o modo como ela geme quando eu a abraço.
7) as coisas que ela diz nas entrelinhas e com os olhos.
8) a aparência dela, assim, de modo geral.
9) os planos para o futuro que ela me permite.
10) dormir com ela.
11) o modo como ela faz com que eu me sinta a pessoa mais especial do mundo.
12) a confortabilidade.
13) todos os cinco outros jeitos diferentes que ela sorri.
14) as coisas que ela fala sobre o mundo, assim, de maneira geral.
15) o modo como ela me ama sem dizer que me ama.

E nisso eu poderia escrever mais 150 vezes 15 coisas para essa lista. Porque todas as coisas nela. E todas as coisas que ela toca. São especiais. Eu poderia declarar pra todo mundo que ela me completa. Eu poderia escrever uma camiseta. Não sei. Eu poderia sair por aí gritando em um megafone o quanto e todos os quandos. Mas não. A minha oração é simples:

Seja o meu guarda-chuva.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Simplesmente olhando através dessa janela que se chama coração.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Logo não é agora. Logo é daqui a duzentos anos. Logo é amanhã. Logo não é agora e por isso não serve. Quanto tempo cabe dentro do tempo que separa o logo do agora? Tantas horas. Tantos dias. Tantas semanas. Poucas semanas. Nem sequer duas. Poucos dias. Nem sequer treze. Poucas horas. Insuficientes. Insuficientes pra esse logo que teima em demorar demais.

Seria demais dizer que o que só vem logo eu queria o tempo todo? Seria demais dizer que o que só vem logo eu queria o tempo todo. Não. Seria demais! De menos seria o tempo nenhum. Quanto tempo cabe dentro do tempo todo?

E, de novo, qual é o tempo que o presente ocupa?
E, de novo, o presente é apenas um ponto. Que passou. Que passou. Que passou.
A simultaneidade. Me dá o espaço do futuro? Já que o passado é indestrutível e imodificável, me dá o tempo e o espaço do futuro? Porque o presente se resume a este ponto. Que passa. Que passou. Que passou. Que passou. Impossível segurar o instante. Mesmo com as duas mãos fechadas. Chove no presente e no futuro. Chove dentro também agora. O agora passa e o logo não chega. Mas a chuva continua. Posso ser chuva? Posso ser chuva pros teus dias de sol?

Apenas me ame. Seja o meu guarda-chuva.

(parêntesis.) (guarda-chuva ainda é hifenado? alguém sabe qual o plural de hífen?) (fecha parêntesis.) (fecha o guarda-chuva, hifenado ou não.)

Apenas me ame. Seja o meu guarda-chuva.

Me leva pra ver o mar? Me leva pra ver o pôr-do-sol? Me leva pro décimo terceiro andar de um edifício qualquer e me derruba em queda livre de uma janela qualquer? O que eu sinto já é tão mais forte que o mar ou o pôr-do-sol ou a queda. Me leva praonde você quiser. Mas me leve sempre com você. Ainda que metaforicamente. Ainda que hiperbolicamente. Ainda que qualquer uma dessas figuras de linguagem. Ainda que o português seja falho. Ainda que você não esteja pronta. Ainda que eu não esteja pronta. Ainda que os atos sejam falhos. Ainda que as palavras sempre faltem. Ainda que falte o ar. Ainda que eu esteja doente. Ainda que eu te decepcione. Ainda que "ainda que".

Apenas me ame. Seja o meu guarda-chuva.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Quando na intersecção de dois caminhos. Quando na encruzilhada. Quando não existirem certezas. Quando entre o ser e o não ser. Quando na porta do cinema tentando decidir qual filme assistir. Quando na intersecção de dois amores. Quando na bifurcação ou na ponte. Quando existirem algumas dúvidas ainda. Quando enfrentar qualquer decisão mais séria. Quando as decisões forem leves.

(a menina sempre fará a escolha errada.)

Enquanto fugia pelo lado esquerdo do caminho, da encruzilhada, da ponte. No cinema passava o filme novo do Harry Potter. Enquanto errava o lado, apesar de o esquerdo ser o do coração, tocava New Slang. Enquanto não decidia ficou sem escolhas.

Toca pra mim uma canção provável. Toca pra mim sempre que for impossível. Toca pra mim sempre que for você.

Os invernos nucleares sempre acabam. Bem ou mal. Acabam. Acabam não. Acabam em. Acabam toda a matemática básica. Acabam por. Acabam talvez. Acabam se. Acabam quando. Acabam todas as conjugações do subjuntivo. Acabam sim. Acabam:

eu direi coisas e você ouvirá. depois eu ficarei quieta e você dirá coisas. nós nos entenderemos e cada mensagem será bem sucedida. o teatro será bem sucedido.

me ouça. me ouça sem que eu diga coisa alguma.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"e sim eu disse sim eu quero Sims."

porque por enquanto apenas isso basta.
porque por enquanto não existe outra.
porque por enquanto o meu coração continua batendo.
porque por enquanto chove.

mas porque daqui a pouco fará sol.

você vai chegar.
e pausa.
e sol.
e sim.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

e vem você de novo. e eu sorrio.

sobre coisas inadiáveis. sobre aquilo que precisa ser dito porque está preso em algum lugar. sobre aquilo que está preso em algum lugar da garganta. sobre coisas inadiáveis que precisam ser ditas antes que seja tarde. sobre domingos chuvosos. sobre domingos frios. sobre terças-feiras ao meio-dia e meia. sobre dias inadiáveis.

gramaticalmente o discurso é válido. matematicamente é meio entediante. mas ok, chamemos assim, chamemos de jazz do coração. gramática e matemática não importam. importa o jazz. e era assim. dizia mais ou menos assim. dizia você me faz sorrir com o meu coração. dizia coisas bonitas. e se cantava baixinho. jazz do coração, sabe? irresistível, sabe? você é a minha obra de arte preferida, sabe?

dias cinzas. dias de sol. dias pra se passar na cama.

jazz do coração, meu bem, jazz do coração...

terça-feira, 21 de julho de 2009

"meu bem, qualquer instante que eu fique sem te ver aumenta a saudade que eu sinto de você."

sim, você poderia procurar a esmo aquele velho tênis azul de corrida. você poderia me chamar de membro honorário da sociedade dos que correm. sim, você poderia me derrubar com cinco ou seis palavras doces. você poderia me ouvir sem que eu dissesse coisa alguma. sim, você poderia tocar uma canção de um filme qualquer. você poderia escolher a nossa trilha. a de corrida e a sonora. sim, você poderia ser. sim, você poderia fazer. sim, uma porção de coisas.

não, eu não vou te contar que já joguei tudo fora. não posso aceitar uma sociedade que é daqueles que fogem. não, eu não vou cair. não vou mais falar por pensamento. não, eu não vou ouvir você cantar ou tocar algum instrumento. quem escolhe o caminho e as canções que o permearão não é você. não, eu não quero que você seja. não, eu não quero que você faça. não, eu não quero que você pareça. com nada que eu já tenho visto antes.

talvez eu volte. talvez você volte. não atrás. mas a frente.

o que eu quero é que seja simples. que eu ame menos, mas que seja por um tempo indeterminado. que você não seja sujeito oculto. que eu consiga conjugar os verbos apenas no presente do indicativo. e se for pra conjugação passar pra o futuro do subjuntivo que seja em uníssono. meu e teu. quando for a hora. porque por agora eu simplesmente gosto de você.

sim.

sábado, 18 de julho de 2009

por favor, uma canção que me liberte!
Estar em algum lugar e não estar.
Fingir que tudo anda bem.
Ouvir canções que falam sobre amor não correspondido no último volume.
Desacreditar que se morre de alguma doença estranha depois de 39 graus de febre.
Nunca mais dizer que o coração vai se partir.
Especialmente, nunca mais dizer que o coração vai se partir em 28 pedaços, iguais ou diferentes.
Olhar para as pessoas e realmente enxergar algo de bom.
Ingerir substâncias tóxicas para o organismo em grandes quantidades.
Assistir aos filmes mais idiotas e aos filmes mais incríveis todas as semanas.
Sempre agradecer o gesto mais mínimo de gentileza.
Rezar como quem dança ou sorri.

Nada disso adianta pra porra nenhuma do que eu sinto agora.

(a menina parou de pronunciar o impronuciável. garantiu a si própria que o coração era um baiacu. um coração venenoso. um coração venenoso que não podia mais permanecer.)

Nada disso adianta pra porra nenhuma do que eu sinto.

(este canivete foi feito na Alemanha. a lâmina é muito afiada. normalmente ele é utilizado para castrar animais de grande porte.)

Nada disso adianta pra porra nenhuma.

(menina e canivete se encontraram definitivamente apenas uma vez em toda uma extensão. nessa ocasião o canivete se sentiu realizado. a menina um pouco menos.)

Nada disso adianta.

(ao som de uma canção de amor. estando e não estando. rezando como quem dança ou sorri. depois de uma febre de 39 graus. um coração que é mais um baiacu do que um coração. uma oração. apenas. um canivete. uma menina. o indizível. o que não há remédio.)

a oração:

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A vida não é um poligono. Então parem de exigir de mim que eu escolha lados!

Cada um de vocês viva a sua vida como achar melhor. Não é porque eu digo bom dia pra um que eu não gosto do outro. E sim eu sou fácil. Me vendo por bem pouco. Bem pouquinho mesmo. Se você me der dois segundos de atenção, então eu vou te ouvir. E vou cuidar de você. Mas isso não exclui uma terceira ou mesmo uma quarta pessoa.

Por favor, não delimitem as coisas.
Os dois. Vocês sabem quem são.

Se eu gosto de X, isso não exclui Y. E muito menos excluirá Z, só porque no momento Z está contido no mesmo grupo que X. É só um subgrupo. Eu estou na intersecção desses grupos, ok? Me deixem. Se X e Y não podem dialogar, o problema é de X e de Y. N não tem nada que ver com isso. N quer fazer parte do grupo de todos. E N quer falar com todos. E N quer falar de todos. N gosta muito do grupo T, que é a intersecção de outros dois grupos. Será que não dá pra gente juntar esses grupinhos. N gostaria. Mas acontece que N não manda em porra nenhuma. Então N fica na sua, cuidando da própria vida. Agora, não venham exigir que N fique se policiando com seus assuntos. N gosta de todos, mas sempre gostou e sempre gostará mais de si própria. Porque, no final, o que sobra é apenas esse grupo bem pequeno em que N está contido. Contido e sozinho.

Chega de matemática de amador. A vida é básica.
Tudo fica bem.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Não sei mais em que ato nós estamos e nem que peça é essa. Mas isso aqui tá mais parecendo o Inspetor Geral, dada a grande quantidade de personagens. Eu mesma nem sei mais quem é quem. Mas tenho a leve impressão que daqui pra frente já é o III Ato.

Um jazz, por favor!

Coltrane?

Pode ser.

Está decretado o fim eterno do carnaval.

Pode ser.

Toda vez que ela chorava eu voltava atrás.

Porque é burra.

É.

Mas esse já é o III Ato. Não é permitido falar sobre o passado.

Ah não?

Não.

Me desculpe.

Tudo bem... só não faça de novo, por favor.

Ok.

(silêncio)

E aí?

(silêncio)

Acho que eu não tenho nada pra dizer sobre o presente.

(silêncio)

Nem sobre o futuro.

(silêncio)

Acho que eu não tenho nada pra dizer.

(silêncio)

Quer falar dela?

Não. Tô bem assim, em silêncio.

Um jazz?

Por favor. Coltrane?

Pode ser.

(música)

Acho que essa é a pior coisa que você já escreveu.

Eu sei. Acho que eu escrevia melhor quando estava com ela, ou quando estava com raiva dela.

Pois é... aquela estória de zumbis era tão boa.

Ah, mas o Paul, o Zumbi apareceu antes dela reaparecer.

Mas tecnicamente é da época em que ela ainda estava presente.

Tecnicamente é. Mas eu inventei o Paul, O Zumbi pra outra garota.

Aí é que tá o problema. Você fica inventando estórias e personagens pras garotas por quem você se apaixona. É claro que uma hora ou outra a fonte ia secar. Porque uma hora ou outra você ia ter que não estar apaixonada ou sofrendo por alguém.

Eu sei.

Você só consegue produzir sentidos metafóricos através do sofrimento...

Eu sei.

E isso é terapia, não literatura.

Mas eu nunca disse que isso aqui era literatura. Isso aqui é, sim, sublimação.

Você adora esses sims e nãos entre vírgulas. Disso você podia desistir. Seria tão melhor...

Pára de usar reticências. Reticências me irritam.

Eu sei. É de propósito...

Pára!

Tá bom, eu paro. Mas só se você parar de usar tanta vírgula.

Ponto final pode?

Pode.

Deal.

Posso perguntar uma coisa?

Pode.

Você não acha que isso aqui beira à loucura?

Isso aqui o quê, exatamente?

(silêncio)

Eu nunca consigo diferenciar o que é diálogo do que é narração. E isso é bastante esquizofrênico. Mas nem eu sei direito o que é o quê. Agora, por exemplo, a única coisa que eu sei é que está frio. E é preciso esperar a primavera. Porque depois vem o verão. E todos os amores são de capricórnio. Pelo menos estes aqui. É que não dá pra começar a amar alguém nesse frio insano. Fica tudo congelado. Inclusive as mãos. E pra tocar alguém é preciso ter as mãos aquecidas.
Eu tinha pensado que seria fácil.
Mas cá estamos depois de todo esse tempo e não é nenhum pouco fácil ainda. Eu virei esse brinquedo estragado. Carro sem rodinha, videogueime sem fita, boneca sem braço, controle sem pilha. Eu não acho que tenha sido sempre assim. Se escolho entre dois amores, escolho, além de quem realmente amo, também pela morte do desprezado, já dizia meu amigo.

Eu tinha pensado que seria de sutilezas.
Que qualquer coisa que acontecesse seria leve e bem devagar. E apesar de parecer que a gente vive nesse romance da Jane Austen, cheio de olhares e toques furtivos, não é suave. Não. Suave é a noite. O resto é bastante amargo mesmo. E não digo nada disso pra te culpar. Talvez, sim, você tenha me quebrado. Mas talvez isso seja o amadurecimento de que eu tanto precisava. Relógio sem ponteiro, entende?

Eu tinha pensado que pensar não adiantava.
E te escondi no fundo de uma gaveta qualquer. Junto com o menor vaso de flor que eu já tive. Mas a memória, infelizmente, não tem gavetas, meu bem. E de tanto te encontrar em cada verso, te perdi. Sobrei eu e esse pedestal que eu não consigo destruir.

Eu cansei de metáforas pra coração.
A moda é muito importante e os corações caíram em desuso.
Como num filme de zumbi, desses que te causam sobressaltos, o meu coração parou de pulsar. E não. Eu não morri. Eu continuo aqui contando com esse punhado de palavras vãs que sobram de você. E quando você finalmente trouxer flores será para um encontro póstumo. Porque, por agora, eu nada posso garantir a não ser essa falha trágica. Esse timing imperfeito.

Eu ainda pretendo me contradizer mais umas 19 vezes antes de você chegar. E aí. Aí será tarde demais, percebe? Mesmo que você traga margaridas. Mesmo que você me peça um atalho. Mesmo que você me peça um auxílio. Mesmo que você me peça em casamento. Mesmo que você não me peça nada. Mesmo que eu use essa negativa dupla que se anula. Eu me contradigo até me anular. E então será tarde demais. Eu direi o indizível. Você não pedirá sequer uma prece. Mas eu darei mesmo assim:

eu te amo

quarta-feira, 8 de julho de 2009

guarda as mãos na luva
encolhe os ombros
feito tartaruga
é pôr os pés na calçada
que a madrugada
já te suga
mesmo você muda na calada
eu já planejo a tua fuga
pro nosso esconderijo
que é o coração
uma gruta
é só um êxtase
um bicho já curtido
tão guardado
a luta que eu travo
você desfruta
você me suja
e eu não me lavo

Uma colaboração músico-literária entre:
Luiz Felipe Leprevost, Otávio Liñares, Anna Krassusky, Beatriz Pires Santana e Nina Rosa Sá.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

(a menina bebe. com uma mão a cerveja. com a outra uma pinga qualquer. a menina reveza goles. agora que os cigarros não bastam para ausência de ações para mãos. então reveza.)

o idi vai tomando o lugar todo reservado ao superego. o idi é muito espertinho. ele sempre ocupa mais espaço. depois que a sessão de revezamento acaba o idi, maldito espertinho, deixa um buraco.

(a menina parece ignorar a aproximação do idi. ou então finge ignorar.)

ela diz: "ainda não estou pronta pra desistir de você."

ela diz: "é preciso flores!"

(a menina desiste de beber a pinga qualquer. reveza as mãos apenas em cerveja e cigarros. mas já é tarde. agora é o idi quem fala.)

às vezes é necessário fazer o coração parar de bater e aceitar qualquer coisa amena. às vezes é necessário esquecimento. às vezes é necessário lembrar. lembrar que é necessário esquecer. to let go. às vezes é necessário aceitar que os rumos que as coisas tomam nem sempre são aqueles que a gente deseja. às vezes é necessário sufocar os sentimentos, mantê-los bem lá no fundo. com o tempo eles aceitam esse lugar de memória. é necessário parar de escrever. é necessário parar de ler. é necessário parar o mundo.

então por que tudo isso parece impossível além de necessário?

por causa do vento que vai lá fora.

e você vem?

não.

(a menina desiste da cerveja. apaga o último cigarro. afoga o idi. e recomeça.)
se você acha tantas coisas sobre como vai ser. sobre como seria. e desprezando aquilo que realmente foi, eu daqui acho também.

acho que eu diria pouquíssimas coisas. talvez eu fumasse um cigarro. ou então mantivesse as mãos nos bolsos, na ausência específica de ações para mãos. é. pessoas como você ou momentos como esse me deixam assim, sem saber o que fazer com as minhas mãos.

acho que eu diria que tudo bem. que tudo fica bem eventualmente. inclusive eu. inclusive você.
não sei se eu beijaria a sua testa ou te abraçaria de volta. às vezes tocar me constrange. e às vezes tocar me deprime. não sei qual seria o caso. tenho essa tendência de não encostar muito nas pessoas, especialmente quando elas estão indo embora.

a gente se despede simplesmente dizendo "tchau. a gente se vê." porque nem eu nem você gostamos de muito alarde. então trataríamos a coisa com uma artificialidade natural. e realmente nós nos veríamos. nós nos veremos. inevitável que seja assim.

e você estará bem. e eu estarei bem.

eu vou perguntar se você já assitiu ao filme do woody allen. você, se disser que sim, vai me explicar o quanto se identificou com aquilo. eu vou dizer que já esperava. então você vai me perguntar se eu finalmente li o texto do David Foster Wallace. eu vou dizer que sim. e que você tinha razão. é cruel.

como foi cruel uma vez aquele tempo em que a gente disse: "tchau. a gente se vê." e que tudo isso agora é só uma lembrança. eu vou te pagar uma cerveja. e a noite vai te levar embora de novo. mas dessa vez sem grande estardalhaço ou qualquer tipo de sofrimento. e será um desses encontros amenos. mas com uma profundidade oculta que só eu - talvez você - vai notar.
e fica tudo bem.

acho que vai ser assim.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Minha primeira letra de música. Em parceria com Leozinho e Teca. Ainda sem nome. Se alguém tiver uma idéia de título, joga na roda.



você diz que quer dançar [comigo]

você diz que vai tocar

uma canção

uma canção que me liberte

você diz que quer dançar [comigo]

eu. racional.

você. desigual.

pra dançar comigo você tem que contar.

um, dois. um, dois. um, dois. um, dois.

será que você pode contar?

um, dois. um, dois. um, dois. um, dois.

pra sempre?

eu digo sim.

eu danço sim.

se você contar.

um, dois. um, dois. um, dois. um, dois.

se você contar.

um, dois. um, dois. um, dois. um, dois.

pra sempre.

se você contar um, dois pra sempre.

um, dois. um, dois. um, dois. um, dois.

se você contar.

um, dois. um, dois. um, dois. um, dois.

pra sempre.

se você contar.

um, dois. um, dois. um, dois. um, dois.

pra sempre.

domingo, 31 de maio de 2009

Escrever e escrever. Não escrever apenas informações técnicas. Escrever com amor o mais burocrático dos e-mails. Escrever como quem manda um beijo. Escrever aos amigos considerando-os como tal. Escrever aos amigos sempre. Escrever as três palavras inevitáveis sinceramente. Escrever com honestidade, ainda que isso doa. Escrever.

Isso é a tecnologia do afeto.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

cada frase dessas vem oculta de milhares de significados.

(a garota ainda diz não ter flores preferidas. diz que não dá pra escolher. diz: "são flores.")

são flores.
bandini continua a esperar a primavera. eu não.
eu espero você.

há muito tempo eu não sentava aqui em frente ao computador e escrevia sem mágoa ou raiva ou cerveja. os cigarros permanecem.
isso não quer dizer muita coisa.
mas isso também quer dizer muita coisa.
isso quer dizer simplesmente o que isso quer dizer.

Escolhe uma canção bonita pra tocar ao fundo...

Ao fundo?

É. Ao fundo do beijo que eu agora vou te dar.

(escolhe.)

O céu, do jeito como está hoje, eu o desejo, assim, pra você.
Limpo.
Com as luzes dos prédio e dos aviões e das torres de telecomunicação. Tem poesia no urbano. Eu te desejo isso assim. Cheio de luzes da cidade. Cheio de janelinhas. Com estórias possíveis. Para finais possíveis. Para inícios possíveis. Para isso. Para você. Para beijos possíveis.
Olha pro céu.
Hoje ele é meu presente pra você.

terça-feira, 28 de abril de 2009

FIM DO I ATO

CENA 1, II ATO

(vamos fingir que a gente não existe?)

(a menina tinha na mão esquerda uma daquelas garrafinhas de coca-cola. na direita um marlboro vermelho apagado.)

A cena se passa em Curitiba, no Largo da Ordem. O céu está dividido em tons de violeta. As nuvens parecem de algodão. Algodão apenas. E não algodão doce. As palavras fluem dos ombros, passam pelos braços e punhos e deslizam para o teclado pelos dedos. Apenas seis. Não sabe usar os dez para digitar.

Uma garota irá dizer que também não é possível viver sem água. A resposta será um vácuo.

(a menina agora pensa que a garota tem razão. mas sobrevive-se até 4 dias sem água. enquanto que sem ar apenas uns 4 minutos. vai pensar. mas não dirá.)

Existe, realmente, muito a ser dito. No entanto o que existe já é tanto mais forte.

Sim. O II Ato começa com sims. Não o jogo de computador. As afirmações.

Se você vier eu conto só pra você que as minhas flores preferidas são margaridas e que se um dia eu vier a casar será com um buquê delas.
Eu te conto que eu sei que eu não devia usar te com você.
Eu te conto que eu não me apego muito a esse tipo de coisa.
Eu te conto que fumo o cigarro que eu fumo só porque é mais cênico.
Eu te conto que uma das minhas coisas preferidas no mundo é andar de mãos dadas.
Eu te conto que eu sempre ouço música na minha cabeça em momentos bonitos ou tristes.
Eu te conto que eu costumava imaginar uma câmera me filmando o tempo todo na minha sitcom particular.
Eu te conto que muita coisa já se passou e que o mundo se abre das maneiras mais inesperadas.

Olha pro céu. A textura é formidável.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Quando o verão se foi, você escolheu ir junto.Quando o inverno chegou, você resolveu voltar. Nosso amor de outono pode ser ao som da flauta ou do atabaque, você escolhe.

Eu nunca acreditei em finais felizes, só em finais possíveis. E talvez seja tempo de água, talvez seja tempo de terra. O tempo de ar já passou. Mas ar é aquilo que é necessário para sobreviver. Então vou fingindo que é fácil. Que não dá vontade de te ligar e dizer que hoje o céu parecia de algodão e a lua estava linda. Fingindo que eu já nem me lembro mais do teu número ou do teu gosto. E de tanto fingir as coisas começam a se tornar reais.

Se for tempo de água um quadrado não é só um quadrado. Se for tempo de terra um quadrado sempre será apenas um quadrado. Você é um círculo. Sem começo ou fim. Um círculo. E agora são necessários losangos. E copas de árvore.

Espere a primavera. Ainda que o seu nome não seja Bandini.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ela vai. Ela vem.

Sem querer ficar fazendo nenhum tipo de elogio ao passado. Talvez um elogio à mentira.

Cansei de te amar. E quando decidi que cansei foi que eu realmente percebi. Que a vida é assim. Simples. Como aquela canção do Nenhum de Nós. aquela canção que um amigo ouviu e sofreu. E ela era assim:

"Tudo bem se não deu certo
Eu achei que nós chegamos tão perto
Mas agora com certeza eu enxergo
Que no fim eu amei por nós dois

Mas você lembra!
Você vai lembrar de mim
Que o nosso amor valeu a pena
Lembrar é o nosso final feliz
Você vai lembrar...Vai lembrar...sim...
Você vai lembrar de mim."

E depois disso as pessoas choraram. Porque algumas resoluções, passadas ou futuras, podem ser brutais.
E eu sou - como diria o Stuart Murdoch - brutal, honesta e tenho medo de você.

Não estou tentando escrever uma coisa bonita. Só uma coisa singela. Que é pra dizer adeus de maneira suave. Como se fosse um pôr-do-sol.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Quando o fantasma ressurgir - e, acredite, ele ressurgirá - você pensará naquela canção do Roberto. E se permita uma lágrima.

Porque a única maneira da Parte III começar de fato é permitindo que a Parte II surja às vezes. Permita que ela te invada. Que ela provoque o que tem de provocar. Sofra a nostalgia.

E então se levante. Recupere-se. Saiba que fantasmas não são eternos. Fantasmas são apenas lençois brancos. Como branca era a pele de quem um dia você amou.

Quando o fantasma ressurgir você estará pronto. E dirá: "sai fantasma!" Não importa se toca uma versão daquela música do New Order. Não importa se o seu amigo canta aquela velha canção.

Importa que há o mar. E ele cabe no espaço de um braço. E se você me abraçar eu me afogo. Porque é tempo de água.
Essa agora é pra você.
Você que foge, que finge, que finca o pé no chão.
Essa agora é pra você.
Que fingiu me amar. Ou que me amou mas fugiu.
Essa é uma canção tamanha. Aquela que ainda me causa essa febre de 40 graus.
Essa agora é pra você.
Que fez da despedida um espetáculo. Que colocou a trema no U do "agora agüenta!"
Que fez trovão daquilo feito pra ser garoa.
Essa agora é pra você.
Que me esvaziou. Que me encheu. Que foi única. Que foi você.

sábado, 11 de abril de 2009

Sim. A menina se salva. Como num filme do Christophe Honoré há a redenção. Deixaremos o George Romero de lado finalmente. Deixaremos de lado qualquer morto-vivo e sairemos em busca da redenção. O coração ainda bate, pulsa. Como uma sapo ou um baiacu.

E ela, a menina, não destruirá vidros de automóveis. Não. Ela cantará uma canção em francês e sairá dançando pela rua Carlos de Carvalho. E, feliz, sairá em busca de algum maracatu. Comprará um colar de contas.

E vai admitir. Sim, eu admito. Ainda há espaço para romance.

PARTE III

A estória a ser narrada não tem personagens reais ficcionalizados. Porque aqui ninguém saltará de ônibus em movimento. Ninguém beberá até cair. Não haverá cigarros ou drogas. E sim chá gelado. Aqui há remédio cênico. Existem mãos. E em algum momento elas vão se tocar.

A menina continua caminhando pela vida. Com o sentimento de que sim, é preciso caminhar. Ao seu lado uma espécie de fiel escudeiro que sofre. Mas não existe mais o medo do mundo, nem do amor, nem de dores inenarráveis. O som de uma única mão que aplaude. Qual será?

A estória a ser narrada tem canções. É sobre fotografia. Estática e em movimento. Sobre outros continentes e oceanos. E agora é assim. Fim.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Para a garota que deixou tudo...

O baque, ela disse, não foi tão forte assim.
O poder de convencimento que ela possuía se localizava no ombro esquerdo. Não no direito como tantos pensavam.
Então era isso.
O poder de persuasão, de convencimento. Localizava-se no ombro esquerdo.
E ela havia deixado a bicicleta para trás.
As pessoas insistiam em relembrar a bicicleta. Todas aquelas pequenas estórias da bicicleta.
Mas já havia se passado mais de cinco anos.
E ela havia deixado a bicicleta para trás.
Embora os outros não deixassem. Ela havia.
Como havia deixado todas essas estórias - das maiores às menores - para trás.
Aquelas da depressão. De amores frustrados. De amores violentos. De saudade de colares de conta. De estórias de maracatu.
Ela havia deixado ela mesma para trás.
Mas agora mantinha o sorriso quando chegava em casa às onze horas da noite.

terça-feira, 10 de março de 2009

A verdade é que não há verdade. Se fosse fácil assim não existiriam jogos de adivinhações. Mas essa eu adivinho. Tudo acabará em vísceras. Como num filme de zumbi. E não. Quem ri por último não ri melhor. Talvez seja só vingança.

Agora é assim. Todas as coisa novas gritam e clamam por você. Você virá? Sim. Você virá. Por mais um carnaval eu espero. Por mais um carnaval eu te amo. E daqui a pouco é daqui a pouco. Então você ressurgirá.

Ou eu. Jasons...

Sobre Listas Antigas

sabe quando você sente necessidade de gritar?
quando você sente necessidade física de gritar?
pois bem, eu sei o que é isso nesse momento.

você me enlouquece.
você não me escuta.
você fala demais.
você é egoísta.
você é indecisa com relação às escolhas de vida.
você se mexe pra caralho pra dormir.
você não dorme de conchinha.
você é injusta às vezes.
você faz tempestade em copo d´água.
você não confia em mim.
você só discute as coisas quando você quer discutir.
você me deixa insegura.
você me faz ter a impressão de que eu te amo muito mais do que você me ama.
você não tem muito romantismo.

e mesmo assim eu te amo.
o pior é que eu te amo por causa de cada um desses defeitos. e não apesar deles.
e te amo porque você, quando você tá afim, faz com que eu me sinta a pessoa mais importante do mundo.
e você não tem idéia do quanto isso é precioso.

você canta o tempo todo.
você chora.
você demora no banho.
você é insegura.
você é linda.
você é inteligente.
você sorri do jeito que você sorri.
você usa um óculos completamente desmangolado.
você diz boa noite sempre do mesmo jeito.
você desiste dos filmes na metade.
você gosta de Ugly Betty.
você parece criança às vezes.
você, quando tá afim, é um dos melhores sexos que eu já fiz.
você tem orgulho de mim.
você é engraçada.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Estou escrevendo o Grande Romance Americano. Aquele que todos os escritores loosers de filmes americanos sobre escritores loosers sonham em escrever. Estou escrevendo o Grande Romance Amerciano e ele é bastante auto-biográfico. Mas acho que auto-biográfico não é mais hifenado. Enfim. Estou a escrever. Por enquanto tenho apenas duas frases. E sei que isso é demasiado pouco para um Grande Romance Americano. Mas fazer o quê? Vá lá, digo pra mim, tenho apenas duas frases, mas isso já é alguma coisa.

As duas frases:

"É muito difícil ser uma pessoa gay que adora filmes de zumbi, porque se não te ridicularizam por uma coisa, ridicularizam pela outra."

e

"A primeira vez que eu beijei a garota, que eu sabia não ser a mulher da minha vida, ela chorou."

Por agora tenho apenas isso. Gostaria de ter mais. Gostaria de desenvolver melhor aquela estória da garota zumbi e da garota que alimentava a garota zumbi com partes do seu próprio corpo. Até porque aquela estorinha ficou com um final bastante inconclusivo - e ao mesmo tempo um previsão absurda de futuro - em que a garota não-zumbi entregava seu próprio coração como banquete póstumo.

Ok. Coração entregue. Mas e aí? A garota zumbi comeu? Ela usou o sacrifício final da outra garota para de novo se transformar em uma pessoa apenas viva e não morta-viva?

Bom, meu querido, é o seguinte. Zumbis comedores de carne viva sempre serão zumbis comedores de carne viva. Entende?

Na verdade não.

É claro que ela aceitou o coração. Porque estar em vias de se tornar humano não necessariamente é ser humano.

Então, o que você está dizendo, sei lá eu se metaforica ou literalmente, é que as pessoas - mesmo as mortas-vivas - não mudam.

O que eu estou dizendo, literalmente, é que um processo desses geralmente não é reversível. Metaforicamente cada um entende o que melhor lhe aprouver.

Então você quer dizer que, literalmente, a menina zumbi comeu o coração e permaneceu zumbi. Matou o fome na hora, mas morreu depois? É isso que você está dizendo?

Eu estou dizendo que o caminho é o fim, mais que chegar.

Ei, não se pode parafrasear coisas neste diálogo.

Desculpe.

Mas é isso mesmo? Todo mundo morre no final? Não há esperança?

Sempre há. Se tudo que sabemos do amor é que ele acaba - desculpe, mas eu precisva usar essa - há esperança sim.

Mas como?

Pense. Você entregaria seu coração a alguém acorrentado?

Talvez. Mas espero que não.

Pois é. A menina não-zumbi jamais faria isso. Jamais se sacrificara em vão. Saca?

Mais ou menos.

Sabe aquilo que você disse sobre a pessoa que termina ser responsável pela última mágoa? E precisar saber suportar o peso dessa última mágoa, mesmo que as coisas já estivessem em um inverno nuclear?

Aham, mas ainda não entendi aonde você quer chegar...

A menos que a pessoa seja muito inconseqüente - posso usar esse trema aqui ainda? - ela sabe o peso que terá que carregar. E a menina zumbi se afasta da realidade. Ela entende o peso das coisas.

Hum...

Com isso ela pode não se curar ou se curar. Não importa. O que importa é o peso das coisas.

O peso das coisas...

A menina, antes de entregar o coração, desatou todos os nós. Abriu os cadeados. Destruiu as correntes. Pois se não funcionasse...

A outra estaria livre.

Sim. Você não entrega o seu coração a alguém acorrentado.

Primeiro é necessário libertar.

Exatamente.

Mas você sabe como é que essa estória acaba? Quero dizer, ela se salva?

Ainda não tenho certeza. Mas espero que não. Às vezes é melhor ser um morto-vivo.

Posso perguntar uma coisa?

Pode, mas talvez eu não responda. E não por implicância ou coisa assim, afinal quem telefonou pra você fui eu, mas porque talvez eu ainda não saiba a resposta...

A pergunta é: quem é você?

Não te parece óbvio?

Parece. Mas eu queria ter certeza.

Meu querido, tudo que sabemos sobre certezas é que elas não existem.

Tem razão. Eu, por exemplo, sempre tive certeza de que você jamais usaria uma blusa amarela e rosa, e veja só.

E veja só.

Olhando daqui de cima parece que a única certeza é o chão.

(fim inconcusivo de uma metáfora inconclusiva.)

(o texto faz referência a outro, postado em 18 de setembro de 2008, curiosamente dois dias depois do meu aniversário de 25 anos. estou ficando velha e cada vez mais ranzinza. alguém ainda tem paciência?)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sobre o tripé do bom relacionamento romântico.

Psicanalistas afirmam que para se ter um bom relacionamento três coisas são indispensáveis. São elas:

1) admiração
2) confiança
3) perspectiva de futuro

Eu me pergunto qual será o tripé necessário à boa obra artística. E cheguei a uma conclusão literária. E talvez não-ortodoxa sobre três coisas necessárias para que eu escreva - bem ou mal. São elas:

1) cervejas
2) cigarros
3) dor - física ou espiritual

Será que dá pra substituir um tripé pelo outro?
Ah, os relacionamentos durariam mais.