quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

PARA UMA RETROSPECTIVA PROLIXAMENTE PROLIXA SOBRE O AMOR EM 2009

Queria fazer uma retrospectiva 2009, mas não sabia bem por onde começar. Então resolvi fazer uma coisa bem pessoal. Cronologicamente aqui estão as coisas que foram importantes para mim nesse ano que termina. Coisas que não necessariamente foram lançadas em 2009, mas que foram vistas ou re-vistas por mim neste ano que acaba daqui a pouco.

Comecei o ano namorando, não com a mesma garota que termino o ano namorando. Mas vamos por partes. Comecei o ano ouvindo muitíssimo o primeiro cd do Little Joy, apaixonada pelas letras pungentes do Amarante (do Los Hermanos) com o Fabrizio Moretti (dos Strokes) e pelas melodias quase felizes da maioria das canções. Little Joy, afinal, soava para mim como música pra ser feliz, pra ir pra praia, essas coisas. E dividi o Little Joy mais do que completamente com a garota com quem eu namorava e por quem eu era loucamente apaixonada. Portanto o acontecimento pop mais importante do começo do ano - o show do Little Joy em Curitiba - foi extremamente dilacerante, já que a garota em questão acabara de me dar o pé na bunda e já estava namorando um carinha aí que tocava na banda que ia se apresentar depois do LJ. De repente a banda não tinha apenas canções felizes pra ouvir à beira-mar; ao contrário, as canções eram agora deprimentes, tristes ao extremo, como Evaporar, Don´t Watch me Dancing e, especialmente, No One´s Better Sake. o show foi genial, a presneça de Amarante foi inebriante e a Binki Shapiro foi incrivelmente linda. Chorei e entrei no período a que vou me referir daqui para frente como fossa. Das mais terríveis.

Nessa fase qualquer canção do Los Hermanos me fazia chorar e tive que deixar o Little Joy de lado. Bem de lado. Voltei a ouvir as canções mais sombrias possíveis. Ao mesmo tempo consegui achar algum conforto no pop radiofônico da Katy Perry e me identifiquei profundamente com a letra de Hot´n´Cold. Mais que isso, identifiquei minha ex nessa canção. E cantei aos berros o verso "you don´t really wanna stay GO" durante os meses que sucederam o término. A raiva que esta canção maravilhosamente pop me ajudava a liberar foi fundamental para superação da fossa. Com algumas recaídas fui me equilibrando no salto. Equilibrando literalmente porque este período foi marcado por doses homéricas de cerveja e outros bens etílicos. E fui alternando camções pop, como Backfire at the Disco do Wombats com canções tristes e antigas de Billie Holiday e Chet Baker.

No cinema tive muita coisa com que me distrair, afinal o início do ano também é a época do Oscar, então sempre tem uma porção de filmes minimamente decentes em cartaz. E pra tentar dar um mínimo de sossego à minha alma amargurada me enfiei em diversar salas escuras. Às vezes sozinha, às vezes acompanhada. E assim acabei vendo aquele que eu considero o filme mais amargo já feito, Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes e com o mesmo casal protagonista de Titanic: Kate Winslet e Leonardo DiCaprio. O filme é bastante bom, é verdade que um pouco deprimente, mas condizia perfeitamente com a época. O trabalho dos atores é sólido, inclusive do DiCaprio, mas o destaque da coisa toda é a Kate. Ela é simplesmente incrível, transforma o simples ato de fumar um cigarro numa ação carregada de mil significados, todos transmtidos com o corpo inteiro imóvel, a não ser pela mão que leva o cigarro a boca.

Na mesma época, acredito inclusive que foi no mesmo dia, assisti a um dos filmes mais doces do ano. Benjamin Buttons é um filme bacana porque revela um Brad Pitt muito mais maduro, interpretando quase que com perfeição o personagem título nessa retomada da parceria entre ele e o diretor David Fincher (de Seven e Clube da Luta). A estória é uma adaptação de um conto de F. Scott Fitzgerald sobre um homem com uma estranha doença: ele nasce velho e vai rejuvenescendo ao longo dos anos. A narrativa é muito bem construída e Pitt está cercado de excelentes atores que dão densidade ao drama. Esse eu assisti com o meu amigo Luiz Felipe e quase morremos os dois de tanto chorar.

Com esse mesmo amigo também assisti - quase que obrigada por ele - O Lutador. Esse tipo de filme não faz muito o meu estilo, mas eu estava minimamente curiosa por ser um filme do Darren Aronofski e porque toda a crítica andava comentando - pro bem e pro mal - a atuação do Mickey Rourke. Pois bem, lá fui eu. E até que era bom ver uma drama tão absurdo, um personagem tão extremamente looser nesse período da minha vida. E sim, o Felipe tinha razão, o Mickey Rourke é um monstro. O que ele faz em cena não é bolinho, aquilo ali é auto-exposição impiedosa. Vale dizer que a cena em que toca Sweet Child o´Mine do Guns é tão boa, mas tão boa, que por alguns minutos eu parei de odiar a banda.

Algum tempo depois estreou aquele que eu julguei o melhor de todos os filmes da corrida do Oscar 2009. A obra-prima de Gus Van Sant, Milk - A Voz da Liberdade. Eu já estava quase recuperada quando assisti a esse filme e ele me fez chorar do início ao fim. Chorei no comecinho já, na cena em que toca Queen Bitch do Bowie - esta, aliás, uma das canções mais ouvidas por mim em 2009 - e só parei depois dos créditos. A trilha do filme é sensacional e Sean Penn apresenta um personagem primorosamente construído. Ele é Milk, mostrando os níveis mais profundos a que a técnica de um ator pode levar.

Daí pra frente eu já estava naquela fase de cair na balada até de manhã cedo, conhecer pessoas e viver um porre eterno. Nas pistinhas de tudo quanto é bar eu me acabava dançando Gogol Bordelo, Ting Tings, a já mencionada Katy Perry, Cpoacabana Club (que eu acho bem mais ou menos) e outras coisinhas interessantes, porém não muito marcantes. Tava meio sem saco pra modernidade, me deu vontade de ouvir coisas antigas como os primeiros discos do Belle and Sebastian. Também fiquei com preguiça de ir ao cinema e só voltei pra ver uma sessão única do filme Canções de Amor, do Christophe Honoré. Um filme incrível com atuações brilhantes, especialmente de Louis Garrel. O filme é um musical dramático, uma homengaem a Nouvelle Vague, especialmente aos filmes de Godard.

Nesse momento eu já estava bem melhor, bem melhor mesmo, e jurava que estava apaixonada por outra garota. Eu achava que estava e isso até que foi bom. E isso me levou a rever filmes e gravar cd´s com músics antigas, porque a garota por quem eu achava estar apaixonada não entendia nada de cultura pop. E eu tenho essa inclinação à doutrinação.

Eu disse acima que achava estar apaixonada porque hoje eu sei que essa garota, apesar dela ser muito interessante e bacana, foi só um paliativo. Um modo de eu esquecer completamente aquela supracitada ex-namorada. Isso precisava acontecer para que eu conhecesse a garota que hoje é minha namorada sem esse tipo de ranço, de bagagem.

Eu conheci a Camilla num dia 06 de um mês também 06 num desses bares meio insuportáveis de gente moderninha. Eu estava entediadíssima - às vezes essa músicas pop para pistinhas de dança me deixam entediada - e acabei conhecendo um menino que ela acabara de conhecer. E assim ele nos apresentou, embora não conhecesse propriamente nenhuma das duas. Eu acabei conversando muito mais com amiga dela. É necesssário dizer que ela - a Camilla - nunca me deu muita bola. Eu já a havia visto na PUC e tentei algum tipo de contato visual, um sorrisinho inocente... e nada. Ela nem me notou. Mas nesse dia ela meio que foi obrigada a me notar. E também eu estava com a minha indefectível camisa do Fluminense - que em 2009 me deu o imenso prazer de não ser rabaixado - e isso atrai algum tipo de atenção, ainda que mínima. A gente conversou até às seis da manhã e nos dias que se seguiram eu a encontrei no orkut e adicionei e puxei conversa. Virtualmente pelo menos ela parecia mais interessada.

Eu a convidei para ir ao cinema comigo no feriado de Corpus Christi assistir ao excelente filme francês ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Entre os Muros da Escola. Apesar de ter dito que cinema parecia uma boa e que fazia muito tempo que ela não ia... Camilla não apareceu. Depois me mandou uma mensagem dizendo que havia dormido, por isso não tinha ido me encontrar e perguntava o que eu ia fazer na sexta. Sexta, depois do feriado, dia 12 do mês 06. Junho, saca? Então lá fomos nós nos encontrar pela segunda vez (na verdade terceira vez, mas ela não sabia) no dia dos namorados, véspera do dia de Santo Antônio. Dessa vez eu fui bem mais ardilosinha.

Eu descobri, meio que por acaso fuçando no orkut, que ela era fã do Caio Fernando Abreu. Coincidentemente eu havia começado a ensaiar uma peça baseada nos textos dele. E lendo a obra entendi o que aquele Sem Ana, Blues queria dizer no perfil dela. E usei disso. Confesso. Eu sou extremamente timidinha. Logo, não fui sozinha encontra-la no bar, carreguei meu amigo junto. E não conseguia identificar se ela estava interessada ou não, por isso usei essa. Esperei ela ir ao banheiro, dei alguns minutos e quando vi que ela estava voltando comecei a falar desse conto com o meu amigo - outro fã de Caio. De como a estrutura inicial era genial. Sendo a estrutura incial completamente identificável, ela gritou o nome do conto. E assim a gente conseguiu emplacar uma conversa de horas.

Daí pra frente a gente foi se apaixonando e se contaminando de referências pop. Sim, porque a Camilla é esse tipo de gente moderninha antenada às novidades do meio musical que faz listinha das 10 mais no fim do ano. E assim terminou o primeiro semestre de 2009 e começou uma nova fase da minha vida. Eu não estava procurando um relacionamento, mas ela fez com que o Little Joy pudesse ser o tipo de música pra ser feliz, re-significou aquela canção da Katy Perry que eu citei lá no começo e quando a gente ainda nem namorava foi na minha casa cuidar de mim porque eu não estava me sentindo bem. Nesse dia a gente assistiu Um Dia a Casa Cai, porque ela nunca havia visto esse clássico da Sessão da Tarde estrelado pelo Tom Hanks. Assim eu fui me desarmando, até perceber que precisava dela perto de mim. Bem perto. Pra me mandar videozinhos do Hello Saferide e letras de canções do Johnny Cash.

E ela me mostrou a Tiê e Dois virou a nossa música e com certeza está no meu top 10 de 2009. Junto com a Katy Perry e com a Beyonce. Porque ela ria de mim porque eu gostava bastante de All The Single Ladies, mas cantava comigo sempre. E cantava comigo o refrão de Me Adora da Pitty, porque a gente só sabia cantar o refrão. E me mostrou Zero do Yeah Yeah Yeahs e trocou referências sobre Caio Fernando e ajudou muitíssimo na montagem de Chiclete & Som, a peça com textos dele que eu dirigi. E eu a levei ao cinema pra ver três dos filmes que eu mais gostei de ver em 2009. E sei que ela gostou também. Nós vimos Arraste-me Para o Inferno, um terror do meu herói Sam Raimi, Bastardos Inglórios, do Tarantino e simplesmente o melhor filme do ano, que veio reforçando o talento do Brad Pitt e o simpático 500 Dias com Ela, com uma trilha sonora genial.

E agora, com o ano terminando definitivamente ficamos trocando referenciazinhas por e-mail, já que estamos longe. Eu falo de The xx e Norah Jones e ela devolve com uma listinha super cool das 10 mais, na qual estão presente as canções Dois e Hot´n´Cold, e que tem Phoenix e Yeah Yeah Yeahs e Duffy e uma das minhas preferidas, Relator da Scarlett Johansson.

Eu me apaixonei pela Camilla por ela ser esse tipo de pessoa antenadíssima e ligada em cultura pop e por ela fazer listinhas e sempre saber o que tá rolando de novo no mundo e postar coisas no twitter como a música mais tocada da década (que, by the way, foi Chasing Cars do Snow Patrol), mas também por ela ser doce, gentil, honesta, incrivelmente linda - que ninguém é de ferro, né? - inteligente, adorável e, acima de tudo, porque ela se apaixonou por mim também. E no começo disso tudo ela me deixava completamente nervosa e eu sentia que precisava saber mais coisas e ler mais coisas e ouvir mais coisas e ser uma pessoa melhor para impressioná-la. Mas depois eu saquei que ela gostava de quem eu era. Que ela gostava do meu lado extremamente passional. E a gente viajou pra São Paulo numa decisão de última hora pra assistir uma peça do Bob Wilson, uma espécie de herói do teatro contemporâneo. E eu morri de medo e ansiedade, porque queria muitíssimo que ela gostasse, e estava com medo de eu própria não gostar, e ela ficou ansiosa comigo, mas nós amamos Quartett. Foi a melhor coisa que eu vi na vida e pra Camilla foi a segunda melhor, perdeu só pro show da Madonna.

E tudo isso, essa coisa de querer falar sobre cultura pop é só mais uma desculpa pra falar o quanto eu a amo, o quanto ela me faz feliz e eu tenho certeza de que isso é pra sempre.