sexta-feira, 31 de julho de 2009

Simplesmente olhando através dessa janela que se chama coração.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Logo não é agora. Logo é daqui a duzentos anos. Logo é amanhã. Logo não é agora e por isso não serve. Quanto tempo cabe dentro do tempo que separa o logo do agora? Tantas horas. Tantos dias. Tantas semanas. Poucas semanas. Nem sequer duas. Poucos dias. Nem sequer treze. Poucas horas. Insuficientes. Insuficientes pra esse logo que teima em demorar demais.

Seria demais dizer que o que só vem logo eu queria o tempo todo? Seria demais dizer que o que só vem logo eu queria o tempo todo. Não. Seria demais! De menos seria o tempo nenhum. Quanto tempo cabe dentro do tempo todo?

E, de novo, qual é o tempo que o presente ocupa?
E, de novo, o presente é apenas um ponto. Que passou. Que passou. Que passou.
A simultaneidade. Me dá o espaço do futuro? Já que o passado é indestrutível e imodificável, me dá o tempo e o espaço do futuro? Porque o presente se resume a este ponto. Que passa. Que passou. Que passou. Que passou. Impossível segurar o instante. Mesmo com as duas mãos fechadas. Chove no presente e no futuro. Chove dentro também agora. O agora passa e o logo não chega. Mas a chuva continua. Posso ser chuva? Posso ser chuva pros teus dias de sol?

Apenas me ame. Seja o meu guarda-chuva.

(parêntesis.) (guarda-chuva ainda é hifenado? alguém sabe qual o plural de hífen?) (fecha parêntesis.) (fecha o guarda-chuva, hifenado ou não.)

Apenas me ame. Seja o meu guarda-chuva.

Me leva pra ver o mar? Me leva pra ver o pôr-do-sol? Me leva pro décimo terceiro andar de um edifício qualquer e me derruba em queda livre de uma janela qualquer? O que eu sinto já é tão mais forte que o mar ou o pôr-do-sol ou a queda. Me leva praonde você quiser. Mas me leve sempre com você. Ainda que metaforicamente. Ainda que hiperbolicamente. Ainda que qualquer uma dessas figuras de linguagem. Ainda que o português seja falho. Ainda que você não esteja pronta. Ainda que eu não esteja pronta. Ainda que os atos sejam falhos. Ainda que as palavras sempre faltem. Ainda que falte o ar. Ainda que eu esteja doente. Ainda que eu te decepcione. Ainda que "ainda que".

Apenas me ame. Seja o meu guarda-chuva.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Quando na intersecção de dois caminhos. Quando na encruzilhada. Quando não existirem certezas. Quando entre o ser e o não ser. Quando na porta do cinema tentando decidir qual filme assistir. Quando na intersecção de dois amores. Quando na bifurcação ou na ponte. Quando existirem algumas dúvidas ainda. Quando enfrentar qualquer decisão mais séria. Quando as decisões forem leves.

(a menina sempre fará a escolha errada.)

Enquanto fugia pelo lado esquerdo do caminho, da encruzilhada, da ponte. No cinema passava o filme novo do Harry Potter. Enquanto errava o lado, apesar de o esquerdo ser o do coração, tocava New Slang. Enquanto não decidia ficou sem escolhas.

Toca pra mim uma canção provável. Toca pra mim sempre que for impossível. Toca pra mim sempre que for você.

Os invernos nucleares sempre acabam. Bem ou mal. Acabam. Acabam não. Acabam em. Acabam toda a matemática básica. Acabam por. Acabam talvez. Acabam se. Acabam quando. Acabam todas as conjugações do subjuntivo. Acabam sim. Acabam:

eu direi coisas e você ouvirá. depois eu ficarei quieta e você dirá coisas. nós nos entenderemos e cada mensagem será bem sucedida. o teatro será bem sucedido.

me ouça. me ouça sem que eu diga coisa alguma.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"e sim eu disse sim eu quero Sims."

porque por enquanto apenas isso basta.
porque por enquanto não existe outra.
porque por enquanto o meu coração continua batendo.
porque por enquanto chove.

mas porque daqui a pouco fará sol.

você vai chegar.
e pausa.
e sol.
e sim.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

e vem você de novo. e eu sorrio.

sobre coisas inadiáveis. sobre aquilo que precisa ser dito porque está preso em algum lugar. sobre aquilo que está preso em algum lugar da garganta. sobre coisas inadiáveis que precisam ser ditas antes que seja tarde. sobre domingos chuvosos. sobre domingos frios. sobre terças-feiras ao meio-dia e meia. sobre dias inadiáveis.

gramaticalmente o discurso é válido. matematicamente é meio entediante. mas ok, chamemos assim, chamemos de jazz do coração. gramática e matemática não importam. importa o jazz. e era assim. dizia mais ou menos assim. dizia você me faz sorrir com o meu coração. dizia coisas bonitas. e se cantava baixinho. jazz do coração, sabe? irresistível, sabe? você é a minha obra de arte preferida, sabe?

dias cinzas. dias de sol. dias pra se passar na cama.

jazz do coração, meu bem, jazz do coração...

terça-feira, 21 de julho de 2009

"meu bem, qualquer instante que eu fique sem te ver aumenta a saudade que eu sinto de você."

sim, você poderia procurar a esmo aquele velho tênis azul de corrida. você poderia me chamar de membro honorário da sociedade dos que correm. sim, você poderia me derrubar com cinco ou seis palavras doces. você poderia me ouvir sem que eu dissesse coisa alguma. sim, você poderia tocar uma canção de um filme qualquer. você poderia escolher a nossa trilha. a de corrida e a sonora. sim, você poderia ser. sim, você poderia fazer. sim, uma porção de coisas.

não, eu não vou te contar que já joguei tudo fora. não posso aceitar uma sociedade que é daqueles que fogem. não, eu não vou cair. não vou mais falar por pensamento. não, eu não vou ouvir você cantar ou tocar algum instrumento. quem escolhe o caminho e as canções que o permearão não é você. não, eu não quero que você seja. não, eu não quero que você faça. não, eu não quero que você pareça. com nada que eu já tenho visto antes.

talvez eu volte. talvez você volte. não atrás. mas a frente.

o que eu quero é que seja simples. que eu ame menos, mas que seja por um tempo indeterminado. que você não seja sujeito oculto. que eu consiga conjugar os verbos apenas no presente do indicativo. e se for pra conjugação passar pra o futuro do subjuntivo que seja em uníssono. meu e teu. quando for a hora. porque por agora eu simplesmente gosto de você.

sim.

sábado, 18 de julho de 2009

por favor, uma canção que me liberte!
Estar em algum lugar e não estar.
Fingir que tudo anda bem.
Ouvir canções que falam sobre amor não correspondido no último volume.
Desacreditar que se morre de alguma doença estranha depois de 39 graus de febre.
Nunca mais dizer que o coração vai se partir.
Especialmente, nunca mais dizer que o coração vai se partir em 28 pedaços, iguais ou diferentes.
Olhar para as pessoas e realmente enxergar algo de bom.
Ingerir substâncias tóxicas para o organismo em grandes quantidades.
Assistir aos filmes mais idiotas e aos filmes mais incríveis todas as semanas.
Sempre agradecer o gesto mais mínimo de gentileza.
Rezar como quem dança ou sorri.

Nada disso adianta pra porra nenhuma do que eu sinto agora.

(a menina parou de pronunciar o impronuciável. garantiu a si própria que o coração era um baiacu. um coração venenoso. um coração venenoso que não podia mais permanecer.)

Nada disso adianta pra porra nenhuma do que eu sinto.

(este canivete foi feito na Alemanha. a lâmina é muito afiada. normalmente ele é utilizado para castrar animais de grande porte.)

Nada disso adianta pra porra nenhuma.

(menina e canivete se encontraram definitivamente apenas uma vez em toda uma extensão. nessa ocasião o canivete se sentiu realizado. a menina um pouco menos.)

Nada disso adianta.

(ao som de uma canção de amor. estando e não estando. rezando como quem dança ou sorri. depois de uma febre de 39 graus. um coração que é mais um baiacu do que um coração. uma oração. apenas. um canivete. uma menina. o indizível. o que não há remédio.)

a oração:

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A vida não é um poligono. Então parem de exigir de mim que eu escolha lados!

Cada um de vocês viva a sua vida como achar melhor. Não é porque eu digo bom dia pra um que eu não gosto do outro. E sim eu sou fácil. Me vendo por bem pouco. Bem pouquinho mesmo. Se você me der dois segundos de atenção, então eu vou te ouvir. E vou cuidar de você. Mas isso não exclui uma terceira ou mesmo uma quarta pessoa.

Por favor, não delimitem as coisas.
Os dois. Vocês sabem quem são.

Se eu gosto de X, isso não exclui Y. E muito menos excluirá Z, só porque no momento Z está contido no mesmo grupo que X. É só um subgrupo. Eu estou na intersecção desses grupos, ok? Me deixem. Se X e Y não podem dialogar, o problema é de X e de Y. N não tem nada que ver com isso. N quer fazer parte do grupo de todos. E N quer falar com todos. E N quer falar de todos. N gosta muito do grupo T, que é a intersecção de outros dois grupos. Será que não dá pra gente juntar esses grupinhos. N gostaria. Mas acontece que N não manda em porra nenhuma. Então N fica na sua, cuidando da própria vida. Agora, não venham exigir que N fique se policiando com seus assuntos. N gosta de todos, mas sempre gostou e sempre gostará mais de si própria. Porque, no final, o que sobra é apenas esse grupo bem pequeno em que N está contido. Contido e sozinho.

Chega de matemática de amador. A vida é básica.
Tudo fica bem.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Não sei mais em que ato nós estamos e nem que peça é essa. Mas isso aqui tá mais parecendo o Inspetor Geral, dada a grande quantidade de personagens. Eu mesma nem sei mais quem é quem. Mas tenho a leve impressão que daqui pra frente já é o III Ato.

Um jazz, por favor!

Coltrane?

Pode ser.

Está decretado o fim eterno do carnaval.

Pode ser.

Toda vez que ela chorava eu voltava atrás.

Porque é burra.

É.

Mas esse já é o III Ato. Não é permitido falar sobre o passado.

Ah não?

Não.

Me desculpe.

Tudo bem... só não faça de novo, por favor.

Ok.

(silêncio)

E aí?

(silêncio)

Acho que eu não tenho nada pra dizer sobre o presente.

(silêncio)

Nem sobre o futuro.

(silêncio)

Acho que eu não tenho nada pra dizer.

(silêncio)

Quer falar dela?

Não. Tô bem assim, em silêncio.

Um jazz?

Por favor. Coltrane?

Pode ser.

(música)

Acho que essa é a pior coisa que você já escreveu.

Eu sei. Acho que eu escrevia melhor quando estava com ela, ou quando estava com raiva dela.

Pois é... aquela estória de zumbis era tão boa.

Ah, mas o Paul, o Zumbi apareceu antes dela reaparecer.

Mas tecnicamente é da época em que ela ainda estava presente.

Tecnicamente é. Mas eu inventei o Paul, O Zumbi pra outra garota.

Aí é que tá o problema. Você fica inventando estórias e personagens pras garotas por quem você se apaixona. É claro que uma hora ou outra a fonte ia secar. Porque uma hora ou outra você ia ter que não estar apaixonada ou sofrendo por alguém.

Eu sei.

Você só consegue produzir sentidos metafóricos através do sofrimento...

Eu sei.

E isso é terapia, não literatura.

Mas eu nunca disse que isso aqui era literatura. Isso aqui é, sim, sublimação.

Você adora esses sims e nãos entre vírgulas. Disso você podia desistir. Seria tão melhor...

Pára de usar reticências. Reticências me irritam.

Eu sei. É de propósito...

Pára!

Tá bom, eu paro. Mas só se você parar de usar tanta vírgula.

Ponto final pode?

Pode.

Deal.

Posso perguntar uma coisa?

Pode.

Você não acha que isso aqui beira à loucura?

Isso aqui o quê, exatamente?

(silêncio)

Eu nunca consigo diferenciar o que é diálogo do que é narração. E isso é bastante esquizofrênico. Mas nem eu sei direito o que é o quê. Agora, por exemplo, a única coisa que eu sei é que está frio. E é preciso esperar a primavera. Porque depois vem o verão. E todos os amores são de capricórnio. Pelo menos estes aqui. É que não dá pra começar a amar alguém nesse frio insano. Fica tudo congelado. Inclusive as mãos. E pra tocar alguém é preciso ter as mãos aquecidas.
Eu tinha pensado que seria fácil.
Mas cá estamos depois de todo esse tempo e não é nenhum pouco fácil ainda. Eu virei esse brinquedo estragado. Carro sem rodinha, videogueime sem fita, boneca sem braço, controle sem pilha. Eu não acho que tenha sido sempre assim. Se escolho entre dois amores, escolho, além de quem realmente amo, também pela morte do desprezado, já dizia meu amigo.

Eu tinha pensado que seria de sutilezas.
Que qualquer coisa que acontecesse seria leve e bem devagar. E apesar de parecer que a gente vive nesse romance da Jane Austen, cheio de olhares e toques furtivos, não é suave. Não. Suave é a noite. O resto é bastante amargo mesmo. E não digo nada disso pra te culpar. Talvez, sim, você tenha me quebrado. Mas talvez isso seja o amadurecimento de que eu tanto precisava. Relógio sem ponteiro, entende?

Eu tinha pensado que pensar não adiantava.
E te escondi no fundo de uma gaveta qualquer. Junto com o menor vaso de flor que eu já tive. Mas a memória, infelizmente, não tem gavetas, meu bem. E de tanto te encontrar em cada verso, te perdi. Sobrei eu e esse pedestal que eu não consigo destruir.

Eu cansei de metáforas pra coração.
A moda é muito importante e os corações caíram em desuso.
Como num filme de zumbi, desses que te causam sobressaltos, o meu coração parou de pulsar. E não. Eu não morri. Eu continuo aqui contando com esse punhado de palavras vãs que sobram de você. E quando você finalmente trouxer flores será para um encontro póstumo. Porque, por agora, eu nada posso garantir a não ser essa falha trágica. Esse timing imperfeito.

Eu ainda pretendo me contradizer mais umas 19 vezes antes de você chegar. E aí. Aí será tarde demais, percebe? Mesmo que você traga margaridas. Mesmo que você me peça um atalho. Mesmo que você me peça um auxílio. Mesmo que você me peça em casamento. Mesmo que você não me peça nada. Mesmo que eu use essa negativa dupla que se anula. Eu me contradigo até me anular. E então será tarde demais. Eu direi o indizível. Você não pedirá sequer uma prece. Mas eu darei mesmo assim:

eu te amo

quarta-feira, 8 de julho de 2009

guarda as mãos na luva
encolhe os ombros
feito tartaruga
é pôr os pés na calçada
que a madrugada
já te suga
mesmo você muda na calada
eu já planejo a tua fuga
pro nosso esconderijo
que é o coração
uma gruta
é só um êxtase
um bicho já curtido
tão guardado
a luta que eu travo
você desfruta
você me suja
e eu não me lavo

Uma colaboração músico-literária entre:
Luiz Felipe Leprevost, Otávio Liñares, Anna Krassusky, Beatriz Pires Santana e Nina Rosa Sá.