sábado, 31 de janeiro de 2009

Estou escrevendo o Grande Romance Americano. Aquele que todos os escritores loosers de filmes americanos sobre escritores loosers sonham em escrever. Estou escrevendo o Grande Romance Amerciano e ele é bastante auto-biográfico. Mas acho que auto-biográfico não é mais hifenado. Enfim. Estou a escrever. Por enquanto tenho apenas duas frases. E sei que isso é demasiado pouco para um Grande Romance Americano. Mas fazer o quê? Vá lá, digo pra mim, tenho apenas duas frases, mas isso já é alguma coisa.

As duas frases:

"É muito difícil ser uma pessoa gay que adora filmes de zumbi, porque se não te ridicularizam por uma coisa, ridicularizam pela outra."

e

"A primeira vez que eu beijei a garota, que eu sabia não ser a mulher da minha vida, ela chorou."

Por agora tenho apenas isso. Gostaria de ter mais. Gostaria de desenvolver melhor aquela estória da garota zumbi e da garota que alimentava a garota zumbi com partes do seu próprio corpo. Até porque aquela estorinha ficou com um final bastante inconclusivo - e ao mesmo tempo um previsão absurda de futuro - em que a garota não-zumbi entregava seu próprio coração como banquete póstumo.

Ok. Coração entregue. Mas e aí? A garota zumbi comeu? Ela usou o sacrifício final da outra garota para de novo se transformar em uma pessoa apenas viva e não morta-viva?

Bom, meu querido, é o seguinte. Zumbis comedores de carne viva sempre serão zumbis comedores de carne viva. Entende?

Na verdade não.

É claro que ela aceitou o coração. Porque estar em vias de se tornar humano não necessariamente é ser humano.

Então, o que você está dizendo, sei lá eu se metaforica ou literalmente, é que as pessoas - mesmo as mortas-vivas - não mudam.

O que eu estou dizendo, literalmente, é que um processo desses geralmente não é reversível. Metaforicamente cada um entende o que melhor lhe aprouver.

Então você quer dizer que, literalmente, a menina zumbi comeu o coração e permaneceu zumbi. Matou o fome na hora, mas morreu depois? É isso que você está dizendo?

Eu estou dizendo que o caminho é o fim, mais que chegar.

Ei, não se pode parafrasear coisas neste diálogo.

Desculpe.

Mas é isso mesmo? Todo mundo morre no final? Não há esperança?

Sempre há. Se tudo que sabemos do amor é que ele acaba - desculpe, mas eu precisva usar essa - há esperança sim.

Mas como?

Pense. Você entregaria seu coração a alguém acorrentado?

Talvez. Mas espero que não.

Pois é. A menina não-zumbi jamais faria isso. Jamais se sacrificara em vão. Saca?

Mais ou menos.

Sabe aquilo que você disse sobre a pessoa que termina ser responsável pela última mágoa? E precisar saber suportar o peso dessa última mágoa, mesmo que as coisas já estivessem em um inverno nuclear?

Aham, mas ainda não entendi aonde você quer chegar...

A menos que a pessoa seja muito inconseqüente - posso usar esse trema aqui ainda? - ela sabe o peso que terá que carregar. E a menina zumbi se afasta da realidade. Ela entende o peso das coisas.

Hum...

Com isso ela pode não se curar ou se curar. Não importa. O que importa é o peso das coisas.

O peso das coisas...

A menina, antes de entregar o coração, desatou todos os nós. Abriu os cadeados. Destruiu as correntes. Pois se não funcionasse...

A outra estaria livre.

Sim. Você não entrega o seu coração a alguém acorrentado.

Primeiro é necessário libertar.

Exatamente.

Mas você sabe como é que essa estória acaba? Quero dizer, ela se salva?

Ainda não tenho certeza. Mas espero que não. Às vezes é melhor ser um morto-vivo.

Posso perguntar uma coisa?

Pode, mas talvez eu não responda. E não por implicância ou coisa assim, afinal quem telefonou pra você fui eu, mas porque talvez eu ainda não saiba a resposta...

A pergunta é: quem é você?

Não te parece óbvio?

Parece. Mas eu queria ter certeza.

Meu querido, tudo que sabemos sobre certezas é que elas não existem.

Tem razão. Eu, por exemplo, sempre tive certeza de que você jamais usaria uma blusa amarela e rosa, e veja só.

E veja só.

Olhando daqui de cima parece que a única certeza é o chão.

(fim inconcusivo de uma metáfora inconclusiva.)

(o texto faz referência a outro, postado em 18 de setembro de 2008, curiosamente dois dias depois do meu aniversário de 25 anos. estou ficando velha e cada vez mais ranzinza. alguém ainda tem paciência?)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sobre o tripé do bom relacionamento romântico.

Psicanalistas afirmam que para se ter um bom relacionamento três coisas são indispensáveis. São elas:

1) admiração
2) confiança
3) perspectiva de futuro

Eu me pergunto qual será o tripé necessário à boa obra artística. E cheguei a uma conclusão literária. E talvez não-ortodoxa sobre três coisas necessárias para que eu escreva - bem ou mal. São elas:

1) cervejas
2) cigarros
3) dor - física ou espiritual

Será que dá pra substituir um tripé pelo outro?
Ah, os relacionamentos durariam mais.