Estou escrevendo o Grande Romance Americano. Aquele que todos os escritores loosers de filmes americanos sobre escritores loosers sonham em escrever. Estou escrevendo o Grande Romance Amerciano e ele é bastante auto-biográfico. Mas acho que auto-biográfico não é mais hifenado. Enfim. Estou a escrever. Por enquanto tenho apenas duas frases. E sei que isso é demasiado pouco para um Grande Romance Americano. Mas fazer o quê? Vá lá, digo pra mim, tenho apenas duas frases, mas isso já é alguma coisa.
As duas frases:
"É muito difícil ser uma pessoa gay que adora filmes de zumbi, porque se não te ridicularizam por uma coisa, ridicularizam pela outra."
e
"A primeira vez que eu beijei a garota, que eu sabia não ser a mulher da minha vida, ela chorou."
Por agora tenho apenas isso. Gostaria de ter mais. Gostaria de desenvolver melhor aquela estória da garota zumbi e da garota que alimentava a garota zumbi com partes do seu próprio corpo. Até porque aquela estorinha ficou com um final bastante inconclusivo - e ao mesmo tempo um previsão absurda de futuro - em que a garota não-zumbi entregava seu próprio coração como banquete póstumo.
Ok. Coração entregue. Mas e aí? A garota zumbi comeu? Ela usou o sacrifício final da outra garota para de novo se transformar em uma pessoa apenas viva e não morta-viva?
Bom, meu querido, é o seguinte. Zumbis comedores de carne viva sempre serão zumbis comedores de carne viva. Entende?
Na verdade não.
É claro que ela aceitou o coração. Porque estar em vias de se tornar humano não necessariamente é ser humano.
Então, o que você está dizendo, sei lá eu se metaforica ou literalmente, é que as pessoas - mesmo as mortas-vivas - não mudam.
O que eu estou dizendo, literalmente, é que um processo desses geralmente não é reversível. Metaforicamente cada um entende o que melhor lhe aprouver.
Então você quer dizer que, literalmente, a menina zumbi comeu o coração e permaneceu zumbi. Matou o fome na hora, mas morreu depois? É isso que você está dizendo?
Eu estou dizendo que o caminho é o fim, mais que chegar.
Ei, não se pode parafrasear coisas neste diálogo.
Desculpe.
Mas é isso mesmo? Todo mundo morre no final? Não há esperança?
Sempre há. Se tudo que sabemos do amor é que ele acaba - desculpe, mas eu precisva usar essa - há esperança sim.
Mas como?
Pense. Você entregaria seu coração a alguém acorrentado?
Talvez. Mas espero que não.
Pois é. A menina não-zumbi jamais faria isso. Jamais se sacrificara em vão. Saca?
Mais ou menos.
Sabe aquilo que você disse sobre a pessoa que termina ser responsável pela última mágoa? E precisar saber suportar o peso dessa última mágoa, mesmo que as coisas já estivessem em um inverno nuclear?
Aham, mas ainda não entendi aonde você quer chegar...
A menos que a pessoa seja muito inconseqüente - posso usar esse trema aqui ainda? - ela sabe o peso que terá que carregar. E a menina zumbi se afasta da realidade. Ela entende o peso das coisas.
Hum...
Com isso ela pode não se curar ou se curar. Não importa. O que importa é o peso das coisas.
O peso das coisas...
A menina, antes de entregar o coração, desatou todos os nós. Abriu os cadeados. Destruiu as correntes. Pois se não funcionasse...
A outra estaria livre.
Sim. Você não entrega o seu coração a alguém acorrentado.
Primeiro é necessário libertar.
Exatamente.
Mas você sabe como é que essa estória acaba? Quero dizer, ela se salva?
Ainda não tenho certeza. Mas espero que não. Às vezes é melhor ser um morto-vivo.
Posso perguntar uma coisa?
Pode, mas talvez eu não responda. E não por implicância ou coisa assim, afinal quem telefonou pra você fui eu, mas porque talvez eu ainda não saiba a resposta...
A pergunta é: quem é você?
Não te parece óbvio?
Parece. Mas eu queria ter certeza.
Meu querido, tudo que sabemos sobre certezas é que elas não existem.
Tem razão. Eu, por exemplo, sempre tive certeza de que você jamais usaria uma blusa amarela e rosa, e veja só.
E veja só.
Olhando daqui de cima parece que a única certeza é o chão.
(fim inconcusivo de uma metáfora inconclusiva.)
(o texto faz referência a outro, postado em 18 de setembro de 2008, curiosamente dois dias depois do meu aniversário de 25 anos. estou ficando velha e cada vez mais ranzinza. alguém ainda tem paciência?)
sábado, 31 de janeiro de 2009
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Sobre o tripé do bom relacionamento romântico.
Psicanalistas afirmam que para se ter um bom relacionamento três coisas são indispensáveis. São elas:
1) admiração
2) confiança
3) perspectiva de futuro
Eu me pergunto qual será o tripé necessário à boa obra artística. E cheguei a uma conclusão literária. E talvez não-ortodoxa sobre três coisas necessárias para que eu escreva - bem ou mal. São elas:
1) cervejas
2) cigarros
3) dor - física ou espiritual
Será que dá pra substituir um tripé pelo outro?
Ah, os relacionamentos durariam mais.
Psicanalistas afirmam que para se ter um bom relacionamento três coisas são indispensáveis. São elas:
1) admiração
2) confiança
3) perspectiva de futuro
Eu me pergunto qual será o tripé necessário à boa obra artística. E cheguei a uma conclusão literária. E talvez não-ortodoxa sobre três coisas necessárias para que eu escreva - bem ou mal. São elas:
1) cervejas
2) cigarros
3) dor - física ou espiritual
Será que dá pra substituir um tripé pelo outro?
Ah, os relacionamentos durariam mais.
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