sexta-feira, 25 de julho de 2008

O mundo não se esquece de você.

Você abriu aquela caixa e agora veja você.
Você abriu. Abriu-se.
Abriu e não era abril e abriu mesmo assim. E abril.
Pra equinócios de outono.

Você abriu a cerveja e acendeu o cigarro e então se sentou.
Você se sentou no velho lugar de sempre e deixou os pensamentos voando como em Os Pássaros de Hitchcock. E você assistiu Hitchcock Blonde e quis aquela frase perfeita pra você. Você quis. Você quis muito "matar alguém por amor se fosse possível fugir da lei".

O mundo também não se lembra de você. Mas ainda assim não lhe esquece.
Ouça o que os outros têm a dizer.
Ouça o que eu tenho a dizer.

O mundo pode parecer bom aqui nesse intervalo. Pode parecer realmente bom aqui nesse intervalo. Nesse intervalo de tempo. Nesse pequeno intervalo de horas comigo.
Numa espécie de nave espacial. Pra que tudo se desfaça. Vire líquido. Fluído. Fluido.
O mundo pode ser bom se você deixar ser. Se você disser "ok, pra sempre então..."

Vem cá.

Ok. Pra sempre então.

Pra sempre parece tempo demais.

Minha única noção de pra sempre é essa. Aqui.

Minha noção de casa é essa. Aqui.

Fiquei imaginando a possibilidade da nossa casa.

Não fique.

Não. Fique.

O mundo parece ser apenas isso aqui. Essa cama. Esse colchão. Nesse caso, o mundo realmente não se esquece de você. Nesse caso o mundo só consegue lembrar de você. É somente questão de ouvir.

****

Todas as vezes. É incrível como na grande maioria das vezes que eu sento aqui existe um bem alcóolico na minha frente. E cigarros.

****

Tinha um diálogo novo em que um personagem dizia pro outro que só conseguia imaginar o pra sempre quando pensava nele - no outro. Ao que o outro respondia que o um era exatamente a sua noção de casa. Mas a parte mais difícil de escrever roteiros é justamente essa. Os diálogos. Vamos manter as coisas na escaleta. Não. Porque essa é justamente a parte mais fácil de escrever roteiros. Os diálogos.

O eu te amo fica em outro sentido.

O eu te amo deveria ser mais fácil.

O eu te amo é superestimado.

O eu te amo é a mesma coisa que sanduíche de queijo.

O eu te amo é honesto.

Não. Não é.

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E havia naquele texto uma porção de idéias sobre o que é o I Love You. I Coraçãozinho You. Eu coraçãozinho Você. Eu te amo. Eu carrego aqui ó. Percebe que junto com o meu vai o teu? Perecebe que o e.e. cummings escreveu antes que eu exatamente o que eu queria te dizer? Só que eu precisava que fosse uma coisa dessas, assim, bem originais. E eu tenho um coração. Que não pede nada. Nem grita. Nem bate direito. Eu sou um zumbi. Eu sou Paul, o Zumbi. E tenho esse batimento cardíaco fraco. E estou ficando completmante irritada. Tum tum. Tum tum. Tum tum me irrita. Pára! Tira esse treco daqui.

E havia naquele texto uma porção de bobagens. Mas eram as minhas bobagens. E elas eram todas sobre você. E elas eram todas para você.

E havia naquele texto um tipo de honestidade impossível nos dias de hoje. Quando os dias se tornaram insustentáveis. E as noites insuportáveis. Nesse tempo, o tempo de agora, e que agora de desfaz, não há espaço pra honestidade. Porque foram muitas cervejas. Muitos cigarros. Muitas outras bocas. O coração continua aqui. Mas eu não quero. Está tudo bem. O coração continua batendo. Ok, pra sempre então.

****

O mundo se lembra muito bem do que é passado. O mundo sabe muito bem do presente.

Acredite em mim, meu bem, o mundo parece bom.

(Paul, o Zumbi se sentou na cadeira e chorou.)

(a menina bebeu um gole de cerveja e não chorou.)

(pausa)

(a menina olhou para os dois lados antes de atravessar a rua.)

(pausa longa)

(a menina olhou para o lado direito. e sorriu.)

(Paul, o Zumbi se recompôs das lágrimas de zumbi. e olhou para sua esquerda.)

(pausa)

(quatro olhos se encontraram. dois deles meio vivos. dois deles mortos-vivos.)

(pausa média)

(Paul, o Zumbi sorriu.)

Veja você, sobramos nós. Isso é o seu coração?

Um comentário:

Reka disse...

Os Pássaros é, sem sombra de dúvida, o melhor filme já feito no mundo (com pequenas discussões internas minhas entre tal filme e big lebowski, mas isso são outros quinhentos).

Gostei do blog, o Luiz Felipe vivia falando nele (e como o rapaz fala!).