quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sobre corações jacu. Sobre corações iconográficos. Sobre tijolos e pedras e concreto que erguem cidades e estados e nações.

Sobre uma cerveja azul aberta em um dia frio. Sobre um cigarro de filtro vermelho bastante cênico.

Sobre datas não-comemorativas. Sobre dias difíceis.

A minha história, eu queria que fosse escrita com "es". Como em estória. Mas o "es" caiu em desuso. Bem como os corações. Porque várias coisas caem em desuso de um inverno para outro. De uma primavera a outra. Sobre "Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera". Sobre mais um filme incabado. Ou nem começado.

A minha estória começaria no verão. Embora eu ache que todo amor seja de capricórnio, a minha estória começaria no final de outubro. Começo de verão. Mas acho que amor, amor mesmo, só em dezembro. A minha estória começaria no verão com a frase "me ouça sem que eu diga coisa alguma". A minha estória começaria no verão com a frase "me ouça sem que eu diga coisa alguma" e acabaria em um inverno nuclear.
Invernos nucleares são coisas de peça do Heiner Müller. Então acabaria num inverno nuclear com a protagonista presa num galpão com correntes fortes. A protagonista presa num galpão porque foi transformada em um zumbi e a menina que ela amava não teve coragem de decepar-lhe a cabeça. Muito menos de atear fogo em seu pequeno corpo zumbi, agora com uns pedaços faltando.

Mas acontece que na minha estória a menina/protagonista/zumbi ainda teria um ritmo fraco no peito. Um batimentozinho cardíaco leve. E terminações nervosas funcionando. E um pensamento certo. O pensamento de que nem hecatombes nucleares e invasões zumbi podem acabar com certos amores. Porque no inverno nuclear em que a protagonista se transformou num zumbi após ter um bom pedaço do braço arrancado ela ainda consegue sentir. Ainda consegue ouvir sem que coisa alguma seja dita.

Será que um coração zumbi ainda é um coração de jacu? Ou agora somente um coração iconográfico?

De tijolos é feito um galpão. Ou de madeira. É. De madeira é mais usual. Mas também a madeira - junto com o "es" - caiu em desuso depois do inverno. Então tijolos servem de casa para uma alma zumbi que ainda sente, que ainda ouve, que ainda é. Embora não seja.

Como se alimenta um zumbi sem cometer assassinato? Ou ser cúmplice de um assassinato?
A resposta é simples: não se alimenta.

Então a menina que não tinha virado um zumbi, mas também havia se apaixonado em dezembro, teve um idéia. Uma idéia bastante antropofágica. Sem nenhum caráter cultural. Arrancaria de si própria pedaços com os quais alimentaria a outra menina - aquela, a protagonista, a que tinha virado zumbi em um inverno nuclear. Alimentaria com pequenas porções de si própria.

Entretanto o corpo é finito. E depois, quando o verão dava os primeiros indícios de sua presença, já não havia mais tanto alimento no corpo da menina. Por mais que ela dosasse com muita cautela as refeições. E nenhuma cura parecia possível. A menina zumbi percebeu que situação era insustentável. A menina não-zumbi não desistiria nunca. Nem que precisasse se doar por inteiro. Os ouvidos agora ouviam muito mais do que as palavras. Ouviam todas as interjeições de dor que a menina não deixava escapar. Ouviam o barulho dos ossos, uns contra os outros, aonde não havia mais carne. Ouviam o outro batimento cardíaco, aquele que era forte, ficando fraco. Do olho esquerdo da menina zumbi escorreu um lágrima. Pois sabia que cada um daqueles sons significava fim. Parou de comer. Finalmente compreendeu que o fim deveria partir dela. Deveria ter partido dela. Deveria ter partido dela numa outra, agora distante, primavera. O fim , então, partiu. As correntes não poderiam ser partidas, tanto quanto a greve de fome a que a menina zumbi havia imposto. Sem poder fugir definharia.

Curiosamente o fraco batimento cardíaco, meio morto meio vivo, começou a ficar mais forte. E todas as terminações nervosas faziam muito mais conexões. Ainda era pouco. Não se muda um zumbi da noite para o dia. Não se muda um zumbi nem mesmo de um ano para outro. Mas o que era apenas adivinhação parecia se tornar verdade. Se agüentassem por mais um tempo dessa maneira talvez a condição fosse revertida. A possibilidade da redenção se apresentava. Contudo de maneira bastante árdua. Parecia ser impossível a sobrevivência de ambas. Ou a greve de fome venceria e apenas uma delas continuaria viva. Ou a alimentação diária com pedaços do próprio corpo venceria e apenas uma delas continuaria viva. Mas a possibilidade se apresentava. Ínfima. Mas ali. Presente.

(enquanto eu escrevo o absurdo de uma estória de amor-zumbi você está pegando um ônibus pra vir pra cá. de maneira que o único fim que eu posso dar para esta estória é aquele que a gente já conhece. eu trago o meu cigarro uma última vez antes de escrever aquilo que eu não gostaria. bebo um derradeiro gole da cerveja antes de acabar essa aventura. e digo, com os meus olhos e estas malordenadas palavras, aquilo que você já sabe. eu digo sim. eu quero sims.)

A menina que não havia se tornado um zumbi arranca do peito o coração. E o oferece como banquete póstumo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

She´s not coming back...

I know.

But she thought, just a while back, she thought...

She thought life could be easy.

Yeah. That sounds about right.

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happy birthday to me...
happy birthday to me...
e o troféu abacaxi!


tinha pensado nisso assim.
no ônibus.
indo direto pra PUC.
troféu abacaxi.
ah. porque eu ainda renego o sexto sentido?

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Veja bem...

Eu tenho essa teoria de que esses dias de anos mais a gente sempre passa meio deprimido. Entende?

(entende? é uma coisa de um velho amigo...)

Ando nostálgica.
Nostálgica sei lá do que...

Tudo bem. Eu também odeio aniversários...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Alguém já saltou de um ônibus em movimento por você? Por mim já...

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Não nos ateremos à narrativa desta estória/história. Não nos ateremos ao fato de que, sim, alguém pulou de um ôibus. Sim, o ônibus se movia. Não. Aqui gostaríamos de narrar a série de acontecimentos que nos levam praquele exato momento em que uma menina salta de um ônibus em movimento.

Imaginem a forma da dor.
Imaginem que isso invade a sua alma. E que não existe remédio no mundo pra isso que vocês sentem. Todas as cervejas do mundo poderiam ser bebidas. Todos os cigarros do mundo poderiam ser fumados. Todas as drogas do mundo poderiam ser usadas. E a forma ali. Permeando tudo.

Isso, apenas, poderia fazer com que alguém saltasse de um ônibus. Mas não. Não foi por isso.

Vejam, a dor é superestimada.

Quando a menina finalmente resolveu que "ok, tudo bem sofrer, mas isso está ficando ridículo", foi que as possibilidades e o evento do ônibus puderam acontecer.

[Se hoje eu tenho unhas pintadas de vermelho e escrevo a palavra saudade mais do que o habitual. Se hoje eu tento diminuir o número de cigarros e rio sozinha durante o dia. Se hoje eu agradeço à tecnologia. Bem, tudo isso é culpa sua.]

A menina disse pra si mesma: "garota, você tem que parar de querer ser rock´n´roll. sua alma fica melhor bossa nova". E então ela encontrou toda a bossa de que precisava. E com bossa nova, acreditem, veio a coragem. Por coragem entenda-se ter dito para outra menina, numa madrugada fria e esquisita, que ela - a menina rock´n´roll - ia beijá-la. E a outra menina - que era meio bossa nova meio samba - deixou.

E esse é o primeiro evento que desembocará no ônibus em movimento. E numa menina que salta desse mesmo ônibus em movimento.

[Eu não consigo fazer uma canção. Mas se eu tento é porque você gera música em mim. Por todo o meu corpo. Aonde existia apenas a disformidade da dor.]

eu peço licença. mas este texto eu preciso terminar - ou não - assim:

TO BE CONTINUED