Eu estou pronta para ter o meu coração partido, porque eu não posso ver além do meu próprio nariz nesse momento.
A música no som parece ter vindo de algum álbum do Roberto Carlos. Erro número um. Não. Não vem. É uma outra coisa. E a menina canta em inglês. Estados Unidos ou Inglaterra? Erro número dois. É um outro país. Escócia. Lá onde tem as famigeradas gaitas de fole? Lá onde tem as famigeradas gaitas de fole.
Eu tive que sussurrar.
Com cervejas. Hoje é o dia da espera. Por que? Por que ela não liga?
Com cigarros. Hoje é o dia do calabouço. Por que? Por que eu não consigo sair?
Nós temos milhares de amigos e roupas bonitas e uma carinha de anjo. Então? Então volta. Vamos deixar esse país. Vamos para um lugar quente. Será que você não vê as lágrimas nos meus olhos? Vamos deixar esse país. É o único jeito. Não. Esse é o seu jeito. Será que você não consegue ver as lágrimas nos meus olhos? Elas estão gritando que o amor acabou. Vamos deixar esse país. Não, eu vou ficar. Mas você não vai. Você vai deixar o país. Não. Não vou. Sem você não. Amor, você sempre vai estar por aqui. Então me diga uma coisa que você não entende. Você não vai ficar. Você não vê as lágrimas? Os sonhos. Os sonhos vão te levar para bem longe. Não. Você nunca fica.
Por que o amor acontece mais fácil no verão? Em dezembro. O que? Eu e você. Em dezembro. Não foi em janeiro? Em janeiro a gente admitiu. Mas foi em dezembro. Talvez tenha sido um longo processo. Talvez tenha começado na primavera. Não. Eu tenho certeza que foi em dezembro. Você acha que já ta na hora de te esquecer? Afinal, já é quase primavera. Mas está tão frio ainda. Eu sei. Mas já é quase primavera. Quase hora de se apaixonar de novo. O inverno ainda não acabou. E se você quiser se apaixonar em dezembro tudo bem. Ainda temos tempo. Você não acha que já é hora de me esquecer? Não. Tem três meses ainda pra isso. Já é hora. Seis e quarenta e oito.
O último competidor acaba de atravessar a linha de chegada. Ele cai. Muitos médicos em volta do corpo caído. Ele não parou. Ele terminou a prova num tempo recorde. Nunca ninguém levou tanto tempo quanto ele. Eu abrirei meu cérebro. Você vai me deixar um dia. (Som de teclado e gaita). A ajuda começa a se acumular em torno dele. Informações novas. Parece que ele já não respira. Sim. Ele já não respira. Acaba de chegar a ambulância. O que é que eu vou fazer? Eu vou rezar. E você. Você vai me abandonar. A ambulância. Os médicos. Todos em volta do corpo caído na pista. Ele completou a prova. Ele completou a prova num último esforço. Eu sabia que você me deixaria um dia. Mas completou a prova. Completou a prova num país estrangeiro. Ele saiu do seu país para isso. E aqui está. Ambulância. Médicos. Tudo resultou inútil. Mas ele completou a prova. Eu sabia. Sabia que você me deixaria um dia. Você não vê? Não vê as lágrimas?
(pausa para o cigarro.)
(com o cigarro na boca. Porque agora é agora.)
Eu nunca durmo. Eu nunca quero dormir. Meu medo é abrir os olhos. Acordar. E você não estar mais ali.
Baixo e bateria são sempre melhores do que todo o resto. E aí. E aí volta o teclado.
Diz pra onde você quer ir. Nós iremos. Você tem que ir. Então nós iremos. Não há mais tempo. Se é verdade, então por que nós estamos aqui? Verdade. Palavrinha difícil. E não é?
Parece uma música dos anos 80. Erro número três. É bem de agora. Eu lá tenho culpa de que a música muda completamente depois de meio minuto? Então não julgue antes de meio minuto. Lloyd Cole? Eu não acabei de dizer que a coisa é de agora? Bem de agora? Desculpa. Ignorante!
Por que você fez isso? Pra deixar tudo ruim de novo. Porque eu não agüento mais. Porque eu bebi algumas cervejas. Eu te odeio quando você bebe algumas cervejas. Você me odiaria mais se eu não bebesse algumas cervejas. Eu tenho que te deixar partir. Sim. Por favor. Me diga alguma coisa que me deixe partir. Eu conheci alguém. Você. Eu nunca imaginei que. Eu sei. Mas de certo modo eu estou feliz. Porque agora. Agora, bem, agora eu posso partir. Eu acho. Eu estou te dizendo isso porque quero deixar você partir. Eu nunca me senti assim antes. É como se o céu se abrisse e finalmente o mundo fosse um lugar bom. Existe um limite entre honestidade e sadismo. Desculpe. Eu não sei mais o que dizer. Então cale a boca. Você se apaixonou. Ok. Mas cale essa boca por favor. Quando foi? Quando foi que você me superou? Olha, eu não tenho culpa se você não conseguiu esquecer. Mas a escolha foi sua. Eu fiquei aqui. Fiquei para trás. E tive que me acostumar a ver a sua felicidade engarrafada pelas notícias distantes. Pelos comerciais de margarina e programas de tv ruins. Não. Programas de tv ruins não! Programas de tv bem ruins. Desculpe. Mas de tudo que aconteceu o pior foram os programas de tv. Cala a boca. Não calo. Porque eu cansei. Você entende? Cansei. Cansei dessa ladainha. De você não me deixar partir. E ficar remoendo todos os dias algo que nunca aconteceu. Eu estou apaixonada e agora o mundo é um lugar bom. Que bom pra você. Tomara que esse cara se revele um babaca. Cala a boca você agora. Esse cara que você espera que seja um babaca me trata como você nunca foi capaz. E perto dele eu me sinto bem. Como eu nunca me senti antes. Como eu nunca me senti com você. Então pense duas, três, vinte vezes antes de abrir a sua boca pra falar dele. Você passou dos limites. Todas as barreiras foram rompidas. Eu estou indo embora. Embora. Pra onde? Eu vou pro México. Novas possibilidades. E nunca mais pensar em você. Não vá!
terça-feira, 21 de agosto de 2007
terça-feira, 7 de agosto de 2007
A menina tenta. Tenta em vão. Tenta não desistir.
But I don´t feel like dancing. No sir, no dancing today.
A menina que agradecia. A menina que fumava. A menina que acreditava um pouco no mundo. Que comprava aquelas coisas de limpar o vidro do carro. Não senhor, não dançaremos hoje. A menina tenta.
E escrever peças de teatro. Uma que comece do final. E na qual não existam parâmetros. É só sobre amor, entende? Não é sobre futuro. Só sobre amor. Eu nunca chorei nos braços de outro alguém do modo como chorei nos seus. Está aí uma boa frase de efeito. Pena que não é minha. É de uma canção do The Dears. 22 - The Death of All the Romance. A morte de todo romance. Apressar o amor não leva a lugar nenhum. Uma peça de teatro. Começa pelo fim. E por isso não é sobre futuro. Sobre amor. Sobre amores e partidas. Sobre partidas. De xadrez. De ping-pong. A sua. A minha. Uma peça com trilha sonora boa. Porque todas elas são assim. Uma trilha sonora boa. Uma trilha sonora boa sobre amor. Quando é que a gente vai aprender que apressar o amor não leva a lugar nenhum?
A menina escreve um filme por dia. Um filme por dia na sua cabeça. Com diálgos e frases de efeito. Coisas que não funcionam bem num papel. Mas o que é que funciona bem no papel? Fasting love will lead us all to nowhere.
Essa deveria começar pelo fim. Porque, eu sei e você sabe, os finais quase sempre não são boa coisa. Todo bom final é triste ou redentor. Este deve ser triste. Para que alguém. Para que alguém, ainda que não do elenco. Alguém possa gritar eu devo vingar a morte de todo romance. I shall. Então, começa-se pelo fim. Porque se o fim está no começo. O que está no fim é o começo. E todo começo presta pra alguma coisa. Nem que seja pra tocar Mushaboom da Feist, que é uma música muito feliz. Dessas boas de dançar. Dessas que não servem para finais tristes. Talvez um final redentor. Então está tudo ao contrário. O fim é o começo e vice-versa. Muito bem. Muito bem. But I don´t feel like dancing. No sir, no dancing today.
Uma frase de efeito para o final do texto. Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Dou-lhe três. Não, nenhuma. Não senhor, nenhuma. Sem frases de efeito para términos. De textos e de relações. Terminemos com o começo. E por que não? A maioria das coisas começa, logo, termina em "oi, tudo bem?"
A menina tenta. Tenta em vão.
Oi. Tudo bem?
But I don´t feel like dancing. No sir, no dancing today.
A menina que agradecia. A menina que fumava. A menina que acreditava um pouco no mundo. Que comprava aquelas coisas de limpar o vidro do carro. Não senhor, não dançaremos hoje. A menina tenta.
E escrever peças de teatro. Uma que comece do final. E na qual não existam parâmetros. É só sobre amor, entende? Não é sobre futuro. Só sobre amor. Eu nunca chorei nos braços de outro alguém do modo como chorei nos seus. Está aí uma boa frase de efeito. Pena que não é minha. É de uma canção do The Dears. 22 - The Death of All the Romance. A morte de todo romance. Apressar o amor não leva a lugar nenhum. Uma peça de teatro. Começa pelo fim. E por isso não é sobre futuro. Sobre amor. Sobre amores e partidas. Sobre partidas. De xadrez. De ping-pong. A sua. A minha. Uma peça com trilha sonora boa. Porque todas elas são assim. Uma trilha sonora boa. Uma trilha sonora boa sobre amor. Quando é que a gente vai aprender que apressar o amor não leva a lugar nenhum?
A menina escreve um filme por dia. Um filme por dia na sua cabeça. Com diálgos e frases de efeito. Coisas que não funcionam bem num papel. Mas o que é que funciona bem no papel? Fasting love will lead us all to nowhere.
Essa deveria começar pelo fim. Porque, eu sei e você sabe, os finais quase sempre não são boa coisa. Todo bom final é triste ou redentor. Este deve ser triste. Para que alguém. Para que alguém, ainda que não do elenco. Alguém possa gritar eu devo vingar a morte de todo romance. I shall. Então, começa-se pelo fim. Porque se o fim está no começo. O que está no fim é o começo. E todo começo presta pra alguma coisa. Nem que seja pra tocar Mushaboom da Feist, que é uma música muito feliz. Dessas boas de dançar. Dessas que não servem para finais tristes. Talvez um final redentor. Então está tudo ao contrário. O fim é o começo e vice-versa. Muito bem. Muito bem. But I don´t feel like dancing. No sir, no dancing today.
Uma frase de efeito para o final do texto. Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Dou-lhe três. Não, nenhuma. Não senhor, nenhuma. Sem frases de efeito para términos. De textos e de relações. Terminemos com o começo. E por que não? A maioria das coisas começa, logo, termina em "oi, tudo bem?"
A menina tenta. Tenta em vão.
Oi. Tudo bem?
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
Sobre The Shins
"Saint Simon"
After all these implements and text designed by intellects
So vexed to find evidently there's just so much that hides
And though the saints of us divine in ancient feeding lines
Their sentiment is just as hard to pluck from the vine
I'm trying hard not to pretend
Allow myself no mock defense
Step into the night
Since I don't have the time nor mind to figure out
The nursery rhymes that helped us out and make a sense of our lives
The cruel uneventful state of apathy releases me
I value them but I won't cry if the time was wiped out
I'm trying hard not to give in
Battened down to fair the wind
Rid my head of this pretense
Allow myself no mock defense
Step into the night...
Mercy's eyes are blue
When she places them in front of you
Nothing holds a roman candle to
The solemn warmth you feel inside
There's no measuring of it
As nothing else is love
I'll try hard not to give in
Battened down to fair the wind
Rid my head of this pretense
Allow myself no mock defense
Step into the night...
Mercy's eyes are blue
When she places them in front of you
Nothing really holds a candle to
The solemn warmth you feel inside of you
After all these implements and text designed by intellects
So vexed to find evidently there's just so much that hides
And though the saints of us divine in ancient feeding lines
Their sentiment is just as hard to pluck from the vine
I'm trying hard not to pretend
Allow myself no mock defense
Step into the night
Since I don't have the time nor mind to figure out
The nursery rhymes that helped us out and make a sense of our lives
The cruel uneventful state of apathy releases me
I value them but I won't cry if the time was wiped out
I'm trying hard not to give in
Battened down to fair the wind
Rid my head of this pretense
Allow myself no mock defense
Step into the night...
Mercy's eyes are blue
When she places them in front of you
Nothing holds a roman candle to
The solemn warmth you feel inside
There's no measuring of it
As nothing else is love
I'll try hard not to give in
Battened down to fair the wind
Rid my head of this pretense
Allow myself no mock defense
Step into the night...
Mercy's eyes are blue
When she places them in front of you
Nothing really holds a candle to
The solemn warmth you feel inside of you
Cena 01
(o protagonista está deitado em uma cama. encara o teto branco. seus olhos azuis parecem vazios. no relógio perto da cabeceira da cama são 06:58. ele continua encarando o teto.)
voz em off:
quando eu era criança eu queria ser escritor. eu brincava que era jornalista. era jornalista mas na verdade queria escrever romances. queria ganhar o pulitzer. e carregava uma pasta. e brincava que fumava. e, de certo modo, brincava que era uma pessoa frustrada. mas ainda assim, tinha um sonho. e sabendo desde muito cedo sobre impossibilidades driblava a vida e fazia do meu sonho algo mais possível. na brincadeira eu era um bom jornalista investigativo, mas muito melhor escritor. muito melhor escritor.
(o relógio marca 07:00. o alarme dispara na virada para 07:01. o protagonista desliga o alarme. e permanece encarando o teto.)
voz em off:
hoja, aos quase trinta anos, não sou escritor. diabos, não sou nem jornalista. não servi pra coisa nenhuma e todo mundo sempre soube. na falta de habilidades criativas. hoje eu sou garçom. e nem sou um muito bom. todos os dias eu estou prestes a ser despedido. mas o dia passa e eu continuo lá. eu derrubo coisas. eu erro. na impossibilidade de um sonho eu não consegui nem encontrar qualquer coisa em que eu fosse realmente bom. e não sirvo muito para relacionamentos também. posso dizer com certeza que ela é infeliz. e eu sou infeliz.
(o protagonista senta. tem o peito nu. a câmera em plano americano.)
(os créditos começam a aparecer no canto de baixo do lado direito da tela. a música começa baixa e vai subindo. saint simon, dos shins.)
voz em off:
quando eu era criança eu queria ser escritor. eu brincava que era jornalista. era jornalista mas na verdade queria escrever romances. queria ganhar o pulitzer. e carregava uma pasta. e brincava que fumava. e, de certo modo, brincava que era uma pessoa frustrada. mas ainda assim, tinha um sonho. e sabendo desde muito cedo sobre impossibilidades driblava a vida e fazia do meu sonho algo mais possível. na brincadeira eu era um bom jornalista investigativo, mas muito melhor escritor. muito melhor escritor.
(o relógio marca 07:00. o alarme dispara na virada para 07:01. o protagonista desliga o alarme. e permanece encarando o teto.)
voz em off:
hoja, aos quase trinta anos, não sou escritor. diabos, não sou nem jornalista. não servi pra coisa nenhuma e todo mundo sempre soube. na falta de habilidades criativas. hoje eu sou garçom. e nem sou um muito bom. todos os dias eu estou prestes a ser despedido. mas o dia passa e eu continuo lá. eu derrubo coisas. eu erro. na impossibilidade de um sonho eu não consegui nem encontrar qualquer coisa em que eu fosse realmente bom. e não sirvo muito para relacionamentos também. posso dizer com certeza que ela é infeliz. e eu sou infeliz.
(o protagonista senta. tem o peito nu. a câmera em plano americano.)
(os créditos começam a aparecer no canto de baixo do lado direito da tela. a música começa baixa e vai subindo. saint simon, dos shins.)
fim da primeira cena.
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