voz em off:
quando eu era criança eu queria ser escritor. eu brincava que era jornalista. era jornalista mas na verdade queria escrever romances. queria ganhar o pulitzer. e carregava uma pasta. e brincava que fumava. e, de certo modo, brincava que era uma pessoa frustrada. mas ainda assim, tinha um sonho. e sabendo desde muito cedo sobre impossibilidades driblava a vida e fazia do meu sonho algo mais possível. na brincadeira eu era um bom jornalista investigativo, mas muito melhor escritor. muito melhor escritor.
(o relógio marca 07:00. o alarme dispara na virada para 07:01. o protagonista desliga o alarme. e permanece encarando o teto.)
voz em off:
hoja, aos quase trinta anos, não sou escritor. diabos, não sou nem jornalista. não servi pra coisa nenhuma e todo mundo sempre soube. na falta de habilidades criativas. hoje eu sou garçom. e nem sou um muito bom. todos os dias eu estou prestes a ser despedido. mas o dia passa e eu continuo lá. eu derrubo coisas. eu erro. na impossibilidade de um sonho eu não consegui nem encontrar qualquer coisa em que eu fosse realmente bom. e não sirvo muito para relacionamentos também. posso dizer com certeza que ela é infeliz. e eu sou infeliz.
(o protagonista senta. tem o peito nu. a câmera em plano americano.)
(os créditos começam a aparecer no canto de baixo do lado direito da tela. a música começa baixa e vai subindo. saint simon, dos shins.)
fim da primeira cena.
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