quarta-feira, 28 de maio de 2008

Tinha umas resoluções novas pra minha vida.

Assim como aquele amigo que diz que vai parar de fazer todas as coisas prejudiciais à saúde. Também eu digo. Vou parar de fazer todas as coisas prejudiciais à saúde. Pelo menos as coisas prejudiciais à saúde mental do indivíduo. No caso, eu.

A primeira era assim. Parar de me relacionar com todas as pessoas que tenham a terminação A-R-A no nome. A primeira resolução fracassou. Não durou 24 horas. Então abandonei todas as outras.

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Sabe aquelas canções que tem uma linha de baixo bem marcada? Que parece que não tem mais nenhum instrumento acompanhando a voz da cantora (sim, porque é sempre uma cantora)? Então. Eu estou ouvindo uma canção assim agora. E me lembra você.

Você precisa parar de lembrar de mim.

Como se eu não soubesse...

(silêncio pouco confortável)

Você sabe o quanto é difícil esquecer?

(longo silêncio pouco confortável)

Eu escrevi um diálogo novo para o filme de zumbis.

Ah é?

É. É sobre como nos filmes de zumbi os protagonistas nunca dizem "ei, vamos pegar muitas armas em uma loja de armas, considerando que a humanidade está praticamente dizimada."

É verdade. Nunca ninguém diz isso nos filmes de zumbi.

No meu filme de zumbis é assim. A personagem diz exatamente isso que eu disse pra você. Para logo em seguida se dar conta de que não faz idéia de onde tem uma loja de armas em Curitiba.

Tem uma ali perto do Müller. Uma que vende materiais esportivos e armas.

Você destruiu o meu diálogo genial.

(longuíssimo silêncio pouco confortável)

É porque esquecer é uma coisa forçada. Lembrar. Lembrar é difícil. Eu esqueço tudo. Nunca lembro o lugar onde as coisas devem ficar. Mas você. Você eu só consigo lembrar.

Você sabe que isso, assim como tudo, é só uma questão de hábito.

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Sobre a indestrutibilidade. De xícaras. De pipas. De zumbis.

Não não. Se você queimar um zumbi...

O ponto não é esse. Xícaras e pipas são muito mais fáceis de destruir do que zumbis. Sim. Eu sei. Acontece que eu queria pôr aqui uma metáfora.

Não é muito boa essa sua metáfora. Desculpe.

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Quando eu era criança eu achava que tudo ia acabar bem. Que toda história merece um final feliz.

É que você viu muita novela...

Odeio quando você usa reticências.

Mas eu sempre sou reticente.

Pois é. Irrita.

Posso propôr que na próxima encarnação a gente se apaixone e não destrua tudo?

Não. Mas você pode propôr que você seja um carrapato.

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As pessoas podem ter resoluções de ano novo sem ser ano novo?

Talvez amar realmente seja não ter que pedir perdão.

Perdão?

É. Perdão.

Não. Eu não entendi.

Perdão.

Tudo bem.

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Para tudo na vida existe um intervalo.
Aberto ou fechado.

Entra o piano.
Em seguida uma cantora de voz doce.
E assim permanece.
Até o fim do ato.
Até o fim da canção.

E quando eu te amei, foi com tudo que eu podia. Pena que não foi o bastante. Eu peço perdão.

Você está sangrando.

Na medida em que as coisas forem ficando masi difíceis eu vou desaparecendo.

(o texto todo deve ser dito por uma única atriz. um atriz que realmente sangra.)

Um comentário:

Alexandre França disse...

Te achei! Bem bonito este teu texto, Nina, embora seja triste pra burro. Uma boa noite de fossa entre cervejas e cigarros às vezes serve de analgésico numa situação destas. Embora a inflamação continue alí, incomodando a memória, dando socos na boca do estômago...bom, pelo menos você tem a opção de escrever à respeito e você escreve bem. A gente se vê por aí. Abração.