então é assim. estamos em alguma cena do III ato. não. estamos numa das primeiras cenas do IV ato. mas você ainda não sabe disso. não sabe que essa divisão em atos é só pra facilitar na minha cabeça a divisão entre águas. eu achava que era preciso esperar o frio passar. que todos os amores eram de capricórnio. que era impossível se apaixonar por alguém num frio insano. que era necessário ter as mãos aquecidas.
eu estive em muitos reinos distantes. todos eles tinham esse cinza predominante em tudo. nas árvores nos castelos nos cavalos nas pessoas. aprendi a gostar desse cinza cheio de listras cinzas quando eu ainda nem sabia que existia outra coisa além dele. mas acontece que de repente as coisas vão sendo pintadas e aparece um verde radiante em todos os cantos. e um pouco de roxo aqui e ali.
acontece que de repente você se vê finalizando o ato junto com o ano e começando a escrever numa espécie de página em branco. como esta aqui. acontece que de repente você se vê tão feliz com o modo como as coisas foram conduzidas que nem mesmo vontade de começar o próximo ato o próximo capítulo a próxima frase você tem. porque acontece que nessa altura do campeonato bem já caberia um "felizes para sempre".
acontece tanta coisa e eu fico só olhando. pra você pros teus olhos pra tua boca. acontece um sem número de revoluções por dia dentro da máquina de lavar que eu contruí com as tuas mãos. acontece exatamente assim e eu receio que ficar discursando sobre a felicidade seja bastante desinteressante para o público em geral. e para públicos específicos também. mas acontece também que isso aqui é pra você.
o que acontece é que você aconteceu e acontecendo me fez desistir daquelas outras estórias de todas as estórias da história da humanidade. acontece que agora eu só aconteço com você. e não preciso de mais nada daquilo. nem de estrelas no céu nem de coelinho na lua. porque o que acontece acontece aqui. na tua casa. na minha. no início do IV ato. cena 1. você entra. e eu sorrio.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Eu fui assistir Onde Vivem os Monstros. E havia uma necessidade muito grande de entender se seria um filme infantil ou adulto. E havia uma expectativa muito grande da minha parte.
Mas a coisa da expectativa começa muito tempo antes, lá num passado já distante quando eu assisti Quero Ser John Malkovich, quando eu já amava o clipe de Praise You do Fatboy Slim, quando eu já tinha chorado litros vendo Adaptação. Eu amava o Spike Jonze por cada movimento que ele executava em sua carreira. E pensar na possibilidade de um diretor que propõe narrativas quase rebuscadas, que se confundem em si mesmas criando um filme infantil – ou pseudo-infantil – era minimamente curioso. Pois bem, junte a isso o fato de o roteiro do filme ter sido escrito por um dos autores que eu mais admiro, o Dave Eggers, e Onde Vivem os Monstros virou o filme mais esperado do ano pra mim.
O filme é uma adaptação de um livro infantil homônimo de Maurice Sendak, um quase conto ilustrado vencedor de diversos prêmios de literatura infantil. Jonze extrapola essa concisão criando uma narrativa extremamente verborrágica, por vezes um pouco explicativa demais, mas delicada e expressiva, sobre amadurecimento e sentimentos em conflito.
O garotinho Max, após uma briga com sua mãe foge de casa e se embrenha numa floresta até chegar a um lugar distante, no qual encontra criaturas enormes, semelhantes a animais. Os monstros proclamam-no, então, seu novo rei. No começo Max se identifica plenamente com Carol e sua personalidade tempestuosa e agressiva. Mas aos poucos a personalidade de cada um dos monstros vai se mostrando apenas como cada uma das facetas do menino. E as situações vividas nesse lugar novo e ideal a representação de situações vividas por ele em casa.
Aos poucos ele vai fazendo as pazes com situações enfrentadas pela ausência total do pai, e parcial da mãe, que trabalha, junto ao descaso da irmã mais velha e percebe onde é seu lugar no mundo. Através da personagem KW ele revive o amor materno e percebe que os monstros não precisam de um rei, e que ele não precisa de um reinado.
O poder do filme está, além de na direção certeira e livre de maneirismos de Jonze, na belíssima direção de fotografia de Lance Acord, que já havia trabalhado com o diretor tanto em Adaptação quanto em Quero Ser John Malkovich. Os sentimentos do menino são recriados com presteza na luz, ou ausência dela, e nos movimentos de câmera. A narrativa é acertada, e cada movimento ou corte serve para imergir o diretor nas possíveis sensações de Max.
Outro trunfo do filme é o trabalho dos atores, com destaque para James Gandolfini (da Família Soprano) como Carol. Jonze trabalhou com os atores em oficinas de criação em que eles reviviam parcialmente as cenas do filme para criar a voz de seus personagens. O som foi gravado em estúdio, com os atores interagindo, ao contrário do que normalmente se vê em filmes de animação. O elenco ainda conta com outros atores brilhantes, como Forest Whitaker, Paul Dano, Chris Cooper, Lauren Ambrose e Catherine O´Hara. Sem contar as interpretações presenciais (digamos assim) do garotinho, Max Records e de Catherine Keener, como sua mãe.
Muito já foi dito sobre a trilha sonora de Onde Vivem os Monstros, criada pela vocalista dos Yeah Yeah Yeahs e ex-namorada do diretor Karen O. A trilha é bastante boa, apesar de funcionar melhor nas cenas de ação. Nas cenas em que há diálogo parece às vezes brigar com o texto ao invés de complementá-lo. Mas como canções à parte da obra cinematográfica são todas muito bonitas.
Algumas críticas já disseram que o filme é verborrágico demais, que não serve para crianças e coisas do gênero. Talvez seja verdade. Mas eu acredito que seria possível para qualquer criança acima de seis anos se divertir e até mesmo se identificar com o personagem principal. E para qualquer adulto se emocionar. Expectativas cumpridas. Não interessa se o filme é para o público infantil ou adulto.
Mas a coisa da expectativa começa muito tempo antes, lá num passado já distante quando eu assisti Quero Ser John Malkovich, quando eu já amava o clipe de Praise You do Fatboy Slim, quando eu já tinha chorado litros vendo Adaptação. Eu amava o Spike Jonze por cada movimento que ele executava em sua carreira. E pensar na possibilidade de um diretor que propõe narrativas quase rebuscadas, que se confundem em si mesmas criando um filme infantil – ou pseudo-infantil – era minimamente curioso. Pois bem, junte a isso o fato de o roteiro do filme ter sido escrito por um dos autores que eu mais admiro, o Dave Eggers, e Onde Vivem os Monstros virou o filme mais esperado do ano pra mim.
O filme é uma adaptação de um livro infantil homônimo de Maurice Sendak, um quase conto ilustrado vencedor de diversos prêmios de literatura infantil. Jonze extrapola essa concisão criando uma narrativa extremamente verborrágica, por vezes um pouco explicativa demais, mas delicada e expressiva, sobre amadurecimento e sentimentos em conflito.
O garotinho Max, após uma briga com sua mãe foge de casa e se embrenha numa floresta até chegar a um lugar distante, no qual encontra criaturas enormes, semelhantes a animais. Os monstros proclamam-no, então, seu novo rei. No começo Max se identifica plenamente com Carol e sua personalidade tempestuosa e agressiva. Mas aos poucos a personalidade de cada um dos monstros vai se mostrando apenas como cada uma das facetas do menino. E as situações vividas nesse lugar novo e ideal a representação de situações vividas por ele em casa.
Aos poucos ele vai fazendo as pazes com situações enfrentadas pela ausência total do pai, e parcial da mãe, que trabalha, junto ao descaso da irmã mais velha e percebe onde é seu lugar no mundo. Através da personagem KW ele revive o amor materno e percebe que os monstros não precisam de um rei, e que ele não precisa de um reinado.
O poder do filme está, além de na direção certeira e livre de maneirismos de Jonze, na belíssima direção de fotografia de Lance Acord, que já havia trabalhado com o diretor tanto em Adaptação quanto em Quero Ser John Malkovich. Os sentimentos do menino são recriados com presteza na luz, ou ausência dela, e nos movimentos de câmera. A narrativa é acertada, e cada movimento ou corte serve para imergir o diretor nas possíveis sensações de Max.
Outro trunfo do filme é o trabalho dos atores, com destaque para James Gandolfini (da Família Soprano) como Carol. Jonze trabalhou com os atores em oficinas de criação em que eles reviviam parcialmente as cenas do filme para criar a voz de seus personagens. O som foi gravado em estúdio, com os atores interagindo, ao contrário do que normalmente se vê em filmes de animação. O elenco ainda conta com outros atores brilhantes, como Forest Whitaker, Paul Dano, Chris Cooper, Lauren Ambrose e Catherine O´Hara. Sem contar as interpretações presenciais (digamos assim) do garotinho, Max Records e de Catherine Keener, como sua mãe.
Muito já foi dito sobre a trilha sonora de Onde Vivem os Monstros, criada pela vocalista dos Yeah Yeah Yeahs e ex-namorada do diretor Karen O. A trilha é bastante boa, apesar de funcionar melhor nas cenas de ação. Nas cenas em que há diálogo parece às vezes brigar com o texto ao invés de complementá-lo. Mas como canções à parte da obra cinematográfica são todas muito bonitas.
Algumas críticas já disseram que o filme é verborrágico demais, que não serve para crianças e coisas do gênero. Talvez seja verdade. Mas eu acredito que seria possível para qualquer criança acima de seis anos se divertir e até mesmo se identificar com o personagem principal. E para qualquer adulto se emocionar. Expectativas cumpridas. Não interessa se o filme é para o público infantil ou adulto.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Hoje estreou em Curitiba mais uma leva de filmes que concorrem a algum Oscar.
No topo da lista Invictus e Guerra ao Terror. Pretendo ver essa semana. E sei que preciso ver Avatar, que esse é o futuro do cinema e blábláblá... eu vou, mas preciso me encher de coragem antes. Tenho preguiça desse tipo de filme.
Estreou aqui também um filme que eu estava esperando ansiosamente: Onde Vivem os Monstros, do Spike Jonze, com trilha da Karen O. Sem dúvida nenhuma vai ser o primeiro filme que eu vou ver nessa semana. Agora só falta O Fantástico senhor Raposo. Daí meu coraçãozinho vai ficar em paz.
No topo da lista Invictus e Guerra ao Terror. Pretendo ver essa semana. E sei que preciso ver Avatar, que esse é o futuro do cinema e blábláblá... eu vou, mas preciso me encher de coragem antes. Tenho preguiça desse tipo de filme.
Estreou aqui também um filme que eu estava esperando ansiosamente: Onde Vivem os Monstros, do Spike Jonze, com trilha da Karen O. Sem dúvida nenhuma vai ser o primeiro filme que eu vou ver nessa semana. Agora só falta O Fantástico senhor Raposo. Daí meu coraçãozinho vai ficar em paz.
SOBRE FILMES CONCORRENDO A UM HOMENZINHO DOURADO
Bom, então saiu a lista dos indicados ao Oscar na terça-feira, e como era de se esperar Avatar teve o maior número de indicações. Nove ao todo, a mesma quantidade de indicações do filme Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow. Curiosidade irônica: Avatar é dirigido por James Cameron, como já é sabido, e Kathryn Bigelow é a ex-mulher do cineasta.
Ainda não tive muito ânimo pra me deslocar até um cinema assistir a Avatar e Guerra ao Terror ainda não estreou por estas bandas. Bem como boa parte dos outros indicados a melhor filme. O que eu já vi até aqui – sim, pretendo assistir a tudo antes da cerimônia de premiação – foi o já comentado Bastardos Inglórios, ainda em 2009 e Amor Sem Escalas.
Eu vi Juno na época do Oscar de 2008. Vi e gostei muitíssimo. Talvez porque eu tenha me identificado com a personagem, talvez porque eu ainda tivesse 24 anos. Não sei. Mas andei pensando bastante sobre o filme nos últimos dias. E, pelo menos na minha memória, a coisa não me pareceu tão impactante. Quer dizer, sim, a trilha sonora da Kymia Dawson é ótima, sim, a Ellen Paige é uma excelente atriz, sim, o roteiro da Diablo Cody é bem bacana, apesar de um pouco inverossímil. Acontece que eu acho que superei o filme. Talvez tenha amadurecido para além dele. Ainda não tenho certeza se Juno não passa mesmo de um filme para adolescentezinhos cheios de referências rock’n’roll, mas tenho plena certeza de que o diretor Jason Reitman é muito mais do que um diretor de filmes pop.
Explico: ele tinha um filme anterior, do qual gosto muito, chamado Obrigado por Fumar, que adotava uma linguagem pop, apesar do conteúdo nem tanto. O filme discutia a responsabilidade das empresas de cigarro. Mas não de maneira profunda e imparcial. Não, o filme era e é uma boa comédia sobre um cara que faz lobby para essas empresas. Daí você vai até o cinema assistir Amor Sem Escalas esperando uma porção de coisas. E não acontece muito do jeito que você esperava. Entretanto isso não é, nem de longe, uma coisa ruim.
Amor Sem Escalas é, definitivamente, um filme maduro. Tanto na temática, quanto na narrativa. É um filme engraçado, apesar de muito triste. Ele conta a estória de Ryan Bingham (George Clooney), um sujeito de 40 anos, completamente desapegado da família, sem amigos ou qualquer tipo de relação humana, que viaja pelos Estados Unidos despedindo pessoas. Nessa vida de aeroporto em aeroporto ele acaba conhecendo uma mulher com quem se envolve, Alex (Vera Farmiga). Quando tudo parece estar indo bem, e ele está prestes a conquistar seu maior objetivo de vida, acumular dez milhões de milhas, uma nova personagem entra na história. Natlie Keener (Anna Kendrick) é contratada pela empresa em que ele trabalha para revolucionar o sistema de demissões e cortar gastos: tudo seria feito de modo virtual. Bingham vê sua estabilidade ameaçada. Para prolongar as viagens um pouco mais se compromete a ensinar o ofício a Natalie, viajando com ela pelo país.
A narrativa é madura porque deixa de lado alguns movimentos de câmera histriônicos e se concentra em mostrar personagens díspares, numa das piores profissões da história da humanidade. A relação entre Ryan e Natalie modifica seus comportamentos e o modo de ambos ver o mundo. O que poderia parecer piegas vira um filme delicado sobre amadurecimento e aceitação nas mãos de Reitman. O roteiro é do próprio diretor, o que também demonstra que ele próprio amadureceu idéias e não apenas o fazer cinematográfico.
Afora a mão segura, honesta e singela ao mesmo tempo, do diretor o filme conta também com atuações impecáveis do trio protagonista. Não à toa Clooney está indicado ao Oscar de melhor ator e, tanto Kendrick quanto Farmiga ao de atriz coadjuvante. Embora seja muito difícil que alguém do elenco de Amor Sem Escalas vá para casa com o homenzinho dourado – a estatueta de melhor ator já tem o nome de Jeff Bridges escrito e a de atriz coadjuvante o de Mo’Nique – não custa nada torcer. Especialmente para Anna Kendrick, que faz um trabalho nada menos que preciso como a jovem de 23 anos descobrindo algumas coisas sobre amadurecer.
Bom, então saiu a lista dos indicados ao Oscar na terça-feira, e como era de se esperar Avatar teve o maior número de indicações. Nove ao todo, a mesma quantidade de indicações do filme Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow. Curiosidade irônica: Avatar é dirigido por James Cameron, como já é sabido, e Kathryn Bigelow é a ex-mulher do cineasta.
Ainda não tive muito ânimo pra me deslocar até um cinema assistir a Avatar e Guerra ao Terror ainda não estreou por estas bandas. Bem como boa parte dos outros indicados a melhor filme. O que eu já vi até aqui – sim, pretendo assistir a tudo antes da cerimônia de premiação – foi o já comentado Bastardos Inglórios, ainda em 2009 e Amor Sem Escalas.
Eu vi Juno na época do Oscar de 2008. Vi e gostei muitíssimo. Talvez porque eu tenha me identificado com a personagem, talvez porque eu ainda tivesse 24 anos. Não sei. Mas andei pensando bastante sobre o filme nos últimos dias. E, pelo menos na minha memória, a coisa não me pareceu tão impactante. Quer dizer, sim, a trilha sonora da Kymia Dawson é ótima, sim, a Ellen Paige é uma excelente atriz, sim, o roteiro da Diablo Cody é bem bacana, apesar de um pouco inverossímil. Acontece que eu acho que superei o filme. Talvez tenha amadurecido para além dele. Ainda não tenho certeza se Juno não passa mesmo de um filme para adolescentezinhos cheios de referências rock’n’roll, mas tenho plena certeza de que o diretor Jason Reitman é muito mais do que um diretor de filmes pop.
Explico: ele tinha um filme anterior, do qual gosto muito, chamado Obrigado por Fumar, que adotava uma linguagem pop, apesar do conteúdo nem tanto. O filme discutia a responsabilidade das empresas de cigarro. Mas não de maneira profunda e imparcial. Não, o filme era e é uma boa comédia sobre um cara que faz lobby para essas empresas. Daí você vai até o cinema assistir Amor Sem Escalas esperando uma porção de coisas. E não acontece muito do jeito que você esperava. Entretanto isso não é, nem de longe, uma coisa ruim.
Amor Sem Escalas é, definitivamente, um filme maduro. Tanto na temática, quanto na narrativa. É um filme engraçado, apesar de muito triste. Ele conta a estória de Ryan Bingham (George Clooney), um sujeito de 40 anos, completamente desapegado da família, sem amigos ou qualquer tipo de relação humana, que viaja pelos Estados Unidos despedindo pessoas. Nessa vida de aeroporto em aeroporto ele acaba conhecendo uma mulher com quem se envolve, Alex (Vera Farmiga). Quando tudo parece estar indo bem, e ele está prestes a conquistar seu maior objetivo de vida, acumular dez milhões de milhas, uma nova personagem entra na história. Natlie Keener (Anna Kendrick) é contratada pela empresa em que ele trabalha para revolucionar o sistema de demissões e cortar gastos: tudo seria feito de modo virtual. Bingham vê sua estabilidade ameaçada. Para prolongar as viagens um pouco mais se compromete a ensinar o ofício a Natalie, viajando com ela pelo país.
A narrativa é madura porque deixa de lado alguns movimentos de câmera histriônicos e se concentra em mostrar personagens díspares, numa das piores profissões da história da humanidade. A relação entre Ryan e Natalie modifica seus comportamentos e o modo de ambos ver o mundo. O que poderia parecer piegas vira um filme delicado sobre amadurecimento e aceitação nas mãos de Reitman. O roteiro é do próprio diretor, o que também demonstra que ele próprio amadureceu idéias e não apenas o fazer cinematográfico.
Afora a mão segura, honesta e singela ao mesmo tempo, do diretor o filme conta também com atuações impecáveis do trio protagonista. Não à toa Clooney está indicado ao Oscar de melhor ator e, tanto Kendrick quanto Farmiga ao de atriz coadjuvante. Embora seja muito difícil que alguém do elenco de Amor Sem Escalas vá para casa com o homenzinho dourado – a estatueta de melhor ator já tem o nome de Jeff Bridges escrito e a de atriz coadjuvante o de Mo’Nique – não custa nada torcer. Especialmente para Anna Kendrick, que faz um trabalho nada menos que preciso como a jovem de 23 anos descobrindo algumas coisas sobre amadurecer.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
SOBRE OS GLOBOS DE OURO
Como alguns de vocês já devem saber no último domingo, dia 17 de janeiro aconteceu em Los Angeles a premiação dos melhores filmes e programas de TV do ano, o Globo de Ouro. A escolha dos prêmios é feita pela associação da crítica estrangeira em Hollywood.
Todo mundo costuma dizer que os Globos de Ouro são um excelente indicativo para o que vai acontecer no Oscar. Bom, confesso que estou com um pouco de medo esse ano. Quer dizer, eu não vi Avatar ainda e não posso dizer se o filme mereceu ou não levar o globo de melhor filme na categoria drama ou se James Cameron mereceu o prêmio de melhor diretor, mas se o Globo de Ouro, que geralmente privilegia o cinema independente um pouco mais do que o Oscar, está abalizando um filme como este fica bem claro que o Oscar será muito previsível.
Este ano poucos filmes de orçamento menor preencheram as categorias dos indicados. E na contagem de prêmios apenas dois filmes menos mainstream levaram alguma coisa. Crazy Heart, que rendeu ao ator (subestimado!!!!) Jeff Bridges seu primeiro globo de melhor ator/drama e um prêmio para a belíssima The Weary Kind, de Ryan Bingham, como melhor canção original. O outro underdog foi Preciosa, que deu à apresentadora Mo’Nique o prêmio de melhor atriz coadjuvante.
O resto foi aquilo que todo mundo meio que já previa. Os troféus de Avatar. Meryl Streep (de Julie & Julia) ganhando de Meryl Streep (de Simplesmente Complicado) e fazendo um discurso muito bacana de apoio ao Haiti, no qual ela falava de como era difícil ficar alegre no momento atual, mas lembrou-se de sua mãe que sempre dizia que devemos nos permitir a alegria, especialmente por sermos pessoas com dinheiro suficiente para ajudar aos outros.
Robert Downey Jr levou o prêmio de melhor ator em filme musical ou comédia, por Sherlock Holmes, batendo o queridinho da critica Daniel Day-Lewis, de Nine (dirigido por Robert Marshall, de Chicago). Nesta categoria mais um filme de menor orçamento e com elenco quase que desconhecido, mas que foi um dos maiores sucessos de bilheterias de 2009 nos Estados Unidos, Se Beber Não Case, levou a melhor. Batendo novamente o filme de Robert Marshall que entrou como um dos filmes com maior número de indicações, mas saiu sem nada.
Nesse Globo de Ouro também aconteceu algo que até então era inimaginável, bem, pelo menos para mim. Sandra Bullock teve não uma, mas duas indicações de melhor atriz, uma por drama (The Blind Side) e outra por comédia ou musical (A Proposta). Na comédia ou musical ela perdeu pra Meryl Streep, como já foi dito, mas levou o prêmio por The Blind Side. Taí, cerimônias de premiação podem ser surpreendentes – para o bem e para o mal. Não vi o filme ainda, logo, não sei qual é o caso aqui.
Dois prêmios fizeram valer a parte cinematográfica da noite. A Fita Branca, de Michael Haneke como melhor filme estrangeiro, que já havia levado a Palma de Ouro em Cannes. E Christoph Waltz, o melhor ator coadjuvante. Indiscutíveis, as duas escolhas. Se Waltz não levasse a melhor seria o maior crime cometido no ano. Como isso não aconteceu a crítica estrangeira será acusada apenas de alguns delitos menores.
O prêmio de melhor roteiro foi uma espécie de troféu-consolação para Jason Reitman, por Amor sem Escalas, que por pouco também não saiu de mãos abanando. E a melhor animação foi Up, como já era previsto, embora esta que vos escreve estivesse torcendo euforicamente para O Fantástico Sr. Raposo, de Wes Anderson.
A parte da premiação para televisão foi bacana. A estreante Glee levou – merecidamente – o prêmio de melhor comédia. Mad Man, de melhor drama. Aqui não posso opinar porque nunca assisti a série, não por falta de vontade, mas por falta de HBO mesmo.
O melhor ator de drama foi Michael C. Hall (por Dexter), que recentemente anunciou que estava com câncer e compareceu a cerimônia usando uma touca. A melhor atriz na mesma categoria foi a veterana Juliana Margulies por The Good Wife. Os dois prêmios extremamente merecidos. Ambos fazem trabalhos no mínimo exemplares em suas séries. Nas mesmas funções, mas na categoria comédia quem levou a melhor foi o ator Alec Baldwin, pela milionésima vez pela engraçadíssima 30 Rock e a atriz Toni Collette, por United States of Tara, que estréia em breve na FOX.
O melhor ator coadjuvante foi o genial John Lithgow, por Dexter e a atriz coadjuvante foi Chloë Sevigny por Big Love. Não dá pra julgar a performance de Sevigny (novamente pela falta de HBO), mas esta coluna torcia pela veterana Jane Lynch, que faz um trabalho primoroso em Glee.
O resumo da ópera é que a premiação para TV além de mais divertida pareceu muito mais coerente. O que nos leva a uma questão importante: será que as melhores coisas produzidas no momento e os melhores profissionais da área estão na televisão? A resposta ainda está em aberto, mas o ponteiro parece se inclinar cada vez mais para o sim. Glee é um exemplo fortíssimo disso. Criatividade, quebra de tabus, bons roteiros, bons atores e um acabamento excelente, coisa que parece estar em falta na indústria cinematográfica, especialmente a parte da criatividade.
Como alguns de vocês já devem saber no último domingo, dia 17 de janeiro aconteceu em Los Angeles a premiação dos melhores filmes e programas de TV do ano, o Globo de Ouro. A escolha dos prêmios é feita pela associação da crítica estrangeira em Hollywood.
Todo mundo costuma dizer que os Globos de Ouro são um excelente indicativo para o que vai acontecer no Oscar. Bom, confesso que estou com um pouco de medo esse ano. Quer dizer, eu não vi Avatar ainda e não posso dizer se o filme mereceu ou não levar o globo de melhor filme na categoria drama ou se James Cameron mereceu o prêmio de melhor diretor, mas se o Globo de Ouro, que geralmente privilegia o cinema independente um pouco mais do que o Oscar, está abalizando um filme como este fica bem claro que o Oscar será muito previsível.
Este ano poucos filmes de orçamento menor preencheram as categorias dos indicados. E na contagem de prêmios apenas dois filmes menos mainstream levaram alguma coisa. Crazy Heart, que rendeu ao ator (subestimado!!!!) Jeff Bridges seu primeiro globo de melhor ator/drama e um prêmio para a belíssima The Weary Kind, de Ryan Bingham, como melhor canção original. O outro underdog foi Preciosa, que deu à apresentadora Mo’Nique o prêmio de melhor atriz coadjuvante.
O resto foi aquilo que todo mundo meio que já previa. Os troféus de Avatar. Meryl Streep (de Julie & Julia) ganhando de Meryl Streep (de Simplesmente Complicado) e fazendo um discurso muito bacana de apoio ao Haiti, no qual ela falava de como era difícil ficar alegre no momento atual, mas lembrou-se de sua mãe que sempre dizia que devemos nos permitir a alegria, especialmente por sermos pessoas com dinheiro suficiente para ajudar aos outros.
Robert Downey Jr levou o prêmio de melhor ator em filme musical ou comédia, por Sherlock Holmes, batendo o queridinho da critica Daniel Day-Lewis, de Nine (dirigido por Robert Marshall, de Chicago). Nesta categoria mais um filme de menor orçamento e com elenco quase que desconhecido, mas que foi um dos maiores sucessos de bilheterias de 2009 nos Estados Unidos, Se Beber Não Case, levou a melhor. Batendo novamente o filme de Robert Marshall que entrou como um dos filmes com maior número de indicações, mas saiu sem nada.
Nesse Globo de Ouro também aconteceu algo que até então era inimaginável, bem, pelo menos para mim. Sandra Bullock teve não uma, mas duas indicações de melhor atriz, uma por drama (The Blind Side) e outra por comédia ou musical (A Proposta). Na comédia ou musical ela perdeu pra Meryl Streep, como já foi dito, mas levou o prêmio por The Blind Side. Taí, cerimônias de premiação podem ser surpreendentes – para o bem e para o mal. Não vi o filme ainda, logo, não sei qual é o caso aqui.
Dois prêmios fizeram valer a parte cinematográfica da noite. A Fita Branca, de Michael Haneke como melhor filme estrangeiro, que já havia levado a Palma de Ouro em Cannes. E Christoph Waltz, o melhor ator coadjuvante. Indiscutíveis, as duas escolhas. Se Waltz não levasse a melhor seria o maior crime cometido no ano. Como isso não aconteceu a crítica estrangeira será acusada apenas de alguns delitos menores.
O prêmio de melhor roteiro foi uma espécie de troféu-consolação para Jason Reitman, por Amor sem Escalas, que por pouco também não saiu de mãos abanando. E a melhor animação foi Up, como já era previsto, embora esta que vos escreve estivesse torcendo euforicamente para O Fantástico Sr. Raposo, de Wes Anderson.
A parte da premiação para televisão foi bacana. A estreante Glee levou – merecidamente – o prêmio de melhor comédia. Mad Man, de melhor drama. Aqui não posso opinar porque nunca assisti a série, não por falta de vontade, mas por falta de HBO mesmo.
O melhor ator de drama foi Michael C. Hall (por Dexter), que recentemente anunciou que estava com câncer e compareceu a cerimônia usando uma touca. A melhor atriz na mesma categoria foi a veterana Juliana Margulies por The Good Wife. Os dois prêmios extremamente merecidos. Ambos fazem trabalhos no mínimo exemplares em suas séries. Nas mesmas funções, mas na categoria comédia quem levou a melhor foi o ator Alec Baldwin, pela milionésima vez pela engraçadíssima 30 Rock e a atriz Toni Collette, por United States of Tara, que estréia em breve na FOX.
O melhor ator coadjuvante foi o genial John Lithgow, por Dexter e a atriz coadjuvante foi Chloë Sevigny por Big Love. Não dá pra julgar a performance de Sevigny (novamente pela falta de HBO), mas esta coluna torcia pela veterana Jane Lynch, que faz um trabalho primoroso em Glee.
O resumo da ópera é que a premiação para TV além de mais divertida pareceu muito mais coerente. O que nos leva a uma questão importante: será que as melhores coisas produzidas no momento e os melhores profissionais da área estão na televisão? A resposta ainda está em aberto, mas o ponteiro parece se inclinar cada vez mais para o sim. Glee é um exemplo fortíssimo disso. Criatividade, quebra de tabus, bons roteiros, bons atores e um acabamento excelente, coisa que parece estar em falta na indústria cinematográfica, especialmente a parte da criatividade.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
PARA UMA RETROSPECTIVA PROLIXAMENTE PROLIXA SOBRE O AMOR EM 2009
Nessa fase qualquer canção do Los Hermanos me fazia chorar e tive que deixar o Little Joy de lado. Bem de lado. Voltei a ouvir as canções mais sombrias possíveis. Ao mesmo tempo consegui achar algum conforto no pop radiofônico da Katy Perry e me identifiquei profundamente com a letra de Hot´n´Cold. Mais que isso, identifiquei minha ex nessa canção. E cantei aos berros o verso "you don´t really wanna stay GO" durante os meses que sucederam o término. A raiva que esta canção maravilhosamente pop me ajudava a liberar foi fundamental para superação da fossa. Com algumas recaídas fui me equilibrando no salto. Equilibrando literalmente porque este período foi marcado por doses homéricas de cerveja e outros bens etílicos. E fui alternando camções pop, como Backfire at the Disco do Wombats com canções tristes e antigas de Billie Holiday e Chet Baker.
No cinema tive muita coisa com que me distrair, afinal o início do ano também é a época do Oscar, então sempre tem uma porção de filmes minimamente decentes em cartaz. E pra tentar dar um mínimo de sossego à minha alma amargurada me enfiei em diversar salas escuras. Às vezes sozinha, às vezes acompanhada. E assim acabei vendo aquele que eu considero o filme mais amargo já feito, Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes e com o mesmo casal protagonista de Titanic: Kate Winslet e Leonardo DiCaprio. O filme é bastante bom, é verdade que um pouco deprimente, mas condizia perfeitamente com a época. O trabalho dos atores é sólido, inclusive do DiCaprio, mas o destaque da coisa toda é a Kate. Ela é simplesmente incrível, transforma o simples ato de fumar um cigarro numa ação carregada de mil significados, todos transmtidos com o corpo inteiro imóvel, a não ser pela mão que leva o cigarro a boca.
Na mesma época, acredito inclusive que foi no mesmo dia, assisti a um dos filmes mais doces do ano. Benjamin Buttons é um filme bacana porque revela um Brad Pitt muito mais maduro, interpretando quase que com perfeição o personagem título nessa retomada da parceria entre ele e o diretor David Fincher (de Seven e Clube da Luta). A estória é uma adaptação de um conto de F. Scott Fitzgerald sobre um homem com uma estranha doença: ele nasce velho e vai rejuvenescendo ao longo dos anos. A narrativa é muito bem construída e Pitt está cercado de excelentes atores que dão densidade ao drama. Esse eu assisti com o meu amigo Luiz Felipe e quase morremos os dois de tanto chorar.
Com esse mesmo amigo também assisti - quase que obrigada por ele - O Lutador. Esse tipo de filme não faz muito o meu estilo, mas eu estava minimamente curiosa por ser um filme do Darren Aronofski e porque toda a crítica andava comentando - pro bem e pro mal - a atuação do Mickey Rourke. Pois bem, lá fui eu. E até que era bom ver uma drama tão absurdo, um personagem tão extremamente looser nesse período da minha vida. E sim, o Felipe tinha razão, o Mickey Rourke é um monstro. O que ele faz em cena não é bolinho, aquilo ali é auto-exposição impiedosa. Vale dizer que a cena em que toca Sweet Child o´Mine do Guns é tão boa, mas tão boa, que por alguns minutos eu parei de odiar a banda.
Algum tempo depois estreou aquele que eu julguei o melhor de todos os filmes da corrida do Oscar 2009. A obra-prima de Gus Van Sant, Milk - A Voz da Liberdade. Eu já estava quase recuperada quando assisti a esse filme e ele me fez chorar do início ao fim. Chorei no comecinho já, na cena em que toca Queen Bitch do Bowie - esta, aliás, uma das canções mais ouvidas por mim em 2009 - e só parei depois dos créditos. A trilha do filme é sensacional e Sean Penn apresenta um personagem primorosamente construído. Ele é Milk, mostrando os níveis mais profundos a que a técnica de um ator pode levar.
Daí pra frente eu já estava naquela fase de cair na balada até de manhã cedo, conhecer pessoas e viver um porre eterno. Nas pistinhas de tudo quanto é bar eu me acabava dançando Gogol Bordelo, Ting Tings, a já mencionada Katy Perry, Cpoacabana Club (que eu acho bem mais ou menos) e outras coisinhas interessantes, porém não muito marcantes. Tava meio sem saco pra modernidade, me deu vontade de ouvir coisas antigas como os primeiros discos do Belle and Sebastian. Também fiquei com preguiça de ir ao cinema e só voltei pra ver uma sessão única do filme Canções de Amor, do Christophe Honoré. Um filme incrível com atuações brilhantes, especialmente de Louis Garrel. O filme é um musical dramático, uma homengaem a Nouvelle Vague, especialmente aos filmes de Godard.
Nesse momento eu já estava bem melhor, bem melhor mesmo, e jurava que estava apaixonada por outra garota. Eu achava que estava e isso até que foi bom. E isso me levou a rever filmes e gravar cd´s com músics antigas, porque a garota por quem eu achava estar apaixonada não entendia nada de cultura pop. E eu tenho essa inclinação à doutrinação.
Eu disse acima que achava estar apaixonada porque hoje eu sei que essa garota, apesar dela ser muito interessante e bacana, foi só um paliativo. Um modo de eu esquecer completamente aquela supracitada ex-namorada. Isso precisava acontecer para que eu conhecesse a garota que hoje é minha namorada sem esse tipo de ranço, de bagagem.
Eu conheci a Camilla num dia 06 de um mês também 06 num desses bares meio insuportáveis de gente moderninha. Eu estava entediadíssima - às vezes essa músicas pop para pistinhas de dança me deixam entediada - e acabei conhecendo um menino que ela acabara de conhecer. E assim ele nos apresentou, embora não conhecesse propriamente nenhuma das duas. Eu acabei conversando muito mais com amiga dela. É necesssário dizer que ela - a Camilla - nunca me deu muita bola. Eu já a havia visto na PUC e tentei algum tipo de contato visual, um sorrisinho inocente... e nada. Ela nem me notou. Mas nesse dia ela meio que foi obrigada a me notar. E também eu estava com a minha indefectível camisa do Fluminense - que em 2009 me deu o imenso prazer de não ser rabaixado - e isso atrai algum tipo de atenção, ainda que mínima. A gente conversou até às seis da manhã e nos dias que se seguiram eu a encontrei no orkut e adicionei e puxei conversa. Virtualmente pelo menos ela parecia mais interessada.
Eu a convidei para ir ao cinema comigo no feriado de Corpus Christi assistir ao excelente filme francês ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Entre os Muros da Escola. Apesar de ter dito que cinema parecia uma boa e que fazia muito tempo que ela não ia... Camilla não apareceu. Depois me mandou uma mensagem dizendo que havia dormido, por isso não tinha ido me encontrar e perguntava o que eu ia fazer na sexta. Sexta, depois do feriado, dia 12 do mês 06. Junho, saca? Então lá fomos nós nos encontrar pela segunda vez (na verdade terceira vez, mas ela não sabia) no dia dos namorados, véspera do dia de Santo Antônio. Dessa vez eu fui bem mais ardilosinha.
Eu descobri, meio que por acaso fuçando no orkut, que ela era fã do Caio Fernando Abreu. Coincidentemente eu havia começado a ensaiar uma peça baseada nos textos dele. E lendo a obra entendi o que aquele Sem Ana, Blues queria dizer no perfil dela. E usei disso. Confesso. Eu sou extremamente timidinha. Logo, não fui sozinha encontra-la no bar, carreguei meu amigo junto. E não conseguia identificar se ela estava interessada ou não, por isso usei essa. Esperei ela ir ao banheiro, dei alguns minutos e quando vi que ela estava voltando comecei a falar desse conto com o meu amigo - outro fã de Caio. De como a estrutura inicial era genial. Sendo a estrutura incial completamente identificável, ela gritou o nome do conto. E assim a gente conseguiu emplacar uma conversa de horas.
Daí pra frente a gente foi se apaixonando e se contaminando de referências pop. Sim, porque a Camilla é esse tipo de gente moderninha antenada às novidades do meio musical que faz listinha das 10 mais no fim do ano. E assim terminou o primeiro semestre de 2009 e começou uma nova fase da minha vida. Eu não estava procurando um relacionamento, mas ela fez com que o Little Joy pudesse ser o tipo de música pra ser feliz, re-significou aquela canção da Katy Perry que eu citei lá no começo e quando a gente ainda nem namorava foi na minha casa cuidar de mim porque eu não estava me sentindo bem. Nesse dia a gente assistiu Um Dia a Casa Cai, porque ela nunca havia visto esse clássico da Sessão da Tarde estrelado pelo Tom Hanks. Assim eu fui me desarmando, até perceber que precisava dela perto de mim. Bem perto. Pra me mandar videozinhos do Hello Saferide e letras de canções do Johnny Cash.
E ela me mostrou a Tiê e Dois virou a nossa música e com certeza está no meu top 10 de 2009. Junto com a Katy Perry e com a Beyonce. Porque ela ria de mim porque eu gostava bastante de All The Single Ladies, mas cantava comigo sempre. E cantava comigo o refrão de Me Adora da Pitty, porque a gente só sabia cantar o refrão. E me mostrou Zero do Yeah Yeah Yeahs e trocou referências sobre Caio Fernando e ajudou muitíssimo na montagem de Chiclete & Som, a peça com textos dele que eu dirigi. E eu a levei ao cinema pra ver três dos filmes que eu mais gostei de ver em 2009. E sei que ela gostou também. Nós vimos Arraste-me Para o Inferno, um terror do meu herói Sam Raimi, Bastardos Inglórios, do Tarantino e simplesmente o melhor filme do ano, que veio reforçando o talento do Brad Pitt e o simpático 500 Dias com Ela, com uma trilha sonora genial.
E agora, com o ano terminando definitivamente ficamos trocando referenciazinhas por e-mail, já que estamos longe. Eu falo de The xx e Norah Jones e ela devolve com uma listinha super cool das 10 mais, na qual estão presente as canções Dois e Hot´n´Cold, e que tem Phoenix e Yeah Yeah Yeahs e Duffy e uma das minhas preferidas, Relator da Scarlett Johansson.
Eu me apaixonei pela Camilla por ela ser esse tipo de pessoa antenadíssima e ligada em cultura pop e por ela fazer listinhas e sempre saber o que tá rolando de novo no mundo e postar coisas no twitter como a música mais tocada da década (que, by the way, foi Chasing Cars do Snow Patrol), mas também por ela ser doce, gentil, honesta, incrivelmente linda - que ninguém é de ferro, né? - inteligente, adorável e, acima de tudo, porque ela se apaixonou por mim também. E no começo disso tudo ela me deixava completamente nervosa e eu sentia que precisava saber mais coisas e ler mais coisas e ouvir mais coisas e ser uma pessoa melhor para impressioná-la. Mas depois eu saquei que ela gostava de quem eu era. Que ela gostava do meu lado extremamente passional. E a gente viajou pra São Paulo numa decisão de última hora pra assistir uma peça do Bob Wilson, uma espécie de herói do teatro contemporâneo. E eu morri de medo e ansiedade, porque queria muitíssimo que ela gostasse, e estava com medo de eu própria não gostar, e ela ficou ansiosa comigo, mas nós amamos Quartett. Foi a melhor coisa que eu vi na vida e pra Camilla foi a segunda melhor, perdeu só pro show da Madonna.
E tudo isso, essa coisa de querer falar sobre cultura pop é só mais uma desculpa pra falar o quanto eu a amo, o quanto ela me faz feliz e eu tenho certeza de que isso é pra sempre.
Queria fazer uma retrospectiva 2009, mas não sabia bem por onde começar. Então resolvi fazer uma coisa bem pessoal. Cronologicamente aqui estão as coisas que foram importantes para mim nesse ano que termina. Coisas que não necessariamente foram lançadas em 2009, mas que foram vistas ou re-vistas por mim neste ano que acaba daqui a pouco.
Comecei o ano namorando, não com a mesma garota que termino o ano namorando. Mas vamos por partes. Comecei o ano ouvindo muitíssimo o primeiro cd do Little Joy, apaixonada pelas letras pungentes do Amarante (do Los Hermanos) com o Fabrizio Moretti (dos Strokes) e pelas melodias quase felizes da maioria das canções. Little Joy, afinal, soava para mim como música pra ser feliz, pra ir pra praia, essas coisas. E dividi o Little Joy mais do que completamente com a garota com quem eu namorava e por quem eu era loucamente apaixonada. Portanto o acontecimento pop mais importante do começo do ano - o show do Little Joy em Curitiba - foi extremamente dilacerante, já que a garota em questão acabara de me dar o pé na bunda e já estava namorando um carinha aí que tocava na banda que ia se apresentar depois do LJ. De repente a banda não tinha apenas canções felizes pra ouvir à beira-mar; ao contrário, as canções eram agora deprimentes, tristes ao extremo, como Evaporar, Don´t Watch me Dancing e, especialmente, No One´s Better Sake. o show foi genial, a presneça de Amarante foi inebriante e a Binki Shapiro foi incrivelmente linda. Chorei e entrei no período a que vou me referir daqui para frente como fossa. Das mais terríveis.
Comecei o ano namorando, não com a mesma garota que termino o ano namorando. Mas vamos por partes. Comecei o ano ouvindo muitíssimo o primeiro cd do Little Joy, apaixonada pelas letras pungentes do Amarante (do Los Hermanos) com o Fabrizio Moretti (dos Strokes) e pelas melodias quase felizes da maioria das canções. Little Joy, afinal, soava para mim como música pra ser feliz, pra ir pra praia, essas coisas. E dividi o Little Joy mais do que completamente com a garota com quem eu namorava e por quem eu era loucamente apaixonada. Portanto o acontecimento pop mais importante do começo do ano - o show do Little Joy em Curitiba - foi extremamente dilacerante, já que a garota em questão acabara de me dar o pé na bunda e já estava namorando um carinha aí que tocava na banda que ia se apresentar depois do LJ. De repente a banda não tinha apenas canções felizes pra ouvir à beira-mar; ao contrário, as canções eram agora deprimentes, tristes ao extremo, como Evaporar, Don´t Watch me Dancing e, especialmente, No One´s Better Sake. o show foi genial, a presneça de Amarante foi inebriante e a Binki Shapiro foi incrivelmente linda. Chorei e entrei no período a que vou me referir daqui para frente como fossa. Das mais terríveis.
Nessa fase qualquer canção do Los Hermanos me fazia chorar e tive que deixar o Little Joy de lado. Bem de lado. Voltei a ouvir as canções mais sombrias possíveis. Ao mesmo tempo consegui achar algum conforto no pop radiofônico da Katy Perry e me identifiquei profundamente com a letra de Hot´n´Cold. Mais que isso, identifiquei minha ex nessa canção. E cantei aos berros o verso "you don´t really wanna stay GO" durante os meses que sucederam o término. A raiva que esta canção maravilhosamente pop me ajudava a liberar foi fundamental para superação da fossa. Com algumas recaídas fui me equilibrando no salto. Equilibrando literalmente porque este período foi marcado por doses homéricas de cerveja e outros bens etílicos. E fui alternando camções pop, como Backfire at the Disco do Wombats com canções tristes e antigas de Billie Holiday e Chet Baker.
Na mesma época, acredito inclusive que foi no mesmo dia, assisti a um dos filmes mais doces do ano. Benjamin Buttons é um filme bacana porque revela um Brad Pitt muito mais maduro, interpretando quase que com perfeição o personagem título nessa retomada da parceria entre ele e o diretor David Fincher (de Seven e Clube da Luta). A estória é uma adaptação de um conto de F. Scott Fitzgerald sobre um homem com uma estranha doença: ele nasce velho e vai rejuvenescendo ao longo dos anos. A narrativa é muito bem construída e Pitt está cercado de excelentes atores que dão densidade ao drama. Esse eu assisti com o meu amigo Luiz Felipe e quase morremos os dois de tanto chorar.
Com esse mesmo amigo também assisti - quase que obrigada por ele - O Lutador. Esse tipo de filme não faz muito o meu estilo, mas eu estava minimamente curiosa por ser um filme do Darren Aronofski e porque toda a crítica andava comentando - pro bem e pro mal - a atuação do Mickey Rourke. Pois bem, lá fui eu. E até que era bom ver uma drama tão absurdo, um personagem tão extremamente looser nesse período da minha vida. E sim, o Felipe tinha razão, o Mickey Rourke é um monstro. O que ele faz em cena não é bolinho, aquilo ali é auto-exposição impiedosa. Vale dizer que a cena em que toca Sweet Child o´Mine do Guns é tão boa, mas tão boa, que por alguns minutos eu parei de odiar a banda.
Algum tempo depois estreou aquele que eu julguei o melhor de todos os filmes da corrida do Oscar 2009. A obra-prima de Gus Van Sant, Milk - A Voz da Liberdade. Eu já estava quase recuperada quando assisti a esse filme e ele me fez chorar do início ao fim. Chorei no comecinho já, na cena em que toca Queen Bitch do Bowie - esta, aliás, uma das canções mais ouvidas por mim em 2009 - e só parei depois dos créditos. A trilha do filme é sensacional e Sean Penn apresenta um personagem primorosamente construído. Ele é Milk, mostrando os níveis mais profundos a que a técnica de um ator pode levar.
Daí pra frente eu já estava naquela fase de cair na balada até de manhã cedo, conhecer pessoas e viver um porre eterno. Nas pistinhas de tudo quanto é bar eu me acabava dançando Gogol Bordelo, Ting Tings, a já mencionada Katy Perry, Cpoacabana Club (que eu acho bem mais ou menos) e outras coisinhas interessantes, porém não muito marcantes. Tava meio sem saco pra modernidade, me deu vontade de ouvir coisas antigas como os primeiros discos do Belle and Sebastian. Também fiquei com preguiça de ir ao cinema e só voltei pra ver uma sessão única do filme Canções de Amor, do Christophe Honoré. Um filme incrível com atuações brilhantes, especialmente de Louis Garrel. O filme é um musical dramático, uma homengaem a Nouvelle Vague, especialmente aos filmes de Godard.
Nesse momento eu já estava bem melhor, bem melhor mesmo, e jurava que estava apaixonada por outra garota. Eu achava que estava e isso até que foi bom. E isso me levou a rever filmes e gravar cd´s com músics antigas, porque a garota por quem eu achava estar apaixonada não entendia nada de cultura pop. E eu tenho essa inclinação à doutrinação.
Eu disse acima que achava estar apaixonada porque hoje eu sei que essa garota, apesar dela ser muito interessante e bacana, foi só um paliativo. Um modo de eu esquecer completamente aquela supracitada ex-namorada. Isso precisava acontecer para que eu conhecesse a garota que hoje é minha namorada sem esse tipo de ranço, de bagagem.
Eu conheci a Camilla num dia 06 de um mês também 06 num desses bares meio insuportáveis de gente moderninha. Eu estava entediadíssima - às vezes essa músicas pop para pistinhas de dança me deixam entediada - e acabei conhecendo um menino que ela acabara de conhecer. E assim ele nos apresentou, embora não conhecesse propriamente nenhuma das duas. Eu acabei conversando muito mais com amiga dela. É necesssário dizer que ela - a Camilla - nunca me deu muita bola. Eu já a havia visto na PUC e tentei algum tipo de contato visual, um sorrisinho inocente... e nada. Ela nem me notou. Mas nesse dia ela meio que foi obrigada a me notar. E também eu estava com a minha indefectível camisa do Fluminense - que em 2009 me deu o imenso prazer de não ser rabaixado - e isso atrai algum tipo de atenção, ainda que mínima. A gente conversou até às seis da manhã e nos dias que se seguiram eu a encontrei no orkut e adicionei e puxei conversa. Virtualmente pelo menos ela parecia mais interessada.
Eu a convidei para ir ao cinema comigo no feriado de Corpus Christi assistir ao excelente filme francês ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Entre os Muros da Escola. Apesar de ter dito que cinema parecia uma boa e que fazia muito tempo que ela não ia... Camilla não apareceu. Depois me mandou uma mensagem dizendo que havia dormido, por isso não tinha ido me encontrar e perguntava o que eu ia fazer na sexta. Sexta, depois do feriado, dia 12 do mês 06. Junho, saca? Então lá fomos nós nos encontrar pela segunda vez (na verdade terceira vez, mas ela não sabia) no dia dos namorados, véspera do dia de Santo Antônio. Dessa vez eu fui bem mais ardilosinha.
Eu descobri, meio que por acaso fuçando no orkut, que ela era fã do Caio Fernando Abreu. Coincidentemente eu havia começado a ensaiar uma peça baseada nos textos dele. E lendo a obra entendi o que aquele Sem Ana, Blues queria dizer no perfil dela. E usei disso. Confesso. Eu sou extremamente timidinha. Logo, não fui sozinha encontra-la no bar, carreguei meu amigo junto. E não conseguia identificar se ela estava interessada ou não, por isso usei essa. Esperei ela ir ao banheiro, dei alguns minutos e quando vi que ela estava voltando comecei a falar desse conto com o meu amigo - outro fã de Caio. De como a estrutura inicial era genial. Sendo a estrutura incial completamente identificável, ela gritou o nome do conto. E assim a gente conseguiu emplacar uma conversa de horas.
Daí pra frente a gente foi se apaixonando e se contaminando de referências pop. Sim, porque a Camilla é esse tipo de gente moderninha antenada às novidades do meio musical que faz listinha das 10 mais no fim do ano. E assim terminou o primeiro semestre de 2009 e começou uma nova fase da minha vida. Eu não estava procurando um relacionamento, mas ela fez com que o Little Joy pudesse ser o tipo de música pra ser feliz, re-significou aquela canção da Katy Perry que eu citei lá no começo e quando a gente ainda nem namorava foi na minha casa cuidar de mim porque eu não estava me sentindo bem. Nesse dia a gente assistiu Um Dia a Casa Cai, porque ela nunca havia visto esse clássico da Sessão da Tarde estrelado pelo Tom Hanks. Assim eu fui me desarmando, até perceber que precisava dela perto de mim. Bem perto. Pra me mandar videozinhos do Hello Saferide e letras de canções do Johnny Cash.
E ela me mostrou a Tiê e Dois virou a nossa música e com certeza está no meu top 10 de 2009. Junto com a Katy Perry e com a Beyonce. Porque ela ria de mim porque eu gostava bastante de All The Single Ladies, mas cantava comigo sempre. E cantava comigo o refrão de Me Adora da Pitty, porque a gente só sabia cantar o refrão. E me mostrou Zero do Yeah Yeah Yeahs e trocou referências sobre Caio Fernando e ajudou muitíssimo na montagem de Chiclete & Som, a peça com textos dele que eu dirigi. E eu a levei ao cinema pra ver três dos filmes que eu mais gostei de ver em 2009. E sei que ela gostou também. Nós vimos Arraste-me Para o Inferno, um terror do meu herói Sam Raimi, Bastardos Inglórios, do Tarantino e simplesmente o melhor filme do ano, que veio reforçando o talento do Brad Pitt e o simpático 500 Dias com Ela, com uma trilha sonora genial.
E agora, com o ano terminando definitivamente ficamos trocando referenciazinhas por e-mail, já que estamos longe. Eu falo de The xx e Norah Jones e ela devolve com uma listinha super cool das 10 mais, na qual estão presente as canções Dois e Hot´n´Cold, e que tem Phoenix e Yeah Yeah Yeahs e Duffy e uma das minhas preferidas, Relator da Scarlett Johansson.
Eu me apaixonei pela Camilla por ela ser esse tipo de pessoa antenadíssima e ligada em cultura pop e por ela fazer listinhas e sempre saber o que tá rolando de novo no mundo e postar coisas no twitter como a música mais tocada da década (que, by the way, foi Chasing Cars do Snow Patrol), mas também por ela ser doce, gentil, honesta, incrivelmente linda - que ninguém é de ferro, né? - inteligente, adorável e, acima de tudo, porque ela se apaixonou por mim também. E no começo disso tudo ela me deixava completamente nervosa e eu sentia que precisava saber mais coisas e ler mais coisas e ouvir mais coisas e ser uma pessoa melhor para impressioná-la. Mas depois eu saquei que ela gostava de quem eu era. Que ela gostava do meu lado extremamente passional. E a gente viajou pra São Paulo numa decisão de última hora pra assistir uma peça do Bob Wilson, uma espécie de herói do teatro contemporâneo. E eu morri de medo e ansiedade, porque queria muitíssimo que ela gostasse, e estava com medo de eu própria não gostar, e ela ficou ansiosa comigo, mas nós amamos Quartett. Foi a melhor coisa que eu vi na vida e pra Camilla foi a segunda melhor, perdeu só pro show da Madonna.
E tudo isso, essa coisa de querer falar sobre cultura pop é só mais uma desculpa pra falar o quanto eu a amo, o quanto ela me faz feliz e eu tenho certeza de que isso é pra sempre.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
A tempestade passou... Não. Isso também é mentira.
Dentro de mim circula esse negócio que eu ainda não sei o que é. Como a fumaça do cigarro que carrega mais de quatro mil substâncias tóxicas que a gente nem sabe direito o que são. Interessa é que esse negócio, essa coisa. Ela circula. Talvez porque eu já tenha estado em vários estados diferentes e saiba mais ou menos quando. Quando.
Dentro de mim existem órgãos, veias, sangue. E essa coisa que eu ainda não sei direito o que é. Mais ou menos como as substâncias tóxicas contidas dentro de cada cigarro. Sim. Porque por agora tenho apenas essa impresão. De que "essa coisa que circula dentro de mim e eu ainda não sei bem o que é" é tóxica. Esse quando.
Não. Eu não fui tão maltratada assim. Não. Eu não fui aprisionada em nenhuma masmorra e forçada a tecer. Eu não passei fome. Eu não estive envolvida em nenhum desastre natural - exceto pela grande enchente de 83, em União da Vitória, mas mesmo assim eu estava dentro da barriga da minha mãe. Eu não fui maltratada o suficiente a ponto de desacreditar. Mas esse quando. Ele permanece. E permanece.
Talvez você tenha razão e essa coisa que percorre as minhas veias junto com o meu sangue. Essa coisa tóxica só exista em decorrência desses maltratozinhos bem pequenos. Tão pequenos que poderiam significar. Ou não. Talvez em decorrência daqueles vários outros quandos. Porque quando o quando aparece uma vez. Ou duas. Ou três. Inevitável achar que o quando vai aparecer outra vez. Com o perdão da rima pobre.
Sobre os quandos só se pode dizer que eles servem tanto para o passado quanto para o futuro. Embora quando faça parte do futuro do subjuntivo. Talvez não deste que eu tento escrever agora. Mas gramaticalmente assim é. E assim é que está.
Sobre os ques. Porque sempre além dos quando existem os "que" e os "se". Se está para o passado assim como quando está para o futuro. Que está para o presente assim como se está para o passado. Gramaticalmente assim está, se assim é.
Porque os quando já vieram. E vieram em bando. E por isso eu os espero sempre. Novamente. Uma vez após a outra. Inevitável que se procure um padrão na vida. Inevitável que se procure um padrão para qualquer coisa. Inclusive para o amor. Inevitável, mesmo que este de agora pareça, assim, tão melhor do que o de ontem. Tão melhor do que o da semana passada. Tão melhor do que todos os outros que já encontraram o seu quando. E que por isso não são mais futuro do subjuntivo. Só passado imperfeito mesmo. Como na frase: "eu te amava, sabe?"
Talvez eu tenha realmente sido maltratada demais. Apesar de nunca ter passado fome, nunca ter sido aprisionada em lugar nenhum, nunca ter sido obrigada a nada, nunca ter estado envolvida em um desastre natural. Talvez eu antecipe o quando. Só pra que eu possa ter o quando dessa vez. Ou da próxima. E por que não o padrão?
Porque dessa vez ninguém vai estragar as coisas na metade do caminho. Porque dessa vez apesar de todos os pesares o amor triunfará. Sim, porque dessa vez ele é tão mais bonito. Porque dessa vez o quando trará apenas continuações. Sem game over. O quando será sempre uma espera ansiosa. Quando eu te encontrar eu vou tal coisa. E o "tal coisa" só será substituído por coisas boas. Como margaridas e girassóis.
Então, não importa se você sente qualquer coisa pulsando, circulando, existindo nas suas veias além de sangue. Não importa, porque é só uma impressãozinha. Dessa vez é só uma impressão. E não se pode permitir que impressões destruam o concreto. Benefício da dúvida. Dúvida razoável. Essas coisas. Você já coloca mais de quatro mil substâncias tóxicas para circular aí todos os dias. Essa não. Por favor. Deixe de lado. Seja um pouco menos você. Fica tudo bem se você deixar você de lado. Só um pouquinho. Do contrário é bagagem demais. E daí podem haver quandos. Esses, não tão bons, quandos. Não importa.
Importa. O céu quase se abre...
Não. Isso também é mentira.
Dentro de mim circula esse negócio que eu ainda não sei o que é. Como a fumaça do cigarro que carrega mais de quatro mil substâncias tóxicas que a gente nem sabe direito o que são. Interessa é que esse negócio, essa coisa. Ela circula. Talvez porque eu já tenha estado em vários estados diferentes e saiba mais ou menos quando. Quando.
Dentro de mim existem órgãos, veias, sangue. E essa coisa que eu ainda não sei direito o que é. Mais ou menos como as substâncias tóxicas contidas dentro de cada cigarro. Sim. Porque por agora tenho apenas essa impresão. De que "essa coisa que circula dentro de mim e eu ainda não sei bem o que é" é tóxica. Esse quando.
Não. Eu não fui tão maltratada assim. Não. Eu não fui aprisionada em nenhuma masmorra e forçada a tecer. Eu não passei fome. Eu não estive envolvida em nenhum desastre natural - exceto pela grande enchente de 83, em União da Vitória, mas mesmo assim eu estava dentro da barriga da minha mãe. Eu não fui maltratada o suficiente a ponto de desacreditar. Mas esse quando. Ele permanece. E permanece.
Talvez você tenha razão e essa coisa que percorre as minhas veias junto com o meu sangue. Essa coisa tóxica só exista em decorrência desses maltratozinhos bem pequenos. Tão pequenos que poderiam significar. Ou não. Talvez em decorrência daqueles vários outros quandos. Porque quando o quando aparece uma vez. Ou duas. Ou três. Inevitável achar que o quando vai aparecer outra vez. Com o perdão da rima pobre.
Sobre os quandos só se pode dizer que eles servem tanto para o passado quanto para o futuro. Embora quando faça parte do futuro do subjuntivo. Talvez não deste que eu tento escrever agora. Mas gramaticalmente assim é. E assim é que está.
Sobre os ques. Porque sempre além dos quando existem os "que" e os "se". Se está para o passado assim como quando está para o futuro. Que está para o presente assim como se está para o passado. Gramaticalmente assim está, se assim é.
Porque os quando já vieram. E vieram em bando. E por isso eu os espero sempre. Novamente. Uma vez após a outra. Inevitável que se procure um padrão na vida. Inevitável que se procure um padrão para qualquer coisa. Inclusive para o amor. Inevitável, mesmo que este de agora pareça, assim, tão melhor do que o de ontem. Tão melhor do que o da semana passada. Tão melhor do que todos os outros que já encontraram o seu quando. E que por isso não são mais futuro do subjuntivo. Só passado imperfeito mesmo. Como na frase: "eu te amava, sabe?"
Talvez eu tenha realmente sido maltratada demais. Apesar de nunca ter passado fome, nunca ter sido aprisionada em lugar nenhum, nunca ter sido obrigada a nada, nunca ter estado envolvida em um desastre natural. Talvez eu antecipe o quando. Só pra que eu possa ter o quando dessa vez. Ou da próxima. E por que não o padrão?
Porque dessa vez ninguém vai estragar as coisas na metade do caminho. Porque dessa vez apesar de todos os pesares o amor triunfará. Sim, porque dessa vez ele é tão mais bonito. Porque dessa vez o quando trará apenas continuações. Sem game over. O quando será sempre uma espera ansiosa. Quando eu te encontrar eu vou tal coisa. E o "tal coisa" só será substituído por coisas boas. Como margaridas e girassóis.
Então, não importa se você sente qualquer coisa pulsando, circulando, existindo nas suas veias além de sangue. Não importa, porque é só uma impressãozinha. Dessa vez é só uma impressão. E não se pode permitir que impressões destruam o concreto. Benefício da dúvida. Dúvida razoável. Essas coisas. Você já coloca mais de quatro mil substâncias tóxicas para circular aí todos os dias. Essa não. Por favor. Deixe de lado. Seja um pouco menos você. Fica tudo bem se você deixar você de lado. Só um pouquinho. Do contrário é bagagem demais. E daí podem haver quandos. Esses, não tão bons, quandos. Não importa.
Importa. O céu quase se abre...
Não. Isso também é mentira.
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