Eu fui assistir Onde Vivem os Monstros. E havia uma necessidade muito grande de entender se seria um filme infantil ou adulto. E havia uma expectativa muito grande da minha parte.
Mas a coisa da expectativa começa muito tempo antes, lá num passado já distante quando eu assisti Quero Ser John Malkovich, quando eu já amava o clipe de Praise You do Fatboy Slim, quando eu já tinha chorado litros vendo Adaptação. Eu amava o Spike Jonze por cada movimento que ele executava em sua carreira. E pensar na possibilidade de um diretor que propõe narrativas quase rebuscadas, que se confundem em si mesmas criando um filme infantil – ou pseudo-infantil – era minimamente curioso. Pois bem, junte a isso o fato de o roteiro do filme ter sido escrito por um dos autores que eu mais admiro, o Dave Eggers, e Onde Vivem os Monstros virou o filme mais esperado do ano pra mim.
O filme é uma adaptação de um livro infantil homônimo de Maurice Sendak, um quase conto ilustrado vencedor de diversos prêmios de literatura infantil. Jonze extrapola essa concisão criando uma narrativa extremamente verborrágica, por vezes um pouco explicativa demais, mas delicada e expressiva, sobre amadurecimento e sentimentos em conflito.
O garotinho Max, após uma briga com sua mãe foge de casa e se embrenha numa floresta até chegar a um lugar distante, no qual encontra criaturas enormes, semelhantes a animais. Os monstros proclamam-no, então, seu novo rei. No começo Max se identifica plenamente com Carol e sua personalidade tempestuosa e agressiva. Mas aos poucos a personalidade de cada um dos monstros vai se mostrando apenas como cada uma das facetas do menino. E as situações vividas nesse lugar novo e ideal a representação de situações vividas por ele em casa.
Aos poucos ele vai fazendo as pazes com situações enfrentadas pela ausência total do pai, e parcial da mãe, que trabalha, junto ao descaso da irmã mais velha e percebe onde é seu lugar no mundo. Através da personagem KW ele revive o amor materno e percebe que os monstros não precisam de um rei, e que ele não precisa de um reinado.
O poder do filme está, além de na direção certeira e livre de maneirismos de Jonze, na belíssima direção de fotografia de Lance Acord, que já havia trabalhado com o diretor tanto em Adaptação quanto em Quero Ser John Malkovich. Os sentimentos do menino são recriados com presteza na luz, ou ausência dela, e nos movimentos de câmera. A narrativa é acertada, e cada movimento ou corte serve para imergir o diretor nas possíveis sensações de Max.
Outro trunfo do filme é o trabalho dos atores, com destaque para James Gandolfini (da Família Soprano) como Carol. Jonze trabalhou com os atores em oficinas de criação em que eles reviviam parcialmente as cenas do filme para criar a voz de seus personagens. O som foi gravado em estúdio, com os atores interagindo, ao contrário do que normalmente se vê em filmes de animação. O elenco ainda conta com outros atores brilhantes, como Forest Whitaker, Paul Dano, Chris Cooper, Lauren Ambrose e Catherine O´Hara. Sem contar as interpretações presenciais (digamos assim) do garotinho, Max Records e de Catherine Keener, como sua mãe.
Muito já foi dito sobre a trilha sonora de Onde Vivem os Monstros, criada pela vocalista dos Yeah Yeah Yeahs e ex-namorada do diretor Karen O. A trilha é bastante boa, apesar de funcionar melhor nas cenas de ação. Nas cenas em que há diálogo parece às vezes brigar com o texto ao invés de complementá-lo. Mas como canções à parte da obra cinematográfica são todas muito bonitas.
Algumas críticas já disseram que o filme é verborrágico demais, que não serve para crianças e coisas do gênero. Talvez seja verdade. Mas eu acredito que seria possível para qualquer criança acima de seis anos se divertir e até mesmo se identificar com o personagem principal. E para qualquer adulto se emocionar. Expectativas cumpridas. Não interessa se o filme é para o público infantil ou adulto.
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