sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

SOBRE FILMES CONCORRENDO A UM HOMENZINHO DOURADO

Bom, então saiu a lista dos indicados ao Oscar na terça-feira, e como era de se esperar Avatar teve o maior número de indicações. Nove ao todo, a mesma quantidade de indicações do filme Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow. Curiosidade irônica: Avatar é dirigido por James Cameron, como já é sabido, e Kathryn Bigelow é a ex-mulher do cineasta.

Ainda não tive muito ânimo pra me deslocar até um cinema assistir a Avatar e Guerra ao Terror ainda não estreou por estas bandas. Bem como boa parte dos outros indicados a melhor filme. O que eu já vi até aqui – sim, pretendo assistir a tudo antes da cerimônia de premiação – foi o já comentado Bastardos Inglórios, ainda em 2009 e Amor Sem Escalas.

Eu vi Juno na época do Oscar de 2008. Vi e gostei muitíssimo. Talvez porque eu tenha me identificado com a personagem, talvez porque eu ainda tivesse 24 anos. Não sei. Mas andei pensando bastante sobre o filme nos últimos dias. E, pelo menos na minha memória, a coisa não me pareceu tão impactante. Quer dizer, sim, a trilha sonora da Kymia Dawson é ótima, sim, a Ellen Paige é uma excelente atriz, sim, o roteiro da Diablo Cody é bem bacana, apesar de um pouco inverossímil. Acontece que eu acho que superei o filme. Talvez tenha amadurecido para além dele. Ainda não tenho certeza se Juno não passa mesmo de um filme para adolescentezinhos cheios de referências rock’n’roll, mas tenho plena certeza de que o diretor Jason Reitman é muito mais do que um diretor de filmes pop.

Explico: ele tinha um filme anterior, do qual gosto muito, chamado Obrigado por Fumar, que adotava uma linguagem pop, apesar do conteúdo nem tanto. O filme discutia a responsabilidade das empresas de cigarro. Mas não de maneira profunda e imparcial. Não, o filme era e é uma boa comédia sobre um cara que faz lobby para essas empresas. Daí você vai até o cinema assistir Amor Sem Escalas esperando uma porção de coisas. E não acontece muito do jeito que você esperava. Entretanto isso não é, nem de longe, uma coisa ruim.

Amor Sem Escalas é, definitivamente, um filme maduro. Tanto na temática, quanto na narrativa. É um filme engraçado, apesar de muito triste. Ele conta a estória de Ryan Bingham (George Clooney), um sujeito de 40 anos, completamente desapegado da família, sem amigos ou qualquer tipo de relação humana, que viaja pelos Estados Unidos despedindo pessoas. Nessa vida de aeroporto em aeroporto ele acaba conhecendo uma mulher com quem se envolve, Alex (Vera Farmiga). Quando tudo parece estar indo bem, e ele está prestes a conquistar seu maior objetivo de vida, acumular dez milhões de milhas, uma nova personagem entra na história. Natlie Keener (Anna Kendrick) é contratada pela empresa em que ele trabalha para revolucionar o sistema de demissões e cortar gastos: tudo seria feito de modo virtual. Bingham vê sua estabilidade ameaçada. Para prolongar as viagens um pouco mais se compromete a ensinar o ofício a Natalie, viajando com ela pelo país.

A narrativa é madura porque deixa de lado alguns movimentos de câmera histriônicos e se concentra em mostrar personagens díspares, numa das piores profissões da história da humanidade. A relação entre Ryan e Natalie modifica seus comportamentos e o modo de ambos ver o mundo. O que poderia parecer piegas vira um filme delicado sobre amadurecimento e aceitação nas mãos de Reitman. O roteiro é do próprio diretor, o que também demonstra que ele próprio amadureceu idéias e não apenas o fazer cinematográfico.

Afora a mão segura, honesta e singela ao mesmo tempo, do diretor o filme conta também com atuações impecáveis do trio protagonista. Não à toa Clooney está indicado ao Oscar de melhor ator e, tanto Kendrick quanto Farmiga ao de atriz coadjuvante. Embora seja muito difícil que alguém do elenco de Amor Sem Escalas vá para casa com o homenzinho dourado – a estatueta de melhor ator já tem o nome de Jeff Bridges escrito e a de atriz coadjuvante o de Mo’Nique – não custa nada torcer. Especialmente para Anna Kendrick, que faz um trabalho nada menos que preciso como a jovem de 23 anos descobrindo algumas coisas sobre amadurecer.

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