domingo, 13 de abril de 2008

"A tempestade passou."

Será que já é possível. Bem, parece que sim.

(arranca do peito o coração. fica um buraco. o coração ensangüentado nas mãos)

Deixa eu ver. Deixa eu ver.

(examina o coração. parece intacto. apesar de ter sido arrancado.)

É isso mesmo. Está intacto. Está pronto.

Pronto?

É, pronto.

Mas pronto pra quê?

Para ser comido no jantar. Acompanhado de batata souté.

Mas não era isso que eu esperava ouvir.

Ah minha querida, mas aí eu já não posso te ajudar. O coração está pronto para ser devorado por executivos engravatados. Você vai ganhar um bom dinheiro por isso.

(pausa)

Mas eu achava...

Não adianta achar nada. Veja, o coração não é mais seu. E admita. Faz tanta falta assim?

(pausa longa)

Eu realmente achava...

Não faz falta.

Eu achava que estava me apaixonando de novo. E que a frase de abertura "a tempestade passou" era justamente sobre isso.

Não. A tempestade passou mesmo. Olhe pela janela. Como é bonito o sol entrando.

(a menina olha pela janela. o coração ainda nas mãos. no peito, o buraco.)

E quanto à isso?

(apontando para o buraco)

Isso cicatriza. E daqui pra frente a existência fica mais tranqüila. Sem desatinos.

Desatinos?

É, desatinos. Desatinos do coração. Agora me passe aqui o seu coração. Precisamos colocá-lo cuidadosamente na bandeja. Dê aqui.

Não.

Isso pode ser feito do jeito fácil ou do jeito difícil...

(a menina enfia o coração no buraco do peito)

Você não devia ter feito isso. Agora vai morrer pobre e infeliz.

(música de redenção ao fundo. a menina faz um discurso lindo sobre o poder de amar e todas essas coisa bregas e piegas que ficam bonitas quando tem uma música redentora ao fundo)

(pausa longa)

Bom, foi muito bom te ver, mas agora eu tenho que ir.

Não esquece o guarda-chuva.

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