sexta-feira, 11 de setembro de 2009

e aí quais são seus planos?

eu procuro, além da poesia, bolhas de sabão. procuro canteiros de margarida. procuro uma veia cava. procuro um lugar novo pra chamar de casa. tem uma máquina de lavar aqui perto. e eu vou enchê-la. porque eu sei que você quer assim. eu vou enchê-la de roupas e bolhas e margaridas e penas.

eu procuro uma coreografia para cigarros. que alterne movimentos rápidos e lentos, pesos e medidas. uma coreografia à quatro ou oito mãos.

quando eu te vi, lá daquela primeira vez, eu não soube instantaneamente. não. eu demorei um pouco. eu te vi e te enxerguei. mas não soube. e eu já vinha não te vendo há tanto tempo. foi só mais uma impossibilidade. você vinha não me vendo há tanto tempo. e nesse dia permaneceu assim. sem enxergar. talvez por fome. talvez por frio. talvez por mau humor. talvez por estar longe de casa numa segunda-feira às nove horas da noite. permaneceu sem me ver. talvez ainda por essa miopia ou coisa que o valha que você insiste em dizer que não existe. o fato é que você não me viu. como vinhamos fazendo há bastante tempo.

quando eu te vi, há pouco, nessa segunda vez que quase não houve, eu te enxerguei. e disse olá. e disse como vai. e disse vamos ao cinema. você pensava em outras coisas. em outra garota pouco importante. talvez ela fosse muito importante. pelo menos naquele instante em que você relutou um pouco em me enxergar.

quando eu insisti você aceitou. e me viu e me encontrou e não percebeu. ou percebeu. mas a garota pouco importante ainda era bastante naquele terceiro ou quarto instante. e de novo você relutou. mas eu falava de amor e de cigarros. sem ana, blues. eu bebia cerveja e achava bonitinho você dizer que o seu copo pequeno era copo pra tomar toddy. e eu te ouvi também falar sobre amor blues avenca cigarros. brasas de cigarro. e um pouco depois, já quase no fim daquele terceiro ou quarto instante você deve ter percebido que a garota não era importante o bastante e parou de me ouvir e me olhou. e parou de falar e me olhou. e parou.

sim. eu te chamei pra vir até aqui. eu falei de caio fernando abreu. eu cheguei cada vez mais perto. eu te beijei quando você olhava pra minha boca. eu decretei que você ia pra casa comigo. eu te dei a mão e te trouxe por esse caminho que a gente percorre sempre. eu trepei com você por várias horas até o dia amanhecer. eu dormi de conchinha. sim. talvez eu tenha iniciado todo esse processo que agora a gente chama de namoro. que a agora a gente chama de amor. eu desencadeei.

mas se eu quis tudo isso assim foi porque naquele instante remoto você talvez não tenha conseguido olhar direito por causa da sua miopia e talvez você não conseguisse ver de longe que eu já esperava por você. eu só não sabia como você era nem que horas você ia chegar. e te procurei em outras pernas outras bocas outros sexos. e sem conseguir achar aquilo que eu sabia que haveria de vir. aquilo que eu sabia ser você. aquilo que precisava ser você pra mim. continuei buscando em todos esses outros lugares errados. e passei por bosques escuros e chuvas torrenciais e reinos ainda mais cinzas e mais distantes do que este no qual se passa o nosso conto de fadas. e demorei tanto, todos esses anos, todos esses encontros furtivos. e demorei um lugar muito perto numa peça de teatro. e demorei uma segunda-feira na PUC. e demorei uma sexta-feira no wonka. e demorei noites em bares de gente incrivelmente moderna e chata.

e demorei e demorei. e você não percebeu que embaixo daquela camiseta do fluminense o meu coração batia apertado, perguntando "cadê?". e talvez você também não tenha percebido que. o teu coraçãozinho batia assim: "aqui. aqui." por isso quando eu cheguei em casa eu te liguei. porque pulsava em mim um cadê sem resposta. e de alguma maneira eu sabia, mesmo sem saber, que em você pulsava o sentido da minha pergunta. o sentido da minha afeição. e eu disse apenas boa noite. e havia naquele boa noite uma porção de sentidos ocultos. que só agora eu entendo.

você entende? os planos, vários.

cadê? cadê? cadê? cadê? cadê?
cadê você, porra?
eu estou sempre aqui. você sabe.

3 comentários:

flapjack disse...

admito, ela existe. ela sempre existiu e esse tempo todo longe foi por causa dela.
ela, que eu julgava não ser importante e que ainda julgo. talvez fosse muito importante e por isso eu não te enxerguei naquela segunda-feira de maio e também não te vi na outra vez no wonka e custei a te ver no cinema e também no vu.
sim, eu admito! ela! culpa dela! mas eu me redimi:

encontro com Jackson Barreto dia 23/09 às 12h00. especialidade: oftalmologia.

e acho que naquilo tudo havia desde o início uma porção de sentidos ocultos. que só agora entendo.

Felipe "Tito" Belão disse...

das bolhas de sabão ao estar sempre por perto... encontra-se tanto nesse meio tempo

camilla disse...

ah, e acho que você deveria terminar assim:

eu tô aqui, porra. rsrs

(L)