A tempestade passou... Não. Isso também é mentira.
Dentro de mim circula esse negócio que eu ainda não sei o que é. Como a fumaça do cigarro que carrega mais de quatro mil substâncias tóxicas que a gente nem sabe direito o que são. Interessa é que esse negócio, essa coisa. Ela circula. Talvez porque eu já tenha estado em vários estados diferentes e saiba mais ou menos quando. Quando.
Dentro de mim existem órgãos, veias, sangue. E essa coisa que eu ainda não sei direito o que é. Mais ou menos como as substâncias tóxicas contidas dentro de cada cigarro. Sim. Porque por agora tenho apenas essa impresão. De que "essa coisa que circula dentro de mim e eu ainda não sei bem o que é" é tóxica. Esse quando.
Não. Eu não fui tão maltratada assim. Não. Eu não fui aprisionada em nenhuma masmorra e forçada a tecer. Eu não passei fome. Eu não estive envolvida em nenhum desastre natural - exceto pela grande enchente de 83, em União da Vitória, mas mesmo assim eu estava dentro da barriga da minha mãe. Eu não fui maltratada o suficiente a ponto de desacreditar. Mas esse quando. Ele permanece. E permanece.
Talvez você tenha razão e essa coisa que percorre as minhas veias junto com o meu sangue. Essa coisa tóxica só exista em decorrência desses maltratozinhos bem pequenos. Tão pequenos que poderiam significar. Ou não. Talvez em decorrência daqueles vários outros quandos. Porque quando o quando aparece uma vez. Ou duas. Ou três. Inevitável achar que o quando vai aparecer outra vez. Com o perdão da rima pobre.
Sobre os quandos só se pode dizer que eles servem tanto para o passado quanto para o futuro. Embora quando faça parte do futuro do subjuntivo. Talvez não deste que eu tento escrever agora. Mas gramaticalmente assim é. E assim é que está.
Sobre os ques. Porque sempre além dos quando existem os "que" e os "se". Se está para o passado assim como quando está para o futuro. Que está para o presente assim como se está para o passado. Gramaticalmente assim está, se assim é.
Porque os quando já vieram. E vieram em bando. E por isso eu os espero sempre. Novamente. Uma vez após a outra. Inevitável que se procure um padrão na vida. Inevitável que se procure um padrão para qualquer coisa. Inclusive para o amor. Inevitável, mesmo que este de agora pareça, assim, tão melhor do que o de ontem. Tão melhor do que o da semana passada. Tão melhor do que todos os outros que já encontraram o seu quando. E que por isso não são mais futuro do subjuntivo. Só passado imperfeito mesmo. Como na frase: "eu te amava, sabe?"
Talvez eu tenha realmente sido maltratada demais. Apesar de nunca ter passado fome, nunca ter sido aprisionada em lugar nenhum, nunca ter sido obrigada a nada, nunca ter estado envolvida em um desastre natural. Talvez eu antecipe o quando. Só pra que eu possa ter o quando dessa vez. Ou da próxima. E por que não o padrão?
Porque dessa vez ninguém vai estragar as coisas na metade do caminho. Porque dessa vez apesar de todos os pesares o amor triunfará. Sim, porque dessa vez ele é tão mais bonito. Porque dessa vez o quando trará apenas continuações. Sem game over. O quando será sempre uma espera ansiosa. Quando eu te encontrar eu vou tal coisa. E o "tal coisa" só será substituído por coisas boas. Como margaridas e girassóis.
Então, não importa se você sente qualquer coisa pulsando, circulando, existindo nas suas veias além de sangue. Não importa, porque é só uma impressãozinha. Dessa vez é só uma impressão. E não se pode permitir que impressões destruam o concreto. Benefício da dúvida. Dúvida razoável. Essas coisas. Você já coloca mais de quatro mil substâncias tóxicas para circular aí todos os dias. Essa não. Por favor. Deixe de lado. Seja um pouco menos você. Fica tudo bem se você deixar você de lado. Só um pouquinho. Do contrário é bagagem demais. E daí podem haver quandos. Esses, não tão bons, quandos. Não importa.
Importa. O céu quase se abre...
Não. Isso também é mentira.
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Um comentário:
o começo e o fim me lembraram muito os dragões.
Não. Isso não é verdade.
o céu quase se fecha. Não. Isso também é mentira.
te amo.
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