A menina se encontra. Encontra-se. Sozinha. Mas não sabe. Não. Não sabe. Nunca.
Um cartaz. Em que se lê. Todo mundo quer ser encontrado. Encontra-se.
Uma estória simples. Uma menina que se encontra sozinha. Não. Ela quer ser encontrada. Sim. Está sozinha. Sim. Quer se encontrar. Quer ser encontrada. Então. Encontra-se. As estórias simples começam pelo começo. Como em "ah eu sou um cachorro veloz". Pelo começo. Mas esta estória parece simples. E todos sabem. Todos sabem desde sempre que parecer não necessariamente é. Parece que sim. A menina está sozinha e quer ser encontrada. Com os pulsos intactos. Quer ser encontrada e a frase termina aí. Ser. Encontrada. Isso tudo. Está. Isso tudo está nos olhos. Não nos de quem vê. Nos olhos. A menina. Encontra-se.
Uma resolução de ano novo?
Uma resolução de ano novo?
Sim. Todos precisam de uma resolução de ano novo.
Ok. Deixe-me ver. Deixe-me ver...
Rápido.
A resolução é assim: cinco mega pixel.
Você entende sobre arranque? Um motor. Um motor de arranque.
A menina está sozinha. Com tempo para cerveja e cigarro. E para se encontrar. Não. Isso já foi. Ela se encontrou e agora o que ela quer. Não se sabe. Uma pessoa. Ainda desfocada. A menina quer casar. Sempre quis. Não sabe mais se isso é uma coisa que quer realmente. Ou se é. Incutido. Sociedade. Entende? A menina quer ser encontrada por alguém que a entenda. Entendimento é diferente de percepção. E difere também de parecer. Para entender é preciso compartilhar. A menina quer alguém que a queira como ela é. A menina quer casar. Uma casa. Com dois ou três gatos. Dois ou três cachorros. Dois ou três filhos. Dois ou três filmes bons por semana. Dois ou três pequenos problemas por mês. Dois ou três séculos de promessa. A menina quer ser encontrada.
Sabe qual é o seu problema?
É hipotética?
Os planos. Alguém tem que ceder.
Eu gosto desse filme. Toca La Vie en Rose.
Não. A vida não é assim.
A menina acende um cigarro. Pensa. Solta a fumaça. E permanece. Permanecer é diferente de parecer e de percepção e de ser. Permanecer é.
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