O coração a teus pés. E você não o quis.
A menina não enxerga mais. Com os olhos.
A menina chorou por algum tempo. E vai continuar chorando. Por que? Bem, porque a vida é assim. Então ela tem os olhinhos inchados. E por isso. Justamente por isso não enxerga mais.
Durante um bocado de tempo a menina achou que seria o contrário. Que a sensação seria de alívio. Mas não. A sensação é bastante física. Como se alguém pegasse todos os órgãos - os maiores e os menores - da menina e torcesse. Com gosto. E deixasse todos eles ali, numa poça de gosma e sangue, no chão.
Você não pode pôr teu coração a meus pés. Mas eu posso colocar todo o resto de você. Tudo que você acredita ser. Isso eu posso. Tudo a meus pés. No chão. Porque não importa mais. E eu talvez nunca tenha me importado. Você. No chão.
A menina sente sangrar. E pensa que se um dia - não agora - resolvesse se matar, primeiro teria que raspar todo o cabelo da cabeça. É uma homenagem. E se mataria cortando os pulsos. Porque é mais bonito. Ouvindo Sigur Ròs. Mas agora é nítido. Sente sangrar. Como nunca antes. Sente a contração. De todos eles dentro de si. Cada célula dói. Sofre. E sempre exite um responsável.
Chega. Acabou.
A menina sabe que passa. Mas por agora não parece.
E volta a chorar.
Posso pôr meu coração a teus pés?
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