segunda-feira, 13 de julho de 2009

Não sei mais em que ato nós estamos e nem que peça é essa. Mas isso aqui tá mais parecendo o Inspetor Geral, dada a grande quantidade de personagens. Eu mesma nem sei mais quem é quem. Mas tenho a leve impressão que daqui pra frente já é o III Ato.

Um jazz, por favor!

Coltrane?

Pode ser.

Está decretado o fim eterno do carnaval.

Pode ser.

Toda vez que ela chorava eu voltava atrás.

Porque é burra.

É.

Mas esse já é o III Ato. Não é permitido falar sobre o passado.

Ah não?

Não.

Me desculpe.

Tudo bem... só não faça de novo, por favor.

Ok.

(silêncio)

E aí?

(silêncio)

Acho que eu não tenho nada pra dizer sobre o presente.

(silêncio)

Nem sobre o futuro.

(silêncio)

Acho que eu não tenho nada pra dizer.

(silêncio)

Quer falar dela?

Não. Tô bem assim, em silêncio.

Um jazz?

Por favor. Coltrane?

Pode ser.

(música)

Acho que essa é a pior coisa que você já escreveu.

Eu sei. Acho que eu escrevia melhor quando estava com ela, ou quando estava com raiva dela.

Pois é... aquela estória de zumbis era tão boa.

Ah, mas o Paul, o Zumbi apareceu antes dela reaparecer.

Mas tecnicamente é da época em que ela ainda estava presente.

Tecnicamente é. Mas eu inventei o Paul, O Zumbi pra outra garota.

Aí é que tá o problema. Você fica inventando estórias e personagens pras garotas por quem você se apaixona. É claro que uma hora ou outra a fonte ia secar. Porque uma hora ou outra você ia ter que não estar apaixonada ou sofrendo por alguém.

Eu sei.

Você só consegue produzir sentidos metafóricos através do sofrimento...

Eu sei.

E isso é terapia, não literatura.

Mas eu nunca disse que isso aqui era literatura. Isso aqui é, sim, sublimação.

Você adora esses sims e nãos entre vírgulas. Disso você podia desistir. Seria tão melhor...

Pára de usar reticências. Reticências me irritam.

Eu sei. É de propósito...

Pára!

Tá bom, eu paro. Mas só se você parar de usar tanta vírgula.

Ponto final pode?

Pode.

Deal.

Posso perguntar uma coisa?

Pode.

Você não acha que isso aqui beira à loucura?

Isso aqui o quê, exatamente?

(silêncio)

Eu nunca consigo diferenciar o que é diálogo do que é narração. E isso é bastante esquizofrênico. Mas nem eu sei direito o que é o quê. Agora, por exemplo, a única coisa que eu sei é que está frio. E é preciso esperar a primavera. Porque depois vem o verão. E todos os amores são de capricórnio. Pelo menos estes aqui. É que não dá pra começar a amar alguém nesse frio insano. Fica tudo congelado. Inclusive as mãos. E pra tocar alguém é preciso ter as mãos aquecidas.

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