segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Eu tenho uma casa feita de átrios. Uma casa feita de dois átrios. Eu tenho uma casa feita de ventrículos. Uma casa feita de dois ventrículos.

Foi assim.
Num dia 12 ou 13 de um mês frio, mas não tanto assim, eu comecei a construir essa que agora é minha casa de quatro compartimentos móveis. Móveis porque pulsam. A minha casa é uma coisa que pulsa. Eu comecei a construir a minha casa assim, meio sem saber no que ia dar. Deu em casa dividida. Em 4. Dois e dois. E a vida passando a valer a pena.

Se contássemos o dia 12 como o dia inicial da construção significava paixão. Se contássemos o dia 13 significava casamento. Decidi, pouco mais de um mês depois, contar os dois. Porque amor é assim. O tempo perde um pouco da sua significância. O espaço também. Tanto que se tornou possível para este lugar que agora chamo de casa ocupar o espaço de dois dias como marco de sua construção. E ocupar todos os espaços da casa interna que eu chamo de coração.

Na minha casa, além desses quatro compartimentos, existe uma janela. Dessa janela eu enxergo o sol se pôr. Esqueço a estética atual e falo sobre o amor. Dessa janela eu vejo a praia. Uma rede. Um café da manhã com morangos silvestres. Dois filhos. Um gato. Quem sabe um labrador. Dessa janela eu enxergo, não com os olhos, o que existe de mais doce no mundo.

Eu tenho uma casa. A casa mais bonita da história da humanidade. Eu tenho uma casa e nela cabem todos os meus sonhos, todas as minhas luas cheias com coelinho, o céu da minha cidade, uma praça com bancos brancos, um canteiro de margaridas.

Eu tenho uma casa. Com dois átrios e dois ventrículos. Com espaço-tempo completamente alterado. Com todos os meus sonhos. Eu tenho uma casa e ela cabe dentro de um guarda-chuva. Eu tenho uma casa invisível a olho nu. Mas ela é minha. E eu não escolheria outro lugar para morar.

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